(...) Os que crucificaram Nosso
Senhor Jesus Cristo não sabiam que suas crueldades, seu ódio cego e sua
implacável perfídia concorriam para o cumprimento das profecias referentes ao
Redentor.
Os inimigos hodiernos da doutrina
católica, incapazes (...), por uma corrupção intelectual e moral, (...) de
compreender a Igreja Católica, não percebem que todos os ataques que dirigem
contra esta constituem uma confirmação indireta da divindade de nossa Religião.
Efetivamente, a identidade entre a
História da Igreja e a da vida terrena de Nosso Senhor Jesus Cristo é frisante,
e atesta, de modo iniludível, que a Igreja é o próprio Corpo Místico do Divino
Redentor.
Nosso Senhor Jesus Cristo veio
derrotar o Príncipe das Trevas, e toda a Sua vida terrena foi uma luta triunfal
contra o demônio. Pois a este próprio Cristo alguns adversários tiveram a
audácia de chamar de agente de Satanás.
Assim também, toda a ação da
Igreja Católica nos séculos XIX e XX foi uma luta inflexível e heróica contra
os agentes da dissolução da civilização contemporânea: o liberalismo, o
socialismo, o comunismo e o internacionalismo. Como
inimiga desses abomináveis ideais, foi ela apontada à execração das massas, e
perseguida através de uma longa via dolorosa, que ficou cheia de sangue dos
mártires trucidados pelas esquerdas, desde os de l789 até os nossos dias. Pois
é essa mesma Igreja, que foi o único baluarte da humanidade contra a ação
diabólica da Revolução, que é hoje atacada pelas pretensas direitas, como
aliada do comunismo, do socialismo, do liberalismo e até do internacionalismo.
* * *
Estas reflexões nos vieram à mente
a propósito da campanha nacionalista que se está promovendo entre nós.
Em pleno apogeu do liberalismo,
quando os sonhadores republicanos de nossa Pátria imaginavam uma humanidade
futura em que todos os homens, livres e iguais, suprimissem todas as fronteiras
territoriais, unificando o mundo em uma imensa república (...), a Igreja é o
único ponto de resistência do verdadeiro nacionalismo. A República conheceu, é
certo, algumas campanhas de larga envergadura a favor do nacionalismo. Mas, em
geral, tratava-se de um nacionalismo de fachada, poético e declamatório, que
interessava durante algum tempo nossas “elites” displicentes, e que
desaparecia, depois, sem deixar vestígios. Na estagnação moral e intelectual da
1ª República, bem como no caos bolchevisante
da 2ª, não teve o internacionalismo de
sabor liberal e dissolvente um inimigo mais constante, mais assíduo, mais tenaz
e mais eficiente do que a Igreja Católica.
Efetivamente, de um lado a Igreja
pregava a legitimidade absoluta da existência de Pátrias nitidamente demarcadas
uma das outras, e sujeitas a governos soberanos. De outro lado, defendia ela a
moral católica, na qual se plasmou a verdadeira fisionomia mental de nosso
povo, e, nessa obra de preservação moral impedia ela que o Brasil se
desnacionalizasse inteiramente pela influência dos costumes modernos, da
mentalidade cinematográfica e desabusada do paganismo yankee, e do pedantismo
intelectual da cultura européia decadente. Finalmente, a Igreja reunia
pacientemente, laboriosamente, diligentemente, em todos os recantos do país, os
tesouros artísticos do nosso passado, conservando-os carinhosamente enquanto ninguém
com eles se importava. E isto de tal sorte que, se inegavelmente muitos
tesouros religiosos se perderam, ainda foi a Igreja quem conservou melhor as
relíquias do passado confiados à sua guarda. As que estavam sob a custódia do
estado desapareceram quase completamente. E o mesmo se deu com as que estavam
em mãos de particulares.
Não contente com tudo isto, a
Igreja ainda desenvolvia um ardente esforço missionário em nossas selvas, no
sentido de salvar as almas dos indígenas e de os incorporar à nossa
civilização, contribuindo, pois, de modo poderoso, para o desbravamento de
nosso mais profundo sertão, e concorrendo assim para dilatar os limites, se não
do Estado, que já estavam fixados, ao menos da civilização brasileira.
* * *
Enquanto agia assim a Igreja, o
que fazia o Poder Temporal?
Despreocupado com os legítimos
interesses do povo, admitia ele, sem critério nem discernimento, imigrantes
provenientes de todas as partes do globo, com a exclusiva preocupação de
explorar quanto antes as riquezas de nosso solo e de nosso subsolo. Os erros
evidentes dessa política imigratória tumultuária, que arrebanhava sofregamente
elementos estrangeiros para os atirar no sertão, foram evidentes. Desde hindus
até lituanos, desde bessarábios até japoneses, tudo
foi importado sem discernimento nem prudência, o que ocasionou a formação de
problemas étnicos com que o Estado não se preocupava. O resultado foi que, se
por um lado alguns elementos como os lituanos se mostravam francamente
aproveitáveis, outros, como os bessarábios, só nos
deram dissabores e desilusões, forçando nosso governo a recambiá-los para o
exterior, com graves prejuízos para nossa economia.
Finalmente, o Estado, não contente
em transformar o Brasil em uma nova Babel, permitiu que os estrangeiros assim importados
se fixassem em densíssimos núcleos que se
transformariam, não raramente, em verdadeiros pontos de desintegração do
território nacional.
* * *
Isto posto, não é possível deixar
de elogiar a precaução com que elementos de alta projeção na vida política da
3ª República têm empreendido uma vigorosa campanha de nacionalização no Brasil.
Essa campanha, desde que saiba fugir sistematicamente aos pruridos de
jacobinismo que poderiam torná-la menos razoável, deverá ser apoiada pelos
católicos com todas as suas forças. E isto não apenas porque o católico deve
ser bom cidadão, mas por que, em via de regra, com as infiltrações políticas
dos estrangeiros se formam freqüentemente infiltrações ideológicas totalitárias
e pagãs que o Brasil deve repelir com a última e mais extrema energia.
Penso que ninguém, exceto se tiver
perdido inteiramente o bom senso, poderá duvidar de que as autoridades
constituídas não encontrarão, no Brasil, apoio mais firme e mais seguro para
uma campanha de nacionalização sadia e expurgada de pruridos de jacobinismo do
que a Igreja Católica.
* * *
À vista de tal situação, como não
deplorar profundamente que certos elementos pescadores em águas turvas se
empenhem sistematicamente em criar em torno da Igreja, a respeito da campanha
de nacionalização, um ambiente de suspicácia e hostilidade?
Concedamos, para efeito de
argumentação, que, na aldeola A ou no vilarejo X um ou outro elemento
estrangeiro integrado na fileiras católicas tenha uma atitude pouco simpática à
campanha da nacionalização. Nesta hipótese, nada há de mais fácil do que levar
o caso, respeitosamente, ao conhecimento do Bispo a que esteja subordinada a
aldeola, pedindo-lhe que tome as providências que sua sabedoria inspirar. E
dentro em pouco, qualquer incorreção terá cessado inteiramente.
Ao contrário disto, o que procuram
fazer certos elementos? Publicam nos grandes órgãos diários manchetes
escandalosas: “O Pe. X é contra as leis de nacionalização”, segue-se a este
título uma longa reportagem que, sob pretexto de atingir apenas o Clero
estrangeiro, fere, na realidade, a própria Igreja Católica.
E, ao cabo de algumas reportagens
desse gênero, a Igreja Católica, que é o mais sólido esteio que o governo e as
classes armadas podem encontrar na luta contra a desnacionalização do País,
começa a figurar aos olhos dos leitores como um agente de desintegração da
unidade nacional e um perigo para nossa soberania.
Não é bem o caso de Cristo,
acusado como instrumento de Satanás?
* * *
O que é mais curioso é que satanás
não tinha melhores amigos do que os (...) que acusavam o Divino Redentor de
servir o demônio.
É o que acontece entre nós. O
verdadeiro patriotismo não tem pior inimigo do que certo nacionalismo
anticlerical que começa a se delinear com uma insistência cada vez maior.
Efetivamente, o que pode ser,
principalmente no Brasil, um nacionalismo anticatólico?
Ninguém poderá deixar de reconhecer que tal nacionalismo seria uma macaqueação
ridícula do nazismo. E que, sob pretexto de fazer propaganda antinazista e antitotalitária,
tal nacionalismo arvoraria as doutrinas nazistas à altura de credo político
oficial do Brasil. De sorte que o Brasil se tornaria oficialmente uma sucursal
ideológica de Berlim, e, para o cúmulo de nossa desgraça, teríamos sido
cruelmente ludibriados no nosso anseio para a formação de um Brasil
autenticamente brasileiro. O século XIX fez do Brasil intelectual uma sucursal
da Europa liberal. O século XX faria de nós escravos espirituais da Europa
totalitária. E nada mais...