Normalmente, os livros enviados à redação do
“Legionário” são comentados pela seção “Letras Nacionais e Estrangeiras”. Nesta
semana, porém, chegou-nos às mãos um livro de importância tão capital, que fiz
questão de lhe consagrar o artigo de fundo do número de hoje. Trata-se do
“Diretório Protestante no Brasil”, de autoria do Rev.mo Pe. Agnelo
Rossi. Esse livro, se é importante pela matéria de que trata, é
sobretudo notável e excede de muito a importância de uma obra literária
qualquer, para constituir a abertura de um capítulo novo na esfera do
apostolado.
O “Diretório Protestante” é um relatório minucioso e luminosamente concreto sobre
a atividade reformista no Brasil. Para se ter uma idéia da largueza de visão
com que a obra foi concebida e realizada, um rápido sumário bastará.
a) histórico das investidas protestantes de Villegaignon dos holandeses, com
um sucinto porém impressionante relato das perseguições sangrentas dos hereges
contra os católicos; é ótimo este histórico para desmascarar a tolerância
adocicada com que habilmente se apresenta hoje a propaganda protestante;
b) histórico dos esforços cada vez mais desabridos
do protestantismo no Brasil, desde que nossas leis lhe concederam alguma
liberdade de proselitismo; é ótimo para mostrar qual é o termo final de certas
liberdades que alguns católicos ingenuamente aplaudem;
c) a organização do esforço protestante
missionário, feito mediante a íntima colaboração das seitas as mais hostis
entre si, para o combate à Santa Igreja; verificação altamente concludente para
provar que a estrutura da mentalidade protestante consiste muito mais no ódio à
Igreja Católica do que na crença positiva em alguns pontos de Fé, que eles de
boa vontade abandonam, quando se trata de passar sobre divergências intestinas, a fim de combater o catolicismo;
d) magnífica enumeração de todas as sociedades missionárias,
sociedades de ensino, de divulgação bíblica, de filantropia e de educação
física, mantida pelos protestantes no Brasil;
e) enumeração de todas as seitas que operam no
Brasil, e de suas doutrinas, seguida de uma indicação sumária dos argumentos
que se lhe podem opor. Esta parte constitui um excelente manual de consulta
para todos os católicos que tenham de refutar os erros protestantes.
Como se vê, a obra do Pe. Agnelo
Rossi constitui um conjunto esplêndido, que abrange
sob todos os pontos de vista o problema do combate ao protestantismo, de tal
maneira que se pode ser considerada como um apêndice inseparável da estupenda
obra do Pe. Leonel Franca, SJ. Porque, se a obra do Pe. Franca é uma verdadeira Summa doutrinária contra o protestantismo, a obra do Pe. Agnelo Rossi habilita os
católicos a constituírem em torno do protestantismo uma insuperável “Linha Sigfried” ou “Linha Maginot”, que
lhes barre o caminho na ordem concreta dos fatos. A obra definitiva e
insuperável do Pe. Franca no terreno doutrinário, e a obra do Pe. A. Rossi no terreno da ação concreta, são ambas
indispensáveis. O Pe. A. Rossi se revelou, em toda a
linha, um esplêndido cooperador que faz honra ao seu ilustre e insigne mestre,
o Pe. Camilo Crivelli, SJ, autor do estupendo “Diretório Protestante na América
Latina”.
* * *
Eu disse, inicialmente, que a obra do Pe. Rossi abre um capítulo novo nas nossas atividades
apostólicas. E temo sempre o alheiamento em que
grande número de católicos e, por quê
não dizê-lo?, a maioria deles vive em nossos dias. Dedicados não raramente até
o heroísmo, exemplarmente disciplinados, de uma ortodoxia irrepreensível, seu
apostolado teria todos os elementos para surtir efeito, porque Deus não recusa
suas bênçãos às sementes apostólicas lançadas com tal pureza de intenções. No
entanto, Deus quer nossa cooperação em toda a linha. E, infelizmente, se a
cooperação dos católicos nos planos de Deus tem sido generosa e até exuberante
em muitos campos, ela tem claudicado francamente no que diz respeito ao
conhecimento das condições concretas do meio em que vivemos. Entretanto, a
essas condições o apostolado se deverá adequar, se quiser ser fecundo. Para que
se veja que não vai aí apenas uma opinião desenvolvida a esse respeito pelo Pe.
Dabin, SJ, quando fez em São Paulo uma série de conferências
sobre a Ação Católica. Não se fartou, então o insigne jesuíta, em mostrar que,
sem um conhecimento perfeitamente exato do ambiente, conhecimento este haurido
através dos meios mais técnicos e mais modernos de estatística, dos inquéritos
e da pesquisa, não é possível desenvolver com proveito o esforço apostólico.
Ora, o certo é que, a respeito de nossos principais
problemas, esse conhecimento ainda é imperfeito. Para prová-lo, citemos algumas
questões das quais dificilmente se daria resposta.
a) qual a porcentagem dos católicos que, em São
Paulo, assistem a missa dominical? Essa porcentagem é a mesma para a missa de
preceito nos dias santificados? Em caso negativo, por quê?
b) quais, em São Paulo, os principais obstáculos
para a penetração da influência católica nos altos círculos sociais, bem como
nos meios operários? Quais os modos concretos de se superarem esses obstáculos,
aliás tão diversos em cada um desses meios? Quais os preconceitos a vencer?
c) o que se deve dizer da instrução religiosa
existente nos círculos católicos? Conhecem todos, devidamente, a doutrina que
professam? E nos círculos afastados da Igreja?
d) qual o número, em São Paulo, dos espíritas, dos
maçons, dos cismáticos, dos budistas (em São Paulo há 200.000 japoneses:
quantos deles são católicos)? Quais seus meios de propaganda? Quais os seus
focos de irradiação? O que dizer-se sobre a atual situação da propaganda
comunista? E da propagada nazista? Onde é ela mais intensa? Como se desenvolve?
Quais os ambientes em que medra mais facilmente? Por que?
Podemos afirmar que são pouquíssimos os trabalhos
sérios e metódicos de católicos a respeito dessas questões vitais.
Inegavelmente, a obra do Rev.mo Pe. Rossi é o trabalho mais sério, mais documentado e mais
profundo que possuímos, sobre o protestantismo, uma das inúmeras pragas
religiosas que assolam em nossos dias a Terra de Santa Cruz. E, sob esse ponto
de vista, constitui ele uma luminosa inovação. Queira Deus que seu autor se
dedique inteiramente a esse gênero de trabalhos. Será impossível dizer o quanto
a Igreja e a Pátria com isto lucrariam.
* * *
Para documentar a sincera exuberância de nossas
palavras, bastará que mencionemos alguns dados concretos.
O Pe. Rossi cita, em
ordem alfabética, mais de setecentos lugares onde existe, no Brasil, propaganda
protestante efetiva e metódica. Além disto, discrimina rigorosamente quais as
seitas operando em cada lugar, as instituições de propaganda por meio das quais
as seitas etc., e, nessa discriminação, desce aos mais minuciosos pormenores,
com uma inteligente compreensão da importância de cada qual. Além disso, estuda
ele, em capítulos especiais, as principais instituições protestantes, como o
famélico “Exército da Salvação” e as insidiosas “Associações Cristãs de Moços”,
sem falar em documentos interessantíssimos sobre o Mackenzie
College. Finalmente, para amordaçar a linguagem
confusa dos protestantes, vem um ótimo resumo da Encíclica “Immortalium
animos”, contra o pancristianismo.
Qual, no Brasil, o trabalho mais completo, mais
documentado, mais profundo e mais exato, sobre qualquer das inúmeras ofensivas anticatólicos que aqui se delineiam na sombra? Francamente,
não tenho a fortuna de o conhecer.
* * *
Não estranha, pois, que as bênçãos da Santa Igreja
desçam copiosas sobre tal trabalho, e que o grande pastor de almas que é S.
Ex.a Rev.ma o Sr. D. Francisco de Campos Barreto, Bispo de Campinas, tenha declarado que a obra do Pe. Rossi é “um grito de alarme patriótico e cheio de amor,
pelo triunfo da Fé, patenteando uma séria e perigosa infiltração protestante no
Brasil”.
Aliás, o insigne Côn. E. Salim, em prefácio à obra citada, narra um fato que prova como
a Santa Sé aplaude e julga conformes ao seu espírito trabalhos como esse. Conta
o Côn. Salim que o Santo Padre Pio XI, conversando certa vez com o Sr. Luiz Guimarães, embaixador brasileiro junto à Santa Sé, revelou a este
dados surpreendentes sobre a propaganda protestante no Brasil. Foram tão
precisas e tão exatas as indicações do Sumo Pontífice, que o diplomata
brasileiro se alarmou e pediu pormenores. O Santo Padre o encaminhou então à
Cúria Generalícia, onde deveria procurar o ilustre
Pe. Crivelli, autor do Diretório Protestante na
América Latina. E este, por sua vez, encaminhou o diplomata a um de seus
melhores alunos, e máximo cooperador na parte referente ao Brasil: este
cooperador era o próprio Pe. Agnelo Rossi, então seminarista.
A atenção dada pelo Santo Padre ao relatório do Pe.
Crivelli, atenção esta que chegou ao ponto de
impressionar nosso diplomata, não é o melhor elogio que as obras desse gênero
poderiam receber? Pois nessas obras se mostrou insigne o Pe. Rossi, cujo trabalho hoje assinalamos com fervorosa
admiração e afetuosa simpatia.