Legionário, N.º 335, 12 de fevereiro de 1939

 

7 DIAS EM REVISTA

Incontestavelmente, dos numerosos ramos da administração pública, aquela em que os católicos têm fatos mais auspiciosos a registrar é o Departamento de Serviço Social, confiado ao Sr. Dr. Sebastião Medeiros. Ainda há pouco, verificou-se ali uma nomeação digna de elogio, a do Sr. João Payão Luz, para o delicado cargo de Comissário Chefe do Serviço de Menores desta Capital, cargo esse que ficou assim confiado a excelentes mãos.

Hoje, temos a aplaudir calorosamente o recente decreto que oficializou a Escola de Serviço Social, fundado pelo Centro de Estudos e Ação Social. Essa Escola, que já tem prestado à causa do Serviço Social os mais inestimáveis serviços vê, assim, reconhecida por um belo gesto do Estado, a sua grande benemerência.

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Uma velha mania em se distinguir o fascismo do nazismo ainda encontra adeptos, apesar dos mais flagrantes desmentidos dados a esse erro tanto pelo Sr. Hitler quanto o Sr. Mussolini.

Quando o nazismo é atacado, desculpam-se os fascistas, distinguindo o fascismo do nazismo, à falta de melhores argumentos. Quando, ao contrário, é o fascismo o atacado, entram logo os nazistas a afirmarem que nazismo e fascismo não são a mesma coisa.

O Grande Conselho Fascista, porém, não pensa assim. Em sua reunião do começo do corrente mês, foi aprovada por unanimidade uma declaração em que se reafirma “a solidariedade política, ideal e militar, que unem as duas revoluções fascistas e nacional-socialista”.

Uma “solidariedade política, ideal (acentuamos bem esta grave palavra) e militar” é pura e simplesmente uma identidade perfeita entre as duas doutrinas. Mas, a lábia de muita gente é poderosa e, dentro em pouco, novamente os seus partidários estarão a distinguir fascismo e nazismo.

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A Itália concluiu um acordo comercial com a Rússia, e, segundo o “Manchester Guardian”, a Alemanha dispõe-se a dar aos comunistas um crédito industrial de 200 a 300 milhões de marcos em material bélico, enquanto que a Rússia lhe forneceria matérias-primas em troca.

Onde está o anticomunismo dos Srs. Hitler e Mussolini? Só se compreende essas gentilezas, se ambos julgam que tratados comerciais e fornecimento de material bélico são meios seguros de extinguir o comunismo na Rússia. Mas, como não fazemos aos Srs. Hitler e Mussolini a injúria de duvidar de suas inteligências, somos forçados a crer que o nazismo e o fascismo não são tão inimigos do comunismo como parecem.

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Um leitor do “Estado” enviou-lhe uma queixa sobre os bailes públicos que proliferam em São Paulo.

Esses bailes não tem nenhuma utilidade, sendo, pelo contrário, nocivos à moralidade de São Paulo, de forma que não se compreende a tolerância da polícia com esses antros.

Estamos de perfeito acordo com o reclamante do “Estado”, pois a polícia não tem nem sequer um motivo para conservá-los abertos.

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A polícia do Rio proibiu que a Casa dos Artistas conservasse Eugênia Álvaro Moreira na sua direção, por ter essa pessoa prontuário como comunista na polícia e ter sido devidamente processada, embora não tenha sido condenada.

Estamos de perfeito acordo com a polícia do Rio. Os processos do Tribunal de Segurança não visavam a punição de comunistas, e sim dos responsáveis pela revolução comunista de 1935. De forma que ser absolvida pelo Tribunal de Segurança não constitui em absoluto uma prova de que a Sra. Eugênia Moreira não é comunista, mas, quando muito, que não foi possível provar a sua participação na revolução de 1935.

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Um dos meios mais irritantes de que usam os americanos para dominar em toda a América sempre foi o protestantismo, que, sob a capa de uma religião, procura infiltrar-se nos nossos países com fito de imperialismo político.

Felizmente, nem todos os protestantes guardam sigilo a este respeito, e de vez em quando levanta-se um pastor contra a tirania dos pastores norte-americanos.

Há pouco, reuniu-se nesta Capital uma convenção da seita protestante “Batista Pereira”! e foi tal o domínio que os delegados americanos exerceram sobre o congresso, que um evangélico teve que protestar para pedir que as leis de nosso país fossem respeitadas.

Logo a seguir, um pastor brasileiro fez distribuir um folheto que punha às claras todo o mandonismo norte-americano dessa seita.

O Sr. Getúlio Vargas deve ter conhecimento desses fatos e impedir que elementos estrangeiros, através da seita batista brasileira, formem no Brasil um quisto tão odioso quanto os formados pelos fascistas e nazistas, e merecem, pois, toda a atenção da polícia.