Ressurgem
os ídolos do paganismo. Queimam-se em praça pública as imagens do culto
católico e agridem-se sacrilegamente os sacerdotes de
Deus. Procura-se dissolver a família pelo divórcio
Os últimos acontecimentos verificados na Áustria caracterizaram de
modo definitivo a verdadeira fisionomia espiritual do nazismo. Até há pouco
tempo, era lícito afirmar que só os ingênuos poderiam nutrir dúvidas sobre o
caráter essencialmente anti-religioso do nazismo. Hoje, nem aos ingênuos é
permitido alimentar ilusões. Só os mal intencionados, os traidores, e os
apóstatas podem negar a dolorosa realidade que temos diante dos olhos.
Esta história é longa e conhecida, mas merece ser
contada mais uma vez.
Vivendo em uma civilização baseada sobre os
princípios falsos e precários do liberalismo, os católicos alemães sentiam que
uma formidável crise ameaçava tragar a sociedade contemporânea. A dois passos
da fronteira alemã o incêndio contaminara a Rússia. Era preciso, a todo o
custo, salvar a civilização.
A esta altura aparece Hitler que, com uma
crítica aguda e inteligente do liberalismo, inaugura uma violenta campanha
anticomunista. Vendo nesta linha de conduta um largo campo para a cooperação
com o nacional-socialismo, muitos católicos aderiram
entusiasticamente a este, abandonando as fileiras do Partido Católico.
O grande erro estava feito. Por que não restaurar
ou remodelar o Partido Católico em lugar de desertar dele? Por que procurar em
uma bandeira não católica a salvação que só o Catolicismo pode dar?
A campanha anticomunista de Hitler ganha terreno, e
levanta barreiras sólidas contra a infiltração bolchevista. Cada vez mais
deliram de entusiasmo as hostes nazistas. O seu número cresce de dia para dia.
Ao mesmo tempo, o Episcopado Alemão condena o
nazismo. Realmente este, ao par de uma crítica excelente - copiada, aliás, da
Igreja - da sociedade contemporânea, apresenta idéias inteiramente opostas à
doutrina católica. E a Igreja não podia pactuar com a disseminação destes
erros.
Muitos católicos alemães desobedecem o Episcopado.
É outro erro fatal. Melhor seria seguir a orientação dos Bispos ainda que fosse
errada do que adotar, a despeito da opinião deles, uma atitude acertada.
Generaliza-se a opinião de que os Bispos alemães
foram precipitados. Melhor seria que se tivessem calado. Sua condenação irritou
o nazismo, e não contribuiu para corrigir os erros doutrinários deste. Se, em
lugar de condenar o hitlerismo, os Bispos tivessem
cooperado com ele, não teria sido melhor?
Insistentemente repetida esta censura, parece ela
ter encontrado guarida no espírito de S. Ema. o Cardeal-Arcebispo de
Viena, Prelado douto e virtuoso, mas que acompanhava os acontecimentos muito
mais de longe do que o Episcopado alemão.
Por isto, quando o Sr. Hitler invadiu a Áustria, o
Cardeal Innitzer, com a melhor das intenções, tentou uma política diversa
da de seus confrades alemães. Procurou, dando provas de uma simpatia inicial
franca ao nazismo, atraí-lo à Verdade pela Caridade.
Os elementos simpáticos à chamada “direita” bateram
palmas. O Sr. Hitler acedeu amavelmente à aproximação, e tanto eles quanto seus
lugar-tenentes prometeram tudo quanto os católicos desejavam. Realizou-se o
plebiscito. E, graças a esta aproximação imprevista, a votação a favor do “Anschluss” foi
grande.
A experiência do Cardeal-Arcebispo de Viena era de
molde a tirar a prova dos noves-fora quanto ao
nazismo. Se os nazistas fossem, como muita gente insinuava e Sua Eminência
parecia crer, bons rapazes tirados do sério pela intransigência prematura dos
Bispos Alemães, a atitude do Cardeal Innitzer era de
molde a estabelecer definitivamente a paz religiosa no III Reich. Se, pelo
contrário, a perseguição religiosa continuasse, estaria demonstrado que o
nazismo, animado de um ódio implacável e feroz à Igreja, não se deixaria
desarmar por nenhuma concessão, por nenhum gesto de simpatia, por nenhuma
atitude de benevolência.
O Cardeal Innitzer, com
sua atitude conciliatória, deu ao nazismo uma oportunidade sem igual para se
definir claramente.
Como veio essa definição?
Cessada a campanha eleitoral do plebiscito, e sem
que o Cardeal Innitzer desse a mínima razão ou
pretexto para isto, começou imediatamente a perseguição. Todas as promessas do
Sr. Hitler foram olvidadas e desmentidas. E todas as leis anticatólicas
do Reich se aplicaram à desditosa Áustria.
Divórcio, esterilização, fechamento de associações
católicas, de institutos religiosos e de jornais católicos, proibição de solenidades públicas, toda a onda, enfim, de leis anti-católicas se despejou sobre a Áustria como uma
avalanche.
A definição estava feita com a clareza das provas irretorquíveis. Não havia tolerância ou simpatia que
desarmasse o nazismo. Diante dele, só uma atitude era possível: a dos Bispos
alemães.
Foi o que compreendeu o Arcebispo de Viena. Chamado
até a véspera de apóstata pelos comunistas despeitados, o Prelado vienense, quando viu os direitos de Deus conspurcados e a
Santa Igreja perseguida como uma associação de malfeitores, enfrentou o nazismo
com uma energia sobre-humana. E publicou diversas resoluções que mostraram que,
se a História puder talvez afirmar,
futuramente, que sua política estava errada, não poderá jamais afirmar que suas
intenções não foram boas.
A tanta bondade como responderam os nazistas? Assaltaram
o Palácio cardinalício com exclamações sacrílegas: “Morra o cão preto Innitzer, morram os Padres, despedacemos Innitzer para que dele nada reste para o campo de
concentração”. Depois, atiraram por uma das janelas do palácio cardinalício um
Sacerdote septuagenário, que fraturou ambas as pernas. Não encontrando o
Cardeal, atiraram pela janela um enorme Crucifixo e um quadro da Mãe de
Misericórdia, queimando-os em praça pública. Tudo isto no meio de vociferações
sacrílegas e hostis, com morras à
Igreja, e sinistras ameaças contra os católicos.
A resposta estava dada. Os simpatizantes de Hitler
viam nele um paladino da civilização cristã. Seus adversários mostravam nele um
político cujas doutrinas conduziriam a uma situação concreta análoga ao
comunismo.
Os fatos deram razão aos segundos. Esse assalto,
esses morras, esse Crucifixo
queimado, esse quadro profanado, não lembram claramente as cenas de Barcelona?
Qual a diferença entre os nazistas que queimam imagens e agridem Sacerdotes na
Áustria aos bolchevistas que os queimam e agridem na Espanha?
Telegramas vieram dizendo que Hitler iria deplorar
publicamente os acontecimentos. Na realidade, não só não os deplorou até aqui,
mas toda a imprensa do Reich desencadeou tremenda campanha contra o Cardeal Innitzer. Ainda aí, portanto, as ilusões não teriam razão
de ser e foram implacavelmente esmagadas pelo discurso realizado anteontem pelo
representante imediato do Sr. Hitler em Viena, na qual esse funcionário da
imediata confiança do “Füehrer” produziu uma diatribe
comparável em furor anti-religioso aos piores discursos irradiados na emissora
de Moscou.
De tantos frutos amargos, tiremos ao menos um
proveito. É a convicção de que, para o nazismo tanto quanto para o comunismo,
não há conciliação possível com a Igreja. Depois do que ocorreu na Áustria,
todas as ilusões seriam criminosas.
Para o nazismo e para o comunismo, só devemos
empregar uma tática - a luta aberta -, uma arma - a intransigência -, e um
recurso - a desconfiança.
No terreno das medidas humanas, não há outros meios
a indicar.
A juventude católica austríaca,
que vemos nesta fotografia, desfilando marcialmente
nos felizes tempos do governo Schuschnigg, foi um dos mais formidáveis obstáculos ao “Anschluss”. Hoje em dia, feita a deplorável anexação, continua ela
a ser o nervo da resistência. Foram estes bravos moços que reagiram, com o
risco de sua própria vida, contra os nazistas que, no Largo da Catedral de
Viena, pretendiam, há dias atrás, insultar o Cardeal Innitzer
e perturbar as festas do Rosário.
Praticadas contra o Arcebispo de
Viena as inomináveis violências que os jornais noticiaram, foram os jovens
católicos de Viena que se incumbiram, ainda com o risco de sua própria vida, de
distribuir em toda a cidade de Viena boletins do Cardeal, apelando para que os
católicos resistissem à paganização. A polícia vienense nada percebeu. Proibiu aos jornais que publicassem
o apelo cardinalício, e pensou com isto que tinha tapado a boca aos católicos.
Na calada da noite, porém, centenas de jovens católicos percorreram toda a
cidade, e distribuíram a proclamação do Cardeal. E a Gestapo, a mais famosa e perspicaz das polícias do mundo, foi
“despistada” pela coragem e habilidade dos bravos moços.
Belo e proveitoso exemplo para os Jucistas, Jocistas e Congregados
do Brasil!