Tendo visto, no último artigo, a inteira
inconsistência ideológica da doutrina de Monroe,
vejamos agora quais devem ser nossas relações internacionais com os povos do
Continente, à luz da doutrina católica. Isto posto, estará implicitamente
definida a linha de conduta que, concretamente, deveremos assumir em relação
aos Estados Unidos.
Para um católico, o vínculo mais estreito que pode
unir os povos é o vínculo religioso. Nem a identidade de raça, idioma, costumes
e tradições históricas, nem vizinhança geográfica, nem qualquer outra
circunstância congênere pode competir em vigor, como meio de ligação ente os
povos, com o vínculo religioso.
Os povos católicos podem, a justo título, considerar-se
ligados ente si pela estreitíssima fraternidade que entre eles existe pela sua
filiação a uma mesma Mãe, que é a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Essa filiação, que não é apenas uma
ficção literária, mas uma palpitante realidade, cria para eles deveres ao mesmo
tempo dulcíssimos e gravíssimos, aos quais não poderiam faltar, sem
implicitamente apostatar de sua vocação religiosa e histórica.
Claro está que a cooperação de
todos os povos contra o malfeitor internacional, que é o nazismo, pode e deve
ser estabelecida por todos os povos do continente.
O primeiro dos deveres que têm os irmãos consiste
no recíproco auxílio que se devem prestar uns aos outros para cumprir
convenientemente seus deveres de filhos. O primeiro dos deveres dos povos
católicos é, pois, de se coadjuvarem no cumprimento de suas obrigações para com
sua Mãe comum, a Igreja. E um dos mais
graves dentre estes deveres é de propagar pelo mundo inteiro a Fé católica, e
de obstar, por todos os meios indicados pela justiça e pela caridade, a que a
heresia se alastre.
Os povos da América Latina estão, portanto, ligados
entre si pela mais suave e eficiente das fraternidades, que é sua condição de
filhos da Igreja. E, infelizmente, os países da América do Norte,
conservando-se na heresia, colocam-se à margem desta especialíssima
fraternidade, dessa verdadeira e autêntica liga religiosa das nações
latino-americanas, e assim permanecerão enquanto perseverarem no erro, tendo
apenas a seu benefício os direitos que os católicos devem dispensar a todos os
povos da Terra.
Falamos em “Liga das Nações Latino-Americanas”.
Realmente, se os governos latino-americanos tivessem consciência dos deveres
que lhes incumbem, verificariam que eles constituem uma autêntica “Liga das
Nações”, muito mais sólida, durável e razoável do que a artificialíssima
e aliás já agonizante Liga das Nações. Realmente, para que exista uma “Liga” ou
sociedade de Nações, bastará que existam o fim comum e uma autoridade que guie
a todos para a realização desse fim. Ora, o fim comum dos povos
latino-americanos é, antes de tudo, a preservação da Fé. Para este fim comum
existe a comum autoridade da santa Igreja (“para este fim comum”, acentuamos,
porque a Igreja nunca quereria chamar a si a “liderança” de qualquer grupo de
povos para fins que não fossem exclusivamente religiosos). Existe, pois, uma
“Sociedade” que corresponde a uma viva e profunda realidade sobrenatural e
social.
* * *
Isto posto, devemos lembrar que o recíproco
entendimento das nações latino-americanas é facilitado por outros fatores
ponderáveis, que caracterizaram ainda mais a unidade do grande bloco
latino-americano. Em primeiro lugar, a língua e a raça. Em segundo lugar, a
identidade das tradições históricas continentais e ibéricas. Em terceiro lugar,
a identidade dos problemas com que todas elas se defrontam atualmente.
Para um católico, o vínculo mais
estreito que pode unir os povos é o vínculo religioso. Nem identidade de raça,
idioma, costumes e tradições históricas, nem vizinhança geográfica, nem
qualquer outra circunstância congênere pode competir em vigor, como meio de
ligação entre os povos, com o vínculo religioso.
Ora, precisamente todas estas circunstâncias nos
separam da América do Norte. Não há identidade racial, nem de idioma, nem de
tradições históricas, nem de problemas atuais.
Se não fosse a caridade que nos deve ligar a todos
os povos da terra, poderíamos repetir até, a este propósito, o velho chavão:
“nada nos une, tudo nos separa”, exceto o istmo do Panamá... que eles foram os
primeiros a cortar.
* * *
Entretanto, para o grande fim comum das nações
latino-americanas, apresenta-se agora uma ocasião preciosa de cooperar com os
Estados Unidos, em uma obra que é de salvação para toda a civilização.
Já dissemos claramente, e repetimo-lo agora, que
reputamos o perigo da nazificação da América muito
menos remota do que aparentemente se manifesta.
Economicamente, as nações da América Latina precisam de
escoadouros para seus produtos. A Alemanha lhes oferece
mercados tentadores. E os mercados norte-americanos nos apresentam vantagens
cada vez mais problemáticas.
Entretanto, a Religião fica acima de tudo. Por
isto, somos de opinião que a cooperação da América Latina com os Estados Unidos
na tarefa de preservação do Continente contra a infecção
nazista é do maior alcance.
O nazismo pode ser equiparado, sob o ponto de vista
internacional, quase ao comunismo. E ainda assim este “quase” é muito
problemático. Isto posto, claro está que a cooperação de todos os povos contra
este malfeitor internacional pode e deve ser estabelecida por todos os povos do
Continente.
Nisto, e só nisto, se cifra a nossa cooperação.
Temos um inimigo comum: juntos, marchemos contra ele.