Logo depois de ter assaltado a Áustria, o Sr. Hitler decreta a
realização de um plebiscito no dia 10 de abril, encarregando de sua organização
a um Sr. Burckel, que ficou celebre com a “preparação” do famoso
plebiscito do Sarre.
Ora, quando Schuschnigg marcou o plebiscito
austríaco, a fim de que a Áustria pudesse manifestar a sua execração por
Hitler, os jornais alemães e os círculos nazistas, afirmavam que esse
plebiscito era ilegal, alegando:
1) que o prazo de 3 dias era muito curto para a
preparação do plebiscito;
2) que era impossível a derrota de Schuschnigg num plebiscito em que votantes declaravam
apenas sim ou não;
3) a idade mínima de 22 anos.
Vê-se agora claramente a razão da la censura. Acostumados a preparar os
plebiscitos com um mês de antecedência, a fim de que o Sr. Burckel
garanta a vitória nazista pela fraude e pela força, como aconteceu no Sarre e nos plebiscitos alemães, o curto prazo para o
plebiscito do Sr. Schuschnigg irritava os meios
nazistas, porque era uma garantia da sua honestidade.
A segunda razão é simplesmente irrisória. Na
Alemanha, desde que Hitler tomou conta do governo, nunca se votou de outra
forma, com agravante de que os votantes eram obrigados a dizer sim para evitar
a prisão.
A terceira era o resumo desesperado de quem se via
perdido, pois não existe país nenhum que não limite a idade dos votantes, sendo
esse limite, em geral, de 21 anos ou mais.
Quanto à afirmação nazista de que o Sr. Schuschnigg receava os votos da mocidade em geral simpática
ao nazismo, é absurda. A vigorosa reação dos universitários católicos de Viena,
que se apoderaram à viva força da Universidade dela expulsando os nazistas,
prova o contrário.
* * *
A agencia “Reuter”,
alemã, noticiou os preparativos para a recepção de Hitler, de maneira
bombástica e dizendo que Viena preparava a mais entusiástica recepção ao “füehrer” alemão.
No entanto, a notícia dos preparativos traiu-se,
pois conta que o comércio seria forçado a fechar-se, cessando o trabalho de
todas as fábricas a fim de que o povo austríaco pudesse comparecer à chegada de
Hitler. É um processo muito
vulgar de encher com espectadores ociosos as manifestações para as quais se
receia um fracasso.
* * *
Aliás, já que Hitler é tão idolatrado pelo povo
austríaco, por que manda ele buscar alemães para os colocar à frente dos
principais aparelhamentos administrativos da Áustria?
Assim é que foi encarregado de reorganizar o
partido nacional socialista austríaco, único partido na nova ordem de coisas, o
mesmo Sr. Burckel, do famoso plebiscito a se
realizar, e o chefe pagão da juventude alemã, Sr. Von
Schirach, para organizar a Juventude Hitleriana da Áustria. Para a polícia vienense
foram chamados de Berlim o Sr. Heinrich Himmler, chefe da famosa e inexorável Gestapo,
isto é a polícia do Reich; o Sr. Heydrich, chefe de polícia especial da proteção; o general Daluega, chefe de polícia da ordem e vários outros altos oficiais
da polícia alemã.
Além disso, esse homem tão amado do povo austríaco,
além de todas essas cautelas, ainda manda esperá-lo em Viena 300 homens para a
sua proteção pessoal.
E não se sabe porque a Áustria que, segundo os
nazistas, ansiava pela chegada de Hitler, foi invadida por 135.000 soldados
alemães.
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Seguindo à risca a sua política de perseguição à
Igreja, Hitler entre os seus primeiros atos mandou prender o Arcebispo de Salsburgo, Primaz da Áustria, e de Linz,
dissolveu as juventudes católicas, obrigando a seus membros a ingressarem na
juventude hitlerista que fundou, entregando a sua
direção ao Sr. Von Schirach, que, como dissemos, é ferrenho inimigo do Catolicismo.
* * *
No seu discurso de despedida o Sr. Schuschnigg declarou que cedia ante a força e que o governo
alemão havia enviado um ultimatum
ao Presidente Miklas.
A Agência
oficial nazista apressou-se a desmentir o Sr. Schuschnigg,
afirmando que o governo alemão não enviou nenhum ultimatum à Áustria.
O desenrolar dos acontecimentos veio demonstrar
cabalmente a falta de seriedade das
agências oficiais alemãs.
Aliás, o próprio Hitler em sua carta a Mussolini encarrega-se de
desmentir-se, quando depois de numerosas inverdades
para justificar o seu vandalismo diz:
“Desde anteontem este país caminha cada vez mais
para a anarquia. Com a minha responsabilidade de “füehrer”
e de chanceler do Reich e como filho desterrado não posso assistir inerte por
mais tempo ao desenrolar desses acontecimentos”. O que implica na afirmação de
que rompeu a “inércia” e interveio claramente na Áustria. Em que sentido?
Impondo ao Sr. Schuschnigg que ficasse? Evidentemente
não, mas impondo-lhe que saísse.
* * *
“Se a Divina Providência um dia me chamou desta
cidade, para presidir o Reich alemão, então me deve ter também confiado a
missão de hoje”.
Quem vê esse trecho isolado não poderia imaginar
que tivesse sido pronunciado em Linz por esse
perseguidor da Igreja, e que pretende
construir contra Deus uma nova religião.
O fato é que, antigamente, quando o ateísmo era de
bom tom para qualquer político de destaque, o simples fato de um homem político
pronunciar em discurso o nome de Deus já era uma garantia de sua fé.
Hoje, na época do ateísmo disfarçado, os homens
públicos falam freqüentemente em Deus nos discursos, para que depois possam
apunhalar mais facilmente pelas costas a sua Igreja.
Sirva-nos isto de lição no Brasil.
* * *
Não comentamos os discursos de Hitler nem a sua
carta à Mussolini, pois constituem um tecido de inverdades
que nelas ninguém acredita.
Voltaire, se ressuscitasse,
teria o desprazer de ver que o nazismo desmentiu a única frase verdadeira que
pronunciou: “Mente, mente, que alguma coisa há de ficar”. As mentiras nazistas
estão tão desacreditadas que, depois, delas nada fica.
* * *
Os governos de Paris e Londres enviaram “enérgicos”
protestos ao governo nazista. Este desprezou-os, não admitindo que potência
estrangeira nenhuma relembrasse o seu gesto escandaloso.
A ridícula “energia” desses protestos encobre na realidade toda a
impotência e a covardia cegueira dos atuais dirigentes da França e da
Inglaterra, que souberam fornecer recursos aos comunistas espanhóis e
entregaram às feras os católicos
austríacos. A nota mais triste desses últimos acontecimentos foi dada
pelo Sr. Seyss Inquart.
Traidor da Áustria e de Schuschnigg,
ele nem teve sequer um vislumbre de arrependimento. Em Linz,
ao receber o Sr. Hitler, teve ainda a suprema coragem de declarar “chegamos ao início de uma nova era: a era do
“füehrer Adolph Hitler”.
* * *
Quase todos os leaders do povo austríaco estão
presos. E o governo alemão, com a maior desfaçatez, pretende justificar essas
prisões taxando-as de “protetoras”. Eles, porém, não pediram essa “proteção” e,
apesar de conhecerem perfeitamente os nazistas, não saíram da Áustria.
Compare-se essa atitude com as medidas de segurança tomadas por Hitler com relação a sua pessoa, e se verá quem representava verdadeiramente a vontade da Áustria.