No limiar de 1938, o Estado brasileiro tem abertas
diante de si largas perspectivas, e se defronta com uma imensa tarefa a
realizar. Colocados na soleira deste ano novo, procuremos divisar, à vista das
circunstâncias presentes, o que 1938 nos promete? Que a Providência Divina, que
tem desígnios secretos e altíssimos, superiores a todas as previsões humanas,
confirme nossas esperanças e dissipe nossos receios.
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Intencionalmente ou não - preferimos crer que não -
certos apologistas do atual regime estão criando para ele os mais sérios
embaraços. A censura teria largo campo de ação se, ampliando o âmbito de suas
atuais preocupações, ela não se limitasse a analisar os artigos ou notícias de
caráter francamente hostil ou tendencioso, mas lançasse seus olhos para certos
amigos ursos que, sob pretexto de elogiar o atual estado de coisas, criam ou
ameaçam criar para ele sérias prevenções em alguns setores da opinião.
Entre outros erros deste estilo, basta-nos
apresentar os pseudo-elogios ou os conselhos
capciosos que tendem a acentuar a analogia entre o novo Estado brasileiro e o
III Reich.
As recentes e solenes afirmações do Santo Padre,
que não fizeram senão corroborar a magistral Encíclica “Mit
Brennender Sorge” contra o nazismo, tornaram claro e muito claro que há uma
incompatibilidade insanável entre a filosofia nazista e a doutrina católica.
Logo, dizer que o Estado novo do Brasil deve adotar os
métodos, a mentalidade e até a doutrina estatolátrica
do nazismo é afirmar que o Estado brasileiro deve se colocar em oposição à
Igreja abrindo uma funda crise religiosa no Brasil.
Se acrescentarmos a isto que os jornalistas que
afinam por este diapasão gostam de se dar ares de porta-vozes oficiosos do
Governo, teremos reunidos os elementos necessários para criar, aos espíritos
desprevenidos contra certas artimanhas jornalísticas, um ambiente de penosa
apreensão.
Estamos na obrigação de não crer que tais
declarações ou conselhos emanem de outra fonte senão da cabeça dos jornalistas
que os subscrevem. Dos discursos oficiais, das entrevistas ou declarações de
origem nitidamente governamental, ou das leis até aqui promulgadas, nada se
pode inferir que constitua ameaça de uma orientação má do Governo a este
respeito.
No limiar de 1938, formulamos os mais positivos,
claros e categóricos votos de que o Estado Novo brasileiro seja não apenas
diverso, mas exatamente oposto do Estado hitlerista,
primando no respeito ao pensamento católico e ao repúdio iniludível de qualquer
veleidade de idolatria do Estado, sem prejuízo, é claro, das características
próprias a um Estado anti-liberal.
* * *
Uma larga e favorável expectativa se abre para o
país no tocante ao comunismo. O Estado Novo está aparelhado de todos os
elementos possíveis para conter qualquer infiltração comunista no Brasil. A
este respeito, o Chefe da Nação, tão justamente célebre pela complexidade de
seus lances políticos, foi a 10 de novembro de uma clareza total. Ele assumiu a
plenitude da autoridade, enquanto não se der o plebiscito a que alude a
Constituição. E, implícita e deliberadamente, assumiu
também a plenitude da responsabilidade em matéria de repressão ao comunismo. Dotado como está de todos os recursos necessários, S.
Ex.a assumiu as duras e graves obrigações da posição de campeão do
anticomunismo em que se colocou. Estamos, pois, no dever de esperar que em 1938
a repressão anticomunista seja, no Brasil, pertinaz, inflexível, coerente,
minuciosa e enérgica como pode e deve ser em um Estado forte. É este o serviço
máximo que o Brasil espera do regime. E este serviço, o regime o pode prestar.
Ao par da eliminação deste perigo externo da maior
gravidade, os brasileiros também devem esperar em atitude de expectativa
simpática a dissolução de todos os partidos políticos estrangeiros, tão
favoravelmente iniciada pelo Sr. Chefe de Polícia do Rio Grande do Sul. (...)
* * *
Finalmente, o Brasil espera, para 1938, uma
política exterior análoga à que tem seguido até aqui.
É óbvio que os dois grandes blocos políticos em que
se divide o mundo contemporâneo procuram arrastar toda a América, e portanto
também o Brasil, a uma posição e uma participação ativa em uma eventual guerra
mundial.
No cataclisma universal
de um conflito, a América precisa ser o refúgio da civilização, o oásis da paz
sobre o qual possa apoiar-se a humanidade cambaleante.
Qualquer política brasileira só pode ser desenvolvida neste sentido. Para o
Brasil, nada de “eixos” nem de “triângulos”. Diz-se que a “América é para os
americanos”. Melhor ainda dizer que o Brasil é para os brasileiros e só para
eles.
Estas são as esperanças que alimentamos e os votos
que formulamos à bondade divina, neste limiar de um ano e de um Estado novos.