Legionário, N.o 262, 19 de setembro de 1937

O dever do momento

Era  intenção do autor destas linhas comentar, hoje, o impressionante e magnífico livro com que Paulo Setúbal, post mortem, presenteou o Brasil. Mas um documento humano tão importante não poderia ser objeto de comentários como o de hoje, escrito de afogadilho, ao cabo de um longo dia de trabalho. Ficará para o próximo número.

Queremos, hoje, comentar rapidamente as decisões de nossa suprema corte militar, a respeito dos acusados que haviam sido condenados pelo Tribunal de Segurança Nacional.

 

Não comentamos as decisões do Poder Judiciário, mas devemos remediar a situação de fato por elas criada.

 

Não haveríamos de ser nós, católicos, que tomaríamos a iniciativa de infringir a norma tradicional de nossa imprensa, que consiste em nunca atacar os órgãos do Poder Judiciário que, em vista da nobreza de suas atribuições, deve pairar acima de qualquer discussão pública. Se os ministros que compõem o Tribunal entenderam de absolver o Sr. Pedro Ernesto, devemos crer, oficialmente, que tiveram para isto razões poderosas, conquanto também devamos crer que não menos poderosas tenham sido as razões pelas quais os componentes do Tribunal de Segurança Nacional condenaram o mesmo político. Não queremos fazer a fácil manobra de confrontar as sentenças contraditórias dos dois órgãos judiciários. Em terreno tão delicado, mais nos agrada silenciar.

* * *

Isto não importa, porém, em que cruzemos os braços. Estamos diante de um fato consumado, que só os cegos não poderão ver. E este fato é de tal gravidade que exige providências.

Qualquer indivíduo que não tenha renunciado ao normal exercício de suas funções intelectuais percebe que o Judiciário, por esta ou aquela razão que não convém indagar, secundado pelo Executivo, houve por bem por em liberdade um verdadeiro bando.... [erro tipográfico, faltam algumas linhas] mas contra os quais não se teriam encontrado provas suficientes.

Não espanta, aliás, que tal se tenha dado, porquanto é inegável que muitos comunistas tiveram o cuidado de não deixar rastro de sua atividade subversiva.

Agora, toda essa gente está em liberdade e, inevitavelmente, vai começar novamente a agir. “Começar”, aliás, é inexato. O trabalho já vai adiantado. E agora é urgente que se tomem as providências necessárias para contrariá-lo.

 

Denunciamos os falsos pregoeiros da democracia, que querem atirar o Brasil no abismo das lutas sociais

 

Ora, de todas as providências, nenhuma é tão urgente quanto o sistemático desmascaramento dos inúmeros indivíduos que, sob a capa de democracia, continuam a fazer propaganda de idéias extremistas.

Incontestavelmente, é possível fazer propaganda de princípios democráticos, sem com isto fazer direta ou indiretamente o jogo de Moscou. Mas é também incontestável que um grande número de indivíduos dá à palavra “democracia” um sentido especial, que oculta intuitos subversivos. Os partidários da democracia não comunista deveriam, em rigor, ser os primeiros a desmascarar essa manobra, pois que, mais do que ninguém, é a democracia que sai prejudicada com ela. O que presenciamos, entretanto, está muito longe disto. A maior parte dos políticos democráticos continua a aceitar a aliança suspeita de indivíduos que fazem da democracia um véu tênue com que encobrem suas tendências esquerdistas. Com isto, o povo começa a desconfiar da própria democracia. E contra as instituições vigentes se vai voltando grande parte dos elementos mais sadios da população.

Não temos procuração da democracia para  defendê-la. E nem sentimos desejo de imiscuir em questões de cunho meramente político o nosso jornal que é exclusivamente católico. Mas não deixa de ser oportuno assinalar nos numerosos católicos que, legitimamente, estão inscritos em partidos democráticos, a necessidade de desmascararem com energia maior os que abusam da palavra “democracia”.

Quanto a nós, como católicos, não nos preocupa senão a defesa do Brasil contra qualquer força da direita, da esquerda, ou do centro, capaz de afastá-lo do seu roteiro essencialmente católico.

E, portanto, achamos que devemos apontar ao público todos os indivíduos que ainda ontem andavam auxiliando a famosa Aliança Libertadora, e que hoje, disfarçando-se atrás de juras anticomunistas, se preparam na realidade para atirar o Brasil, novamente, no abismo das lutas sociais.

É o que, paulatinamente, pretendemos fazer, à medida que os fatos nos oferecerem oportunidade para tanto.