Era intenção
do autor destas linhas comentar, hoje, o impressionante e magnífico livro com
que Paulo Setúbal, post mortem,
presenteou o Brasil. Mas um documento humano tão importante não poderia ser
objeto de comentários como o de hoje, escrito de afogadilho, ao cabo de um
longo dia de trabalho. Ficará para o próximo número.
Queremos, hoje, comentar rapidamente as decisões de
nossa suprema corte militar, a respeito dos acusados que haviam sido condenados
pelo Tribunal de Segurança Nacional.
Não comentamos as decisões do Poder Judiciário, mas devemos remediar a
situação de fato por elas criada.
Não haveríamos de ser nós, católicos, que
tomaríamos a iniciativa de infringir a norma tradicional de nossa imprensa, que
consiste em nunca atacar os órgãos do Poder Judiciário que, em vista da nobreza
de suas atribuições, deve pairar acima de qualquer discussão pública. Se os
ministros que compõem o Tribunal entenderam de absolver o Sr. Pedro Ernesto,
devemos crer, oficialmente, que tiveram para isto razões poderosas, conquanto
também devamos crer que não menos poderosas tenham sido as razões pelas quais
os componentes do Tribunal de Segurança Nacional condenaram o mesmo político.
Não queremos fazer a fácil manobra de confrontar as sentenças contraditórias
dos dois órgãos judiciários. Em terreno tão delicado, mais nos agrada
silenciar.
* * *
Isto não importa, porém, em que cruzemos os braços.
Estamos diante de um fato consumado, que só os cegos não poderão ver. E este
fato é de tal gravidade que exige providências.
Qualquer indivíduo que não tenha renunciado ao
normal exercício de suas funções intelectuais percebe que o Judiciário, por
esta ou aquela razão que não convém indagar, secundado pelo Executivo, houve
por bem por em liberdade um verdadeiro bando.... [erro tipográfico, faltam
algumas linhas] mas contra os quais não se teriam encontrado provas
suficientes.
Não espanta, aliás, que tal se tenha dado,
porquanto é inegável que muitos comunistas tiveram o cuidado de não deixar
rastro de sua atividade subversiva.
Agora, toda essa gente está em liberdade e,
inevitavelmente, vai começar novamente a agir. “Começar”, aliás, é inexato. O
trabalho já vai adiantado. E agora é urgente que se tomem as providências
necessárias para contrariá-lo.
Denunciamos os falsos pregoeiros da democracia, que querem atirar o
Brasil no abismo das lutas sociais
Ora, de todas as providências, nenhuma é tão
urgente quanto o sistemático desmascaramento dos inúmeros indivíduos que, sob a
capa de democracia, continuam a fazer propaganda de idéias extremistas.
Incontestavelmente, é possível fazer propaganda de
princípios democráticos, sem com isto fazer direta ou indiretamente o jogo de
Moscou. Mas é também incontestável que um grande número de indivíduos dá à
palavra “democracia” um sentido especial, que oculta intuitos subversivos. Os
partidários da democracia não comunista deveriam, em rigor, ser os primeiros a
desmascarar essa manobra, pois que, mais do que ninguém, é a democracia que sai
prejudicada com ela. O que presenciamos, entretanto, está muito longe disto. A
maior parte dos políticos democráticos continua a aceitar a aliança suspeita de
indivíduos que fazem da democracia um véu tênue com que encobrem suas
tendências esquerdistas. Com isto, o povo começa a desconfiar da própria
democracia. E contra as instituições vigentes se vai voltando grande parte dos
elementos mais sadios da população.
Não temos procuração da democracia para defendê-la. E nem sentimos desejo de imiscuir
em questões de cunho meramente político o nosso jornal que é exclusivamente
católico. Mas não deixa de ser oportuno assinalar nos numerosos católicos que,
legitimamente, estão inscritos em partidos democráticos, a necessidade de
desmascararem com energia maior os que abusam da palavra “democracia”.
Quanto a nós, como católicos, não nos preocupa
senão a defesa do Brasil contra qualquer força da direita, da esquerda, ou do
centro, capaz de afastá-lo do seu roteiro essencialmente católico.
E, portanto, achamos que devemos
apontar ao público todos os indivíduos que ainda ontem andavam auxiliando a
famosa Aliança Libertadora, e que hoje, disfarçando-se atrás de juras
anticomunistas, se preparam na realidade para atirar o Brasil, novamente, no
abismo das lutas sociais.
É o que, paulatinamente, pretendemos fazer, à
medida que os fatos nos oferecerem oportunidade para tanto.