Plinio Corrêa de Oliveira
P A X
Legionário, N.º 258, 22 de agosto de 1937 |
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Aos católicos Brasileiros, e principalmente aqueles que souberam conservar-se fora e acima nas disputas partidárias, assiste no momento presente um dever imperioso, de cujo exato cumprimento dependerá, em grande parte, a solução da atual crise política. O que há de mais grave na atual situação política é o estado de espírito apreensivo e fantasioso que ela sugere. Do que, no momento, temos mais medo para o Brasil é o próprio medo com que muitos brasileiros encaram as dificuldades da hora presente. Nosso perigo mais iminente consiste no pessimismo e na exacerbação do espírito partidário.
Já nos referimos, em outro local desta folha, à campanha de boatos que, insistente e insidiosamente, se tem organizado para perturbar os espíritos. Some-se a esta campanha a natural apreensão despertada pelos fatos que são de domínio público, e compreender-se-á o nervosismo geral com que todos os cidadãos encaram a crise política que se formou em torno da sucessão presidencial. Esse nervosismo, por sua vez, aguça extraordinariamente as paixões partidárias, extremando as opiniões, e transformando em inimizades irreconciliáveis as mais inofensivas divergências. E, com tudo isto, a tarefa dos elementos interessados em perturbar a ordem e solapar os alicerces da Pátria lucram extraordinariamente. A tarefa dos católicos deve consistir em contrariar este manejo pérfido. No momento em que o boato tenta aumentar a inquietação do espírito, nossas palavras devem ser de um realismo sereno que, sem se transformar em um otimismo tolo, desminta as invencionices com que se procuram “aumentar a aflição dos aflitos”. E, principalmente, à vista das paixões partidárias que cada vez se avolumam mais e se tornam mais ácidas, os católicos devem ter uma linha de conduta superior, apontando a todos os brasileiros, de todos os credos políticos compatíveis com nossa civilização, o dever fundamental da hora presente, que consiste em manter a paz. A paz é, no momento atual, o modo de fazer guerra aos inimigos do Brasil. Por mais que se diga ou se escreva sobre a impotência da opinião pública no Brasil, é, incontestável que todas as nossas revoluções são precedidas de um movimento de opinião em que se procura preparar os espíritos para receber favoravelmente a futura guerra civil. Assim foi em 1922, em 1923, em 1930 e em 1932. Sem que o estado de espírito pré-revolucionário sature o ambiente, penetre nos quartéis, nas oficinas, nos lares, nos clubes burgueses, não é possível o sucesso da revolução. A simpatia do público, mesmo quando este se mantém alheio à luta armada, tem uma ação catalítica, um efeito de presença, que constitui um dos mais preciosos fatores de êxito, pela sua favorável repercussão sobre o moral da tropa armada. O Brasil é um país em que não se compreende a eclosão de um movimento revolucionário sem a coexistência dos dois fatores seguintes: concurso da força armada e a simpatia de uma parte da opinião pública. A perdurar o atual estado de espírito, em que o pessimismo ou a paixão partidária da massa é a nota dominante, o segundo fator estará constituído. E bastará que a política consiga envolver nas malhas de suas intrigas alguns militares de prestigio, para que se encontre o Brasil a dois passos da guerra civil. Parece-nos que só um cego não poderá ver o que afirmamos. Os católicos deverão demonstrar, pois, com muita insistência, que o nosso grave, o nosso mais temível perigo no momento atual é o próprio nervosismo com que consideramos as dificuldades em que nos debatemos, e a paixão partidária exagerada que este nervosismo inspira em nós. É essa ação apaziguadora, esclarecedora, orientadora, que os católicos devem desenvolver no momento presente. Porque eles, melhor do que ninguém, podem avaliar os prejuízos incalculáveis que a Igreja e a Pátria sofreriam se o espírito aventureiro de que alguns apaixonados transformassem o Brasil em uma nova Espanha. * * * Como estamos fartos de sofrer interpretações capciosas acerca do que escrevemos, não será inoportuno esclarecer, antes de terminar o artigo, que as censuras que ele contém se referem ao espírito partidário apenas nos seus excessos, e que estamos longe de afirmar que o entusiasmo partidário, por si só, é digno de censura. É tal a exacerbação de certas paixões, que esclarecimentos como este são sempre oportunos. |