“Buscai
primeiro que tudo o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais Vos será dado
de acréscimo”. S. Matheus
VI, 33.
Estamos seguramente informados de que, na última
reunião ordinária do Clero, S. Ex.a Rev.mo o Sr. Bispo Auxiliar transmitiu aos Rev.mos
Srs. Sacerdotes as instruções do Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano
acerca de sua conduta no atual momento político.
Começou S. Ex.a Rev.ma por fazer ler a magnífica
circular do Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo ao seu Clero, em 1934, quando a luta
partidária atingia seu auge, devido à proximidade das eleições. Lembrou Sua
Ex.a Rev.ma que essas magnificas palavras conservavam em 1937 toda a sua
atualidade, nada se lhes devendo acrescentar ou retirar.
Lembrou Sua Ex.a Rev.ma que as dificuldades
tormentosas da atual situação devem ser consideradas com o olhar sereno da Fé.
Por maiores que sejam as dificuldades que tenha de enfrentar, a Igreja não
precisa de “salvadores”,
bastando-lhe, em todas as emergências, seu Divino Salvador. A Igreja não
precisa de forças humanas que a salvem. Garantida sua indestrutibilidade
pela promessa divina, a Igreja não receia ser
deglutida pelas tormentas suscitadas
pelos homens ou pelo espírito das trevas. E sua vida, durante as maiores
perseguições, não é menos gloriosa do que quando floresce tranqüilamente à
sombra de regimes que lhe são favoráveis. Pelo contrário, a Igreja vive
esplendidamente sua vida, em nossos dias, sob o rigor das perseguições
religiosas no México, na Alemanha, na
Rússia e na Espanha. À vida da Igreja não são essenciais as suntuosas catedrais e os aparatos festivos das grandes
cerimonias litúrgicas. Sua finalidade consiste na santificação das almas. E
onde floresce o martírio sob o guante da perseguição, a Igreja produz seu fruto próprio, que é a santidade.
É falta de Fé, portanto, esperar de homens, de “messias”, a salvação de uma Igreja indestrutível por ser protegida
pelo único verdadeiro Messias, que é Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nestes termos, não há
razão para que as paixões se extremem em favor de um ou de outro campo
político. Só o que deve apaixonar os corações crentes é a Santa Igreja de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Os Rev.mos Sacerdotes,
portanto, não devem tomar posição a favor deste ou daquele partido político.
Pastores de almas, devem cuidar exclusivamente da salvação das almas, não
assumindo atitudes partidárias incompatíveis com o seu ministério.
Quanto às associações ou outras instituições
religiosas, vigoram para elas as mesmas determinações. Não podem tomar atitude
partidária de qualquer natureza, mantendo-se rigorosamente dentro de seu campo
religioso. Fica-lhes, também, terminantemente proibido subvencionar, sob
qualquer pretexto, qualquer corrente política, direta ou indiretamente.
Quanto aos membros de associações religiosas, já
filiados a correntes partidárias, podem conservar-se nelas, desde que em nada o
seu programa e a orientação de seus dirigentes contrarie a doutrina católica.
Finalmente, quanto ao membros de associações
religiosas ainda não inscritos em correntes partidárias, é muito louvável que
se mantenham livres de qualquer compromisso político, a fim de reservar
exclusivamente para a Igreja o seu voto, caso ele lhe seja necessário.
Sem dúvida nenhuma, não pretende a Igreja
imiscuir-se na política. Desde que, porém, essa venha a imiscuir-se em questões
de interesse para Religião, será conveniente que um grande contingente de
católicos sem compromissos políticos possa, a qualquer momento, tomar uma
atitude livre e eficiente.
Não é necessário acrescentar que essas diretrizes,
verdadeiro modelo de orientação política superior e esclarecida, através de
cuja extraordinária lucidez e oportunidade se reflete claramente a ação do
Espírito Santo, causaram em todos os presentes a mais justificada satisfação.
* * *
Estamos certos de que essa informação despertará,
no coração de inúmeros católicos, um verdadeiro júbilo. Pelo conhecimento muito
exato que todos, de todas as tendências da opinião católica da Arquidiocese,
estamos em condições de afirmar que há uma verdadeira multidão de católicos que
se sentiam angustiados pela falta de uma diretriz a seguir no atual momento.
Repugnava-lhes aceitar essa diretriz de lábios outros do que as da Autoridade
Eclesiástica, a única que autenticamente
tem o direito de invocar os interesses da Santa Igreja, para baixar
palavras de ordem aos fiéis. Por outro lado, percebiam eles nitidamente que
nossa situação pode tomar, de um momento para outro, rumos de tal maneira
imprevistos, que os mais sagrados interesses da Igreja e da civilização podem
vir a ser envolvidos pela luta que, de um extremo ao outro do País, se trava
atualmente no terreno político. Como agir? Qual o caminho do dever? Era esta a
pergunta angustiosa que aflorava a todos os lábios, à vista das tormentas que
rugem pela imprensa e na tribuna do Parlamento.
Graças a Deus, a diretriz veio. Ela veio clara,
superior, insofismável. Não proíbe aos católicos qualquer atitude política
incompatível com a doutrina da Igreja. Mas, aconselha aos mais dedicados, aos
que não se contentam em ser corretos mas querem ser perfeitos, que se abstenham
de compromissos, caso ainda não os tenham assumido.
Essa solução é perfeita. O católico modelar, que
dirige todas as suas ações no sentido de salvar as almas, deve desejar fazer de
seu voto um instrumento de apostolado, certíssimo de que, assim, atenderá de
modo perfeito aos mais fundamentais interesses da Pátria.
Ora, se é a salvação das almas e à defesa dos princípios
católicos da civilização que se quer utilizar do voto, o que de melhor, o que
de mais seguro, o que de mais perfeito, do que reservar este voto para uma
eventualidade em que o reclame a Autoridade estabelecida pelo Redentor para
salvar as almas e tutelar a civilização?
E se esse voto não for reclamado, não é com a mais
inteira tranqüilidade de consciência que o católico irá depositá-lo na urna de
acordo com suas preferencias políticas, certo de que cumpriu integralmente o
seu dever para com a Igreja?
“Um só é
o nosso partido: o dos Apóstolos, o partido de salvar almas” - PIO XI (alocução aos
bispos Italianos).
A diretriz comunicada pelo Ex.mo Rev.mo Sr. Bispo
Auxiliar não contentará, entretanto, tão somente os que tinham alguma
interrogação sobre a posição a assumir perante os partidos políticos. Ela
constitui também motivo de intenso júbilo para aqueles que assumiram
compromissos partidários com reta intenção.
Não há um único de nossos partidos políticos que
seja, sob o ponto de vista religioso, homogêneo. Todos tem, ao lado de
apreciável soma de católicos, numerosos espíritas, protestantes, etc. Todos
esses partidos, portanto, estão expostos ao perigo de uma influência contrária
à orientação da Igreja. Se os católicos se deixassem absorver em massa pelos
partidos políticos, e o ardor partidário viesse a amortecer neles o espírito de
dedicação irrestrita à Igreja, seria fácil aos maus elementos apossar-se dos
partidos e desorientá-los. Mas desde que haja, pairando acima das disputas
partidárias, uma massa eleitoral católica disciplinada, disposta a recusar seu
voto a qualquer partido mal orientado, e a dá-lo exclusivamente no sentido da
Igreja, os elementos nocivos que se encontram em todas as correntes perceberão
que devem respeitar a orientação de seus correligionários católicos, sob pena
de atraírem contra seu partido essa grande massa eleitoral extra-partidária.
Orientação como essas, seguras, eficientes, claras,
positivas, úteis, confortam os corações, dilatam as consciências e enchem todos
os católicos da maior confiança pelo destino da pátria.