Legionário, N.º 254, 25 de julho de 1937

Aos católicos que se contentam com pouco

A série de artigos que vínhamos escrevendo sobre a posição dos católicos perante a sucessão presidencial teve que sofrer uma ligeira interrupção para dar lugar a um editorial sobre a data de 16 de julho que convinha assinalar com um comentário especial. Hoje, porém, queremos retomar o fio das idéias que vínhamos expondo.

Mostramos, em artigos anteriores, que os católicos tem seis importantíssimos pontos a fazer respeitar por aqueles a quem confiarem seus votos nas próximas eleições. Estes pontos são:

1) repressão policial caridosa mas absolutamente enérgica e inflexível ao comunismo;

2) ensino religioso de, ao menos, uma hora por semana nas escolas públicas;

3) amplas garantias para o ensino particular de todos os graus, especialmente o universitário;

4) legislação que permita facilmente o funcionamento de sindicatos católicos;

5) assistência religiosa efetiva às classes armadas;

6) a aprovação de medidas que se façam necessárias para facilitar o aparecimento ou desenvolvimento da rádio católica e da imprensa católica, particularmente a diária.

Haverá talvez leitores que achem excessivamente longa a enumeração, e que se contentariam largamente com uma ou duas das seis conquistas que enumeramos.

Taxar-nos-ão eles, provavelmente, de que com muito menos do que isto a Igreja Católica já se deve sentir contentíssima.

Gostaríamos de poder pensar assim. Nossa missão se tornaria, por esta forma, muito mais suave. Poderíamos fazer o cômodo e fácil papel de “espíritos largos e tolerantes”. Os políticos, e principalmente os politiqueiros, nos aplaudiriam. Os católicos de meias tintas também. Isto desarmaria os católicos autênticos mas ingênuos. E ficaria apenas contra nós um reduzido grupo de católicos atilados, que facilmente desmoralizaríamos com a alcunha de ultramontanos”, aos olhos da opinião pública.

Mas nosso dever é muito outro. Somos forçados a pedir  insistentemente todas as medidas enumeradas. Elas constituem um todo homogêneo e infrangível, em relação ao qual não há abatimentos nem pechinchas a fazer.

Usando uma comparação muito batida, mas que nem por isto deixa de se aplicar vantajosamente ao assunto, podemos comparar o Brasil a uma cidade fortificada, assediada pelos comunistas. Se as muralhas estivessem intactas, nada haverá a temer. Eis que, porém, o inimigo consegue descobrir seis grandes rombos, e se prepara a introduzir através deles as suas tropas. Alguém propõe que todos os rombos sejam quanto antes reparados, para evitar a invasão. Alguns batem palmas à proposta, que parece de elementar bom senso. Outros, preguiçosos, propõe que, em lugar de se fecharem os seis rombos, se fechem apenas dois ou três, esquecendo-se de que, pelos rombos restantes, o inimigo poderá tentar uma invasão vitoriosa. Com quem está a razão? Evidentemente com os autores da primeira proposta.

 

Será bastante guerrear o comunismo com gritos e caretas?

 

O caso do Brasil é idêntico. A falta de qualquer das medidas que enunciamos franqueará nossas portas ao comunismo. Já o temos demostrado com grande abundância de argumentos. Não será, porém, inútil voltar ao assunto.

Sem repressão policial e judiciária eficiente, é claro que a propaganda comunista grassará indefinidamente pelo Brasil, acabando por atear o incêndio revolucionário em nossa Pátria.

Sem ensino religioso sério - pois que não é sério conceder-se apenas meia hora por semana no estudo de assunto que mais importa ao homem conhecer neste mundo - a massa da população não pode oferecer resistência à propagação comunista. Afirmam-no os Papas quando dizem que um povo sem formação católica sólida não poderá livrar-se das mais perigosas subversões sociais.

Sem que os colégios católicos particulares sejam amplamente favorecidos pela lei, não se poderá desenvolver livremente a iniciativa das Ordens ou Congregações religiosas docentes. E a Igreja vê no êxito dessa iniciativa um dos mais seguros fatores de luta contra o comunismo. Particularmente em um país como o nosso em que não parecemos estar muito longe da reintegração de determinados professores universitários no Rio de Janeiro.

Sem organização sindical católica, não há repressão ao comunismo que seja durável. Di-lo ainda a Igreja, que aconselha muito vivamente aos seus Sacerdotes que procurem a classe operária, a fim de arrancá-la à influência vermelha. Nosso clero tem ardentíssimo desejo de obedecer à voz da Igreja. Mas infelizmente não pode formar sindicatos católicos. E, por isto, não pode trabalhar para que o pensamento das massas operárias caminhe para o Vaticano em lugar de caminhar em direção ao Kremlin.

Sem assistência religiosa às classes armadas, nossos soldados poderão ser de um momento para outro dominados pela propaganda comunista e, com isto, corre grave risco a ordem social.

Sem rádio e imprensa católica, não nos será possível esclarecer a opinião pública contra as manobras do comunismo.

Por essas razões sinteticamente expostas, que se prestariam, aliás, a um artigo de fundo especialmente consagrado a cada uma delas, vê-se claramente que a inobservância de qualquer das medidas que pleiteamos poderá ser fatal para o Brasil. E os católicos estão, pois, na obrigação de empenhar todos os seus esforços para que todas elas sejam obtidas.

É dentro desta ordem de idéias, que devem encarar o problema da escolha do candidato.

Diremos, no próximo artigo, algo de mais positivo sobre essa escolha.

 

O que devemos exigir de nossos candidatos?

 

A viva insistência com que nos referimos ao comunismo é um dever que a hora presente nos impõe imperiosamente. Mas é necessário que o dever do momento não permita que em nós se deforme a verdadeira noção da missão da Igreja.

A Igreja é fundamentalmente, visceralmente, e radicalmente contrária ao comunismo. A este respeito, já se definiram os Papas. E, portanto, não há discussão possível.

Cumpre, entretanto, não considerar a Igreja como um simples instrumento de combate ao comunismo, e Jesus Cristo como um mero líder anticomunista. Seria uma monstruosidade.

Pleiteando as reivindicações católicas que enumeramos, não temos em vista simplesmente destruir o erro comunista. Visamos mais alto. Queremos fazer, ao lado dessa imprescindível obra destruidora, a grande obra da construção de um Brasil católico. Católico, apostólico e romano, se Deus quiser, e não simplesmente cristão, como querem os políticos que gostam de jogar com este termo.

Porque, construído o Brasil católico, se tornará no Brasil  muito mais fácil a missão da Igreja, que é a salvação das almas.