O dia 16 de julho assinala, simultaneamente, três
comemorações gratíssimas aos católicos: a festa de Nossa Senhora do Carmo, a
promulgação da Constituição Federal e o “dia do Congregado Mariano”.
Não é uma simples coincidência que acumulou, em um
mesmo dia, três datas tão salientes. Há, entre essas datas, um nexo íntimo que
não pode escapar à atenção de um observador perspicaz. Nossa Senhora é a
Padroeira do Brasil. A Constituição Federal - por mais defeituosa que seja,
como realmente é, sob o ponto de vista político - assinala o maior triunfo
obtido pelos brasileiros na esfera legislativa, em todos os 437 anos de
existência. E o “dia do Congregado Mariano”, instituído exatamente no dia da
Promulgação da Constituição, por proposta do Ex.mo Rev.mo Sr. D. Gastão Liberal Pinto, torna bem claro que sem a cooperação da mocidade mariana de todo o Brasil, e particularmente de São Paulo, o
triunfo da causa católica ou não se teria verificado, ou teria sido muito menos
brilhante do que realmente foi. A festa de 16 de julho assinala, pois, o
triunfo obtido em um dia consagrado a Nossa Senhora, pelos soldados de Nossa
Senhora, em benefício da causa de Nossa Senhora, em um país dedicado à Nossa
Senhora.
Mandaria, pois, a natureza de tão festiva data que
escrevêssemos um artigo laudatório sobre a grandeza da vitória realizada e a legítima
ufania que os Congregados Marianos tem o direito de
sentir, quando se lembram de seu grande
feito.
Mas já se foi o tempo dos artigos laudatórios. O
momento não exige frases, mas ação, e muita ação. Em lugar de dizer algumas
coisas que todo o mundo já conhece sobre a data de 16 de julho, será preferível
que o “Legionário” teça algumas considerações que nem todos terão tido bastante
argúcia para fazer.
* * *
Nua e cruamente, a questão de que pretendemos
tratar é a seguinte: do que valeu aos católicos brasileiros a vitória que
obtiveram a 16 de julho de 1934?
Quase nada.
Se lançarmos, hoje, um golpe de vista sobre a
utilidade prática que os católicos tiraram de suas conquistas, seremos forçados
a constatações dolorosas.
O ensino religioso é, de todas as reivindicações
católicas, a que foi aproveitada de modo melhor. E, no entanto, podemos dizer
que é quase ineficiente. O que, em São Paulo, se passa a este respeito, é
absolutamente significativo. Uma admirável organização conseguiu estabelecer o
ensino religioso, ministrado apenas durante meia hora por semana, é
absolutamente insuficiente para formar a mentalidade católica da mocidade
escolar. A Religião aparece aos olhos dos alunos como a mais insignificante das
matérias que estudam, pois que, de todas, é a que consome menor espaço de tempo
no horário escolar. E, por isso, o ensino religioso produz efeitos imensamente
menos benéficos que se poderia desejar.
Quanto ao divórcio, realmente foi proibido. Mas
continuam as anulações fraudulentas de casamento, sem que ninguém, entre nossos
legisladores, se lembre de providenciar a este respeito. Ao menos, não
conhecemos um único projeto sobre tão palpitante assunto.
O casamento religioso com efeitos civis foi
regulamentado. Mas de modo tão infeliz, que nem um único Bispo se sentiu com
coragem de o por em execução.
A assistência religiosa às forças armadas não
existe.
E os sindicatos católicos ainda não se puderam
organizar, graças às manobras do Ministério do Trabalho, que se opõe à promulgação
de qualquer lei contrária à unidade sindical.
De sorte que, se formos examinar as coisas com
espírito positivo, chegaremos à seguinte conclusão: das cinco reivindicações
católicas, só uma foi aproveitada. E assim mesmo de modo muito imperfeito e
incompleto.
* * *
Mas, a despeito disto, os católicos, iludidos e
satisfeitos, continuam certos de que o Brasil é deles. Contentam-se em ler as
reivindicações na Constituição. Quanto aos frutos, ao proveito, à utilidade,
pouco lhes importa.
* * *
Já nos temos fartado de explicar a causa disto. Mas
é conveniente insistir sobre o assunto.
Em 1934, os católicos compareceram às eleições
federais e estaduais, embalados por promessas capciosas e empolgados por
paixões políticas que nada tinham a ver com seus interesses religiosos.
Como promessas capciosas, figuravam as vagas
afirmações de catolicidade que distribuíram os candidatos. Como paixões
políticas, tivemos os pruridos perrepistas, peceistas etc., que fizeram com que os católicos se
esquecessem de suas reivindicações, para pensar exclusivamente na politicagem.
A conseqüência não se fez esperar muito. Reunidas
as Câmaras Legislativas, a opinião católica verificou com assombro que nenhuma
delas era capaz de regulamentar as emendas católicas introduzidas na
Constituição. E, com isto, ficou perdido todo o fruto dos trabalhos de 1933.
* * *
Quererão os católicos sofrer em 1938 idêntico
insucesso? Quererão esquecer-se novamente da Igreja, para lembrar-se apenas da
politicagem? São essas as interrogações angustiadas que formulam todos os
espíritos sensatos.
O que farão os católicos?
O Ministro Oswaldo Aranha disse a S. Ema
o Cardeal D. Sebastião Leme que os católicos,
em 1933, intervieram nas eleições de forma tão salutar, que salvaram o Brasil
do comunismo.
Saberão eles fazer o mesmo em 1938? Ou renovarão
eles o erro de 1934 que abriu para o país uma nefastíssima
era, assinalada lugubremente pelos levantes criminosos de Novembro de 1935?