Em nosso último artigo de fundo, procuramos dar o
devido relevo a uma verdade muito pouco conhecida, mas de capital importância
para a restauração religiosa do Brasil. Como demonstramos, o problema da nossa recatolicisação implica no problema da conquista dos meios
necessários para formar a opinião pública. “Recatolicisar” significa tornar católica uma opinião
que o é incompletamente, ou não o é de todo. Só depois da conquista das
inteligências, é que poderá ser empreendida de forma duradoura e definitiva a
reforma das instituições, dos hábitos, e das leis. Se, pois, o nosso problema
consiste em conquistar para nós a opinião pública, é evidente que devemos nos
assenhorear dos meios de ação que de forma mais eficiente nos conduzam a isto.
É este - no plano natural, convém não esquecer - o mais importante problema com
que nos defrontamos.
Convém acentuar, a este propósito, um aspecto
particularíssimo do problema. A conquista dos meios necessários para dirigir a
opinião pública para a Verdade não constitui apenas uma providência desejável e
conveniente, mas um passo indispensável, se quisermos conjurar a grande crise
que se precipita sobre o Brasil.
Se, como até agora, procurarmos impressionar a
opinião pública tão somente por meio de conferências públicas, e de jornais
semanários ou bi-semanários de pequena circulação,
perderemos certamente a partida, salva a hipótese de um milagre que nossa
inércia não tem o direito de esperar. Um jornal diário de circulação mediana
tem 40.000 leitores ao menos. Qual a associação, qual o conferencista, qual o
comício capaz de reunir em sessão diária 40.000 ouvintes? Evidentemente nenhum.
Uma estação de rádio poderá ter, diariamente,
quatro ou cinco dezenas de milhares de ouvintes. Qual a conferência, qual a
associação capaz de substituir o rádio, e de fazer chegar a um igual número de
pessoas a palavra de Deus? Também nenhum.
Uma Universidade funcionando normalmente pode
fornecer ao Brasil anualmente algumas centenas de
profissionais com toda a formação religiosa necessária, desde as humanidades,
até a mais alta cultura. Qual a associação capaz de, em um ano, converter
profissionais acatólicos ou esmerar a formação de profissionais já católicos, a
ponto de substituir neles os péssimos preconceitos de nossas universidades pela
sã formação que pode dar uma Universidade católica? Nenhuma.
As capelanias nas Forças Armadas e, principalmente,
na Escola Militar, podem produzir um reerguimento
religioso notável entre nossos militares, porque a Capelania leva a palavra de
Deus ao militar, em lugar de esperar que este venha procurá-la nas igrejas.
Qual a associação militar capaz de operar semelhante transformação religiosa?
Também nenhuma.
O ensino religioso nas escolas públicas difunde de
tal maneira a instrução religiosa, que não há centro catequético
por mais perfeito ou organizado que o possa substituir.
Quanto aos sindicatos operários, poderíamos fazer
para eles, ponto por ponto, as afirmações feitas quanto aos militares. É
preciso levar a palavra de Deus às massas, já que estas não freqüentam mais a
Casa de Deus. E, sem a conquista dessas massas, o que será possível fazer?
Finalmente, o casamento religioso com efeitos civis
evita tantas uniões ilícitas, que cremos certamente que vinte anos de trabalho
apostólico feito por alguma associação para legalizar uniões ilícitas não seria
capaz de legalizar uniões mais numerosas de que aquelas que o casamento
religioso poderia evitar.
* * *
O que acabamos de demonstrar não prova que se deva
abandonar o trabalho em associações que os católicos tem feito. Esse trabalho é
básico, é fundamental, e deve estar na raiz de todos os demais, sob pena de se
desmoronar todo o edifício de nossa ação social.
Mas é necessário tornar bem claro que os católicos
devem entrar em uma nova fase de ação. Ao trabalho associativo, que eles devem
continuar a desenvolver intenssissimamente, devem
eles somar outro, que é o trabalho para conquista das posições e leis
estratégicas, que lhes permitam envolver de um só golpe centenas de milhares de
almas.
Todas as correntes de opinião estão procurando
conquistar o Brasil. E ou a Igreja conserva, nesse momento melindrosíssimo,
a realeza do Brasil para Nosso Senhor Jesus Cristo, ou o Brasil atravessará
crises religiosas que nos conduzirão provavelmente a conseqüências
imprevisíveis.
E para conservar o Brasil para Nosso Senhor e para
a Santa Igreja, é necessário que os católicos lancem mão dos meios necessários
para isto. Diz um provérbio francês
que “qui veut la fin, veut les moyens”.
É a pura
verdade. Cumpre-nos, pois, trabalhar.
* * *
Começamos, agora, a entrar no terreno da sucessão
presidencial.
Quase todas as nossas grandes reivindicações tem
com a política estreitíssimas afinidades. Não porque sejam de natureza
política. Mas por que dependem de uma regulamentação legal que será feita pelos
políticos, para os políticos, e por meio dos políticos.
Nós, católicos, temos freqüentemente uma noção
errada disto. Se nos tirarem o ensino religioso, moveremos céus e terras. Mas
se fizerem uma lei que dificulte indiretamente a abertura de novas estações de rádio,
por exemplo, continuaremos inteiramente indiferentes. Isto a despeito de ser o rádio
católico um meio de difusão de idéias talvez não inferior ao próprio ensino
religioso. Quanto ao jornal católico e as demais reivindicações, diremos algo
em outro artigo.
Mas queremos, antes de finalizar este, fazer uma
pergunta a nossos leitores. Sobre todas essas reivindicações importantíssimas,
o que prometem fazer os candidatos à presidência da República? Explicitamente,
claramente, o que disseram eles até agora sobre estes pontos vitalíssimos para nós?
Que saibamos, nada. Exceto alguns vagos propósitos recristianizadores.
E agora uma pergunta: não percebem nossos leitores,
pelo que já ficou dito, que é um absurdo votar em A. B. ou C. sem saber o que
acham de todos estes assuntos? Despreocupar-se disto para só olhar para a
politicagem não é mandar às urtigas as convicções religiosas, para entronizar
somente a paixão política?