Está se tornando cada vez mais necessária uma forte
pressão do elemento católico brasileiro sobre nossas autoridades federais, para
fazer cessar uma situação de clamorosa injustiça, em que está empenhada a
própria dignidade do Brasil. À vista do conflito que dilacera a Espanha, todas as nações civilizadas se dividiram em dois grupos,
um dos quais é francamente favorável ao governo nacionalista, enquanto o outro
mantém uma atitude de simpatia e de cooperação velada com os governistas.
Evidentemente, as nações que auxiliam os governistas cometem um grave
crime de lesa-civilização, e maculam as páginas de
sua História com uma mancha indelével. Não há argumento político bastante forte
para justificar a atitude de cumplicidade de uma nação qualquer com o grupo de
aventureiros internacionais que infesta a Espanha, incendiando as igrejas,
devastando os lares e trucidando os melhores elementos da população. Seja qual
for a vantagem política ou econômica colimada pelos
países que auxiliam os comunistas espanhóis, essas vantagens não terão outro
significado, aos olhos dos moralistas imparciais, do que o dos trinta dinheiros nas mãos de Judas.
O Brasil, portanto, não deve de modo nenhum, em
caso nenhum, sob pretexto nenhum, enfeudar-se a este grupo de nações traidoras,
abandonando os governos que estendem fraternalmente a mão à Espanha,
auxiliando-a a libertar-se da insólita agressão que contra ela pratica a III
Internacional. Isto é para o Brasil, como para qualquer outro país, uma questão
de honra.
Entretanto, com viva dor, somos forçados a
confessar que tal não se tem dado.
Nosso Governo tem mantido uma atitude de absoluto
alheamento em relação às duas facções em luta. Ao que sabemos, o Itamaraty nem sequer foi
promover a realização de qualquer outra obra de auxílio às vitimas dos
vermelhos. A despeito da intervenção insolente que o bando de Largo Caballero procurou praticar
na política brasileira há não muitos meses, continua nosso Ministério do
Exterior em uma atitude de absoluta cordialidade com o Governo de Valência, fingindo ignorar tudo quanto se passa na Espanha.
Infelizmente, não é só isto que se verifica. Há
ainda pior. Até agora, não foi possível persuadir o Itamaraty
de que deve restabelecer relações diplomáticas normais com o Governo de Burgos.
Qual a razão que pode ser alegada por nosso
Governo, para explicar essa injustificável atitude? De um lado, há assassinos
vulgares, criminosos que só se diferenciam dos outros pelo caráter
particularmente celerado de seus delitos. Do outro lado, há um grupo de bravos
generais, tendo atrás de si todo o escol intelectual e moral da Espanha. Entre
os dois grupos, qual deles é reconhecido pelo nosso Governo? O dos homens de
bem? Não. O dos salteadores internacionais. Logo que consigam sufocar o
Movimento Nacionalista se atirarão sobre a América Latina, procurando atear
nela o incêndio das lutas sociais. Foi este o caminho que nossa diplomacia
preferiu...
Uma noticia publicada por “El Pueblo”, o valoroso diário católico
de Buenos Aires, informou-nos de que o Governo de Lima está disposto a
iniciar uma série de “démarches”
diplomáticas junto a todas as Repúblicas sul-americanas, para induzi-las a
romper as relações com os comunistas espanhóis.
Nossos jornais não reproduziram esta auspiciosa
noticia. Nós, no entanto, insistimos em torná-la conhecida de nossos leitores.
Porque desejamos que eles possam observar a linha de conduta que o Itamaraty vai seguir nesta emergência.
Se as declarações que tantos e tantos dos próceres
situacionistas proclamam que nosso Governo quer dirigir o Brasil de acordo com
os princípios da “civilização cristã”
forem verídicas e sinceras, o Brasil romperá com Valência. Ou, quando nada,
também reconhecerá oficialmente os representantes do Governo de Burgos, que
este já constituiu em nosso território e que, por enquanto, não são
reconhecidos como agentes diplomáticos ou consulares por nossas autoridades.
Mas se o Itamaraty
silenciar, nós, católicos, já poderemos tirar uma conclusão rica em frutos para
o futuro: os católicos não podem confiar nesse vago “cristianismo” de encomenda que, para fins eleitorais, brota hoje,
a todo propósito e até sem propósito, nos lábios de nossos políticos.