Há alguns meses atrás, publicamos um artigo de
fundo em que manifestamos nosso receio de que a campanha da sucessão
presidencial tomasse um aspecto exageradamente
combativo. E apontamos os perigos que daí adviriam para a ordem social e para a
unidade nacional.
Quando escrevemos
aquele artigo, estavam ainda “in ovo” as negociações
políticas. Hoje, que elas se desenvolveram e enchem de rumor o País inteiro,
vemos que, infelizmente, não eram infundados nossos receios.
A nota dominante da
atual situação é a confusão. Aliás, costuma ser invariavelmente essa a nota
dominante de todas as situações delicadas, desde que o atual Presidente da República
está à testa dos destinos do País.
A bem dizer, não há mais no Brasil quadros
políticos claramente definidos. No Rio Grande, o partido situacionista está
cindido. A situação estadual é oposição federal. A oposição estadual é
situacionista no cenário federal. E muitos dos amigos do Sr. Flores da Cunha são hoje seus
adversários, bem como diversos de seus antigos adversários são hoje seus
amigos.
O mesmo se dá em São Paulo. O P.R.P. sofreu uma rumorosa cisão. E, segundo nos afirmam
elementos absolutamente bem informados, desde que o Governo Provisório suscitou
uma candidatura paulista, não será esta a única cisão a se verificar em nossa
política.
Minas está nas mãos de um governador que não passa
de instrumento do Governo Federal. A
vida partidária e política naquele Estado está desorganizada e asfixiada. A
invicta Bretanha brasileira está inerte e incapaz de fazer valer no terreno
político sua força conservadora e moderadora.
A Bahia está caminhando por
uma tangente sinuosa e insegura, entre a oposição e a situação. O partido
oposicionista baiano não sabe bem se está a favor ou contra o governo de sua
terra (!) porque o governo não sabe ou não diz se está a favor ou contra o
candidato que a oposição baiana aceitou.
Pernambuco tem, no cenário federal,
dois representantes, o Sr. Lima Cavalcanti e o Sr. Agamenon Magalhães. Ambos foram acusados de serem comunistas. E, ao que
parece, os acusadores de ambos não estavam inteiramente sem razão. O Srs. Cavalcanti
e Agamenon se entredevoram.
E a política pernambucana está reduzida a um caos.
Isto tudo se dá nos maiores Estados do Brasil, e se
repete, com variantes mais ou menos intensas, nas demais unidades da Federação.
Não é sem um vivo sentimento de repugnância que o
jornalista católico desce a esta cozinha pouco limpa e mal arejada e mal
iluminada. Mas é preciso que os católicos vejam o que se passa, para que percebam o perigo que estão correndo.
Somos de opinião que os partidos políticos foram a
desgraça para o Brasil. Nenhum vínculo a eles nos prende. Sobre sua sepultura,
nunca cantaríamos um hino de pesar, mas sim um festivo “Alleluia”.
Entretanto, somos forçados a reconhecer que, no
momento que passa, a desagregação dos partidos políticos constitui um mal. A
desorganização de nossa política só pode aproveitar, no momento, aos
comunistas, sinistros pescadores de águas turvas, que tem lucros inapreciáveis
na exploração da cegueira e de imediatismo dos
políticos liberais postos em apuros.
Atrás de toda esta confusão, entreabre-se a
perspectiva de uma derrogação da Constituição vigente. Esta derrogação não
teria por efeito instaurar um regime de autoridade, mas um regime idêntico ao
que conhecemos até 1933, em que o poder discricionário se aliava a um método de
governo todo feito de recuos, de transações, de defecções e de fraquezas.
Se fizermos o balanço da vida brasileira entre 30 e
33, deveremos reconhecer que os únicos a lucrar foram os comunistas.
Portanto, se se restaurar
o estado de coisas que precedeu à Constituição de 34, os lucros pertencerão
novamente aos [inimigos da Civilização cristã].
Querem isto os católicos?
Ou estão dispostos a lançar mãos de todos os meios
lícitos e legais, para evitar que isto se dê?