A
depressão moral em que a humanidade caiu, a vaga de crueldade que desabou sobre
o universo, todo esse imenso fervilhar de torpezas em
que nos debatemos tudo que ora põe em perigo a civilização, que é senão uma
conseqüência da animalização geral determinado pelo
abandono da senda moral que Jesus traçou para a humanidade?
Assim se exprimia a “Nota” de Sexta-Feira Santa do “O Estado de São Paulo”. Assinalemos bem
esse fato. O “Estado”, jornal de
famosas tradições laicas, que tantas vezes afetou desconhecer a Igreja e sua
influência na vida social e política do Brasil, reconhece agora que a causa do
mal que vai pelo mundo está precisamente no “abandono
da senda moral que Jesus traçou para a humanidade”.
Este fato é um indício da reação salutar que se
opera em todos os espíritos que não se conformam com o formidável eclipse da
civilização de que o mundo está ameaçado. Homens de todos os matizes
ideológicos, políticos do centro e políticos da direita, apontam hoje o Cristo
como a pedra angular da civilização.
Para nós católicos, essa reação é causa do mais
intenso júbilo. E esse júbilo é duplamente justificado no que concerne à nota
em apreço, porque traduz o pensamento de um dos mais brilhantes jornalistas
brasileiros, que é o Sr. Plinio Barreto.
* * *
Até aí, muito bem. A causa das lutas sociais está
descoberta pelos políticos. Há dezenas de anos que a Igreja a apontara,
prevendo a Revolução que se aproximava e procurando dar-lhe o preventivo que a
evitaria. Governos e particulares zombaram da voz eterna de S. Pedro e não lhe
deram atenção. Agora que a luta chegou, que a desordem arromba as portas de
todas as nações, começa muita gente a reconhecer a justeza das palavras da
Igreja. Reconhecem-na. E é só. Quantas vezes não temos visto, nestes últimos
tempos, os políticos liberais reconhecer e proclamar a necessidade de defender
a “civilização cristã”? Mas, no
terreno dos fatos, o que têm eles feito para defendê-la? Que meios de ação
deram eles agora à Igreja Católica sua única e legítima depositária dos
princípios fundamentais da civilização? Em que sentido facilitaram os liberais
a difusão da doutrina católica? Qual a providência concreta que eles tomaram em
prol desses princípios que eles reconhecem como verdadeiros? Não vemos
defraudarem-se sistematicamente as conquistas católicas da Constituição de 34?
Do que nos adianta 1/2 hora de ensino religioso? Onde estão os sindicatos
católicos que a Constituição permite? O que se fez do casamento religioso? E a
assistência religiosa às forças armadas? Quem, entre os liberais, pensa em
promovê-la?
* * *
“Aproveitemos
a data da comemoração de seu sacrifício para um exame de consciência. A Igreja
que se formou para guarda e propaganda do seu evangelho é estreita? São
detestáveis os seus sacerdotes? A divindade do Evangelista não pode ser aceita
pela razão dos doutores e dos céticos? Não seja essa
a dúvida. Ponha-se tudo isso à margem. Mas por que repelir a doutrina? Por que
combater o evangelho?...
“Não é
preciso ser crente para chegar à conclusão de que quanto mais afeiçoarmos a
nossa vida à doutrina cristã, mais a espiritualizamos e quanto mais a
dissociarmos dessa doutrina, mais a materializamos...”
“A
secular comemoração do seu martírio não tem, apenas, um sentido religioso. Não
é uma solenidade de caráter sectário”.
É a clássica manobra dos liberais, imitados neste
particular por altos elementos anti-liberais. É a
criação de um Cristianismo geral, super-confessional,
colocado por eles acima de todas as “seitas”. Não querem reconhecer nem a
Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, nem sua Igreja que é
a Igreja Católica Apostólica Romana. Igualam-se a todas a “seitas” por aí
existentes, colocam-na no mesmo plano de qualquer ramúsculo protestante. Para
eles o Cristianismo é um gênero contendo numerosas espécies entre as quais uma,
não mais importante que as outras, é a “Católica Romana”.
Ora, com isto nós não concordamos e desta maneira,
com este “Cristianismo” que não é do
Vaticano, o mundo não se salvará. Não é pregando “amor” e “fraternidade
cristãs” como eles entendem que desaparecerão do mundo as lutas sociais. É
pregando o Cristo, o Cristo Crucificado, o Cristo Ressuscitado, o Cristo da
Eucaristia, do qual a Igreja Católica Apostólica Romana é amiga e amantíssima
Esposa, que o mundo encontrará o verdadeiro caminho de sua salvação.