Em outubro de 1934 houve na Espanha uma revolução
comunista. No momento, a repressão foi rápida e enérgica. Todos estão lembrados
dos combates de Oviedo, da campanha das Astúrias conduzida pelas tropas legais do general Lopes Ochoa. Depois foram presos muitos dos chefes materiais e
intelectuais do movimento; entre outros Prieto, Azaña, Gonzales Pena, etc. Muitos deles foram condenados à morte. O
sentimentalismo governamental os perdoou, e à sombra desse sentimentalismo ou
talvez dessa cumplicidade, se formou a Frente Popular que levou ao poder o
mesmo Azaña e atirou a pátria de Santo Inácio de Loyola ao caos marxista.
Do lado de cá do Atlântico, houve em novembro de
1935 uma sedição comunista. A repressão foi também rápida e enérgica e os
comunistas indígenas não puderam dar senão pequenas demonstrações de sua
ferocidade. Não nos esqueçamos, por exemplo, de que o tenente Bragança foi assassinado
friamente, enquanto dormia. Foram feitas depois numerosas prisões, foram
descobertas células comunistas, foram desarticulados os planos de domínio
soviético no Brasil. E a Nação veio a saber que estivera à beira do abismo,
talvez pela imprevidência de alguns...
Pouco mais de um ano se passou. E o esquecimento
veio mais rápido do que se poderia esperar! Precisamente quando o Tribunal de
Segurança Nacional começava a
funcionar, e que os detidos desautoravam sua autoridade obedecendo a um plano
de que já demos conhecimento aos nossos leitores, os piores dentre eles eram
postos em liberdade. Por que? Porque eram intelectuais e não tomaram parte
ativa na revolução!!!... Sussekind de Mendonça e outros. E
continua a ser feita a libertação de muitos “ex-capitães”
ou “ex-tenentes”
etc. presos em 1935. Parece que se são “ex-capitães”
ou “ex-tenentes” é porque têm sua responsabilidade,
sem o que teriam sido excluídos do exército!...
É freqüente ler noticias como esta, publicada a 12
do corrente:
“Segundo
telegrama de Natal, o chefe de Polícia do Rio Grande do Norte acaba de ver
coroada de resultado uma série de diligências que por intermédio da Delegacia
de Ordem Social vinha pondo em execução para captura de perigoso elemento
responsável pelo levante de novembro de 1935, naquele Estado. Tratava-se do ex-tenente da Força Pública Mário Cabral de Lima, que chefiou o
ataque ao quartel dessa força nas noites de 23 e 24 de Novembro. Esse rebelde
foi preso por quatro investigadores nas proximidades do povoado de Rego
Moleiro, município de Macaíba. Achava-se oculto no mato, tendo reagido aos
investigadores contra os quais investiu brandindo um punhal que media quase
meio metro”.
Mas do que valem o trabalho e a
coragem dos investigadores que, com perigo da própria vida, foram prender esse
perigoso elemento? É quase certo que ele há de ser posto em liberdade muito
rapidamente ou então encontrará meios que lhe facilitem a fuga. Lembrem-se
todos dos evadidos do Hospital Gaffreé-Guinle, no
Rio, e dos que recentemente fugiram do Presidio do Paraíso, nesta Capital. E
destes, o “Estado de São Paulo” escreveu o seguinte, a 20 do corrente:
“No dia
10 do corrente, quarta feira de cinzas, fugiram vários presos recolhidos à
enfermaria do presidio do Paraíso.
“Esses presos, entre os quais se achavam
alguns intelectuais e pessoas de posição social de destaque, não estavam submetidos
a rigorosa vigilância e daí as facilidades que tiveram para executar seu plano...” (grifo nosso). Poderíamos
perguntar: Então? Para que prender os perigosos
elementos comunistas? Para permitir-lhes que engordem, como está sucedendo
com Luiz Carlos Prestes?
Os que acabam de sair da prisão não voltam menos
ativos do que antes. Entre os chamados “intelectuais” presos, estava o diretor
de “A Manhã”, folha “humorística” (sic) do Rio de
Janeiro. Apenas em liberdade reiniciou evidentemente suas atividades. E o
primeiro número do seu jornal, publicado no dia 16, traz, a pretexto de
humorismo, uma série de insultos os mais baixos ao Cônego Olímpio de Mello, prefeito do Rio de Janeiro, entremeados de elogios os
mais rasgados ao ex-prefeito, Dr. Pedro Ernesto, preso por suas atividades
comunistas. Querem os leitores a prova? Transcrevemos apenas os elogios ao
ex-prefeito, conservando o fraseado do original: ... “que... é um medico - doutor muito humanitário e muito honesto....”
Pode parecer pueril que nos refiramos até à própria
“Manhã”. Não o é, porém. A propaganda comunista se faz por todos os meios e os
que se apresentam como mais inocentes são certamente os mais perversos.
Ofendendo a pessoa sagrada de um sacerdote - acima não transcrevemos os pesados
insultos - ao mesmo tempo que se exalta um comunista preso, faz-se anticlericalismo e propaganda soviética. É preciso que os
católicos compreendam isto e que deixem de espantar-se tanto com as atrocidades
da Espanha, da Rússia, ou do México, para se preocuparem mais com as sutilezas
da propaganda marxista. Aquelas provocam indignação de muitos, mas estas são
descuidadas por quase todos.
Agora, com as autoridades. Para
que o meditem, lhes oferecemos esta nota do diário português “Novidades”, de 15
de Janeiro último:
“Duma
falsa idéia do comunismo derivam, em boa parte, as lastimáveis transigências com ele
notadas em elementos das várias classes, e também a insuficiência das
resistências por muitos outros, às vezes clamorosamente apregoadas.
“Que
motivos impulsionam, na verdade, o movimento contra o comunismo? Para uns, o
medo; para outros, o interesse econômico, político, ou egoístico...
“É fraca
a repulsa por medo ou por interesse.
Só a feita por convicção pode
opor-se eficazmente à ideologia comunista, mas esta exige a profissão e a vida
dum idealismo oposto à forte ideologia do comunismo. Porque é forte, embora
errada, esta ideologia.
“Ora, a
maior parte das defesas contra o comunismo limita-se a sustar os seus golpes
exteriores, a combater esta ou aquela manifestação de sua atividade, pervertedora de todos os fundamentos da vida moral e social
dos povos, mas não a atacá-lo na sua essência doutrinal e satânica, nem a
contrapor as suas manobras demolidoras, a conveniente ação reformadora e
construtiva. Agarrados a defesas ineficazes do material e perecível, esquecem a
defesa essencial do imperecível e eterno, que, afinal, seria ainda a melhor
defesa do que no terreno temporal merece ser defendido”.
Teriam sido no Brasil o medo e o interesse as
únicas molas da repressão ao comunismo? Se o foram entre os homens do mundo,
temos certeza de que não o são entre os católicos que sabem colocar em primeiro
lugar o imperecível, o Eterno. E a eles cabe a primeira linha
nessa luta que se trava contra o marxismo. Mas é necessário estar alerta, pois
qualquer desfalecimento os incluirá talvez insensível e involuntariamente nos
que são pró-Rússia.