O fato predominante, no noticiário político dos
últimos dias, é a ressurreição política dos cooperadores que o Sr. Getúlio
Vargas teve no “período
heróico” do governo discricionário oriundo da revolução de 1930. Entre 30 e 34,
isto é, durante todo o tempo em que o Brasil viveu sem constituição e sem leis
estáveis, atribuía-se imenso prestígio a umas tantas figuras inteiramente
desconhecidas até 30, e que chegaram, depois, a fruir de tão alto poder que
restauraram a velha prática portuguesa das capitanias, e dividiram o Brasil em vice-reinados e pequenos feudos (que, em lugar de
capitanias, deveriam chamar “tenentias”) entregues
aos pró-homens da Revolução.
Aos poucos, porém, não se sabe nem como nem porque,
essa gente foi perdendo o prestígio. O vigoroso arranco de 32 acabou com esta
situação. E todo o mundo estava certo de que os componentes do Club “3 de outubro” tinham caído em definitivo ostracismo
político. O Sr. João Alberto foi viajar. O Sr. Oswaldo
Aranha foi ser embaixador.
O Sr. José Américo foi ser ministro do
Tribunal de Contas. O Sr. Góes Monteiro abandonou a pasta
da Guerra. O Sr. Pedro Ernesto acabou por ir à
cadeia. O Sr. Juarez Távora sumiu. Do dilúvio,
só se salvou o Sr. Juracy Magalhães.
Os entendidos da política afirmavam que o Sr.
Getúlio Vargas tinha privado inteiramente os seus antigos companheiros do
prestigio que possuíam. E que, d'ora avante, os “tenentes” poderiam se dar por muito
satisfeitos se lhes fosse concedido o direito de gozar pacatamente de alguma
modesta pensão paga pelos cofres públicos, em qualquer empreguinho
apagado.
No entanto, mal vem a público a questão da sucessão
presidencial, o que vemos? O Sr. João Alberto volta. É incumbido de dirigir os
esportes, e depois é nomeado Ministro Plenipotenciário de 1a classe.
O Sr. Oswaldo Aranha vem ao Brasil. O Sr. Góes
Monteiro readquire novo lustro. O Sr. José Américo começa novamente a ser
cortejado. Muita gente pleiteia a soltura do Sr. Pedro Ernesto. Não tardará que
apareça também o Sr. Juarez Távora.
E, dentro em breve, o buliçoso Club “3 de outubro”
começará, novamente, a trabalhar pela “mentalidade revolucionária” de pouco
saudosa memória.
Enquanto se discute a sucessão presidencial, o
processo dos comunistas de 35 se arrasta morosamente, e, pelas malhas das leis
processuais, vão escapando peixes cada vez maiores e mais numerosos.
É cedo, talvez, para que digamos alguma coisa ao
público sobre este assunto que, além de exceder imensamente em importância a
sucessão presidencial, a ela se liga por laços estreitos.
O assunto excede em importância à
sucessão porque, para o Brasil, é indiferente que seja governado por João,
Pedro, ou José. O que é indispensável é que o homem que for eleito seja uma
expressão dos sentimentos católicos de nossa gente, e não um joguete da III
Internacional, algum Kerensky ou algum Azaña indígena, que nos vá entregar, de pés e mãos atados,
à Aliança Libertadora.
Por isto mesmo, a questão da repressão ao comunismo
se prende, para nós, muito intimamente à questão da sucessão.
Os católicos de descortínio
não se deverão contentar com vagas declarações de sabor semi-cristão.
Pelo contrário, só devem sufragar o ou os candidatos que apresentem reais
garantias de que combaterão com uma inexorável inflexibilidade a propaganda
comunista.
É preciso que se diga bem claramente, desde já, o
seguinte: na situação que atravessamos, não figura em primeira plana, para nós,
a concessão de algumas medidas administrativas ou legislativas favoráveis aos
católicos.
O que queremos é que a hidra comunista seja
combatida a fundo.
Para este ponto devem convergir todas as nossas
preocupações.
Porque se descurarmos disto, e o comunismo devorar
o Brasil, do que nos terá valido todo o resto?