Nossa seção “Revista”, na edição de hoje, traz uma
relação fornecida pelo Governo de Burgos sobre as atrocidades cometidas pelos
comunistas em algumas aldeias do sul da Espanha. Trata-se de um relatório
pertencente a uma série que está sendo editada e que deve conter todos os atos
de barbárie praticados pelos comunistas em toda a Espanha. Infelizmente, só
temos o relatório sobre as aldeias do meio-dia [Sul] espanhol. A parte mais
interessante, referente aos grandes centro urbanos, não nos chegou às mãos. Mas
é suficiente o que publicamos, para o comentário que queremos fazer.
Na Câmara Federal, trava-se atualmente um
gravíssimo debate. Um deputado filiado à maioria - esta circunstância é importantíssima
- denuncia o Ministro Interino da Justiça como cúmplice da propaganda
comunista.
Para medirmos a gravidade da denúncia, basta que
consideremos a pessoa a quem ela se dirige.
O Sr. Agamenon Magalhães tem em suas mãos duas
das pastas ministeriais de que depende mais particularmente a repressão ao
comunismo: Trabalho e Justiça. Da pasta do Trabalho, dependem todos os assuntos
referentes à organização sindical e às relações entre operários e patrões. Da
pasta da Justiça, depende toda a repressão policial aos comunistas. Prevenção e
repressão estão, pois, nas mãos do Sr. Agamenon
Magalhães.
Não sabemos que rumo tomarão os debates. Com a
preocupação de sermos objetivos, cingimo-nos, na seção competente, a um simples
noticiário. No entanto, o leitor inteligente verificará que o noticiário é
eloqüente, e que o Sr. Agamenon Magalhães fez coisas
realmente estranhas.
Um exemplo, entre muitos outros, convencerá nossos
leitores.
Não há, nos círculos católicos do Rio, com os quais
o Sr. Agamenon Magalhães tem mantido cordiais
relações, quem ignore que o Sr. Professor Castro Rabelo é comunista
público, declarado e militante. É impossível que algum dos católicos que tem
contato com S. Ex.a não o tenha prevenido disto.
No Entanto, S. Ex.a aceita o Sr. Castro Rabelo para
membro do Conselho do Trabalho e ainda afirma, em plena Câmara, que o referido
professor era, nesse conselho, um dos elementos mais conservadores.
Perdoe-nos o Sr. Agamenon
Magalhães, cuja inteligência admiramos, se dizemos que S. Ex.a agiu
ingenuamente. Será possível que, à vista das acusações que pesavam sobre o Sr.
Castro Rabelo, o Sr. Agamenon Magalhães não tenha
tomado precauções um pouco mais diligentes do que a que tomou? Por que
contentou-se o hábil político pernambucano em controlar a atitude do Sr. Castro
Rabelo no Conselho? Por que não investigou mais a fundo? Eram, porventura, de “lana caprina” as questões confiadas ao
exame do referido professor? Era brincadeira a responsabilidade de que o investiu
o Ministério, admitindo-o a tomar parte em seu Conselho? Não era bem evidente
que, no Conselho, o Sr. Castro Rabelo ocultou o mais possível suas idéias
comunistas?
Entre outros pontos fracos, a defesa do Sr. Agamenon nada disto esclareceu.
Vamos agora ao Sr. Adalberto Corrêa. S. Ex.a merece a admiração e a simpatia de todos os
católicos brasileiros, pelo desassombro com que tem atacado o comunismo.
A atitude de S. Ex.a,
por mais simpática e enérgica que seja, não deixa, porém, de apresentar um
ponto fraco.
O estado atual dos debates na Câmara não nos
permite afirmar quem tem razão, se o Sr. Agamenon de
Magalhães, se o Sr. Adalberto Corrêa.
Mas o Sr. Adalberto Corrêa, se tem a certeza de que
o Sr. Agamenon Magalhães é comunista, não deve romper
só com o Ministro do Trabalho...
Ninguém pode contestar a incoerência dessa conduta
do valoroso político gaúcho.
Imprevidente como se fossem cegos, silenciosos como
se fossem mudos, inertes como se fossem paralíticos, muitos daqueles que mais
razões teriam para atacar o comunismo, “deixam correr o marfim” segundo a expressão consagrada pela
gíria.
De tudo que ficou dito, desde já se pode tirar uma
conclusão: o comunismo não está sendo combatido como deveria ser. Parece-nos
que há tolerância, há politiquice, há falta de coragem, mesmo entre os mais
denodados adversários que ele tem encontrado.
Quando, porém - o que Deus não permita - se atearem
aqui os primeiros incêndios, correr o primeiro sangue, forem imoladas as
primeiras vítimas de algum novo conflito social, o Brasil pedirá contas aos
cegos, aos mudos, aos displicentes, dos crimes que, por sua cegueira, por sua
mudez, por sua displicência, se tiverem praticado.
Neste dia, assim o esperamos, a consciência
católica do povo se arvorará em juiz dos seus pilotos míopes.
Para os bons brasileiros, será um dia de glória.
Para os outros parecer-se-á ao dia extremo, de que nos fala a Liturgia, no
Oficio dos mortos: “in
die illo tremendo, calamitatis et miserie”.