A política brasileira está sendo teatro de uma
reviravolta que desnorteia os observadores mais experimentados. Quase todos os
órgãos da imprensa diária silenciam sobre ela, e têm altas e sérias razões para
assim proceder. Para um espirito alto e sério, essas razões não seriam nem
altas nem sérias. Mas parecem muito altas e muito sérias para aqueles que
observam a política pelo prisma dos mais baixos e fúteis preconceitos
partidários.
Nosso dever, porém, consiste em informar os
leitores. É o que procuraremos fazer neste artigo.
Antes de tudo, porém, façamos um pouco de História.
Em Novembro de 1935, estourou, quase
simultaneamente, em Natal, no Recife e no Rio, um movimento comunista.
As investigações policiais então levadas a efeito
revelaram uma formidável organização, com os tentáculos espalhados por todo o
Brasil. Verificou o governo, imediatamente, que o perigo era tão grave que
exigia uma obra preventiva, realizada a fundo, em todo o território nacional.
Tão grave pareceu o perigo, tão necessária a
repressão, que o governo colocou o país inteiro em estado de alarma. Fizeram-se
leis novas, para dotar o Executivo de meios de ação mais eficientes. E, parecendo
insuficientes essas leis, fez-se a reforma da própria Constituição do País.
Todos os
jornais começaram a denunciar a gravidade extrema da situação. Quase
diariamente, era trazida a público alguma revelação sensacional sobre novos
tentáculos descobertos pela polícia.
Ao cabo de algum tempo, a estrutura do movimento
comunista foi posta a nu. E o Brasil inteiro, contemplando os restos
esquartejados mas ainda palpitantes do monstro que tentara devorá-lo, pode
certificar-se de visu,
da pujança que a corrente comunista alcançara.
De toda essa campanha jornalística, de toda essa
publicidade, de toda essa luz projetada sobre a tenebrosa revolução, uma coisa
ressaltou bem clara: precedido de enorme preparação, o movimento comunista,
antes de sair à rua, tinha conquistado as cátedras universitárias, os palacetes
burgueses, as altas posições políticas. Do alto desses poderosos postos de
irradiação, procurou conquistar as massas. Estas, porém não foram sempre tão
acessíveis quanto se esperava. Daí o fracasso do movimento.
Tão persuadido ficou o Governo dos fatos que
narramos, que tomou as providências necessárias para que eles não se
repetissem.
Por que dissolveu a Aliança Nacional Libertadora? Porque reconheceu sua capital responsabilidade na
preparação do movimento.
Por que destituiu de suas cátedras tanto professores
vitalícios? Porque os responsabilizou pelo incremento do comunismo nos círculos
universitários.
Por que prendeu tantos “grã-finos”? Porque
reconheceu sua cumplicidade com os agentes de Moscou.
Quem dirigiu
toda esta repressão? O Sr. Getúlio Vargas que, se não agiu,
deixou ao menos “correr o marfim” da indignação geral.
Passa-se, depois disto, um longo ano. Finalmente,
depois de tergiversações e demoras inexplicáveis, organiza-se a justiça de
exceção. Inquirem-se as primeiras testemunhas. Quase todas elas são recrutadas
entre os mais altos funcionários do Estado, entre amigos íntimos do Governo
Federal.
E o que é que essa gente afirma? A inteira
inocência de acusados cuja culpabilidade é mais do que evidente.
Por outro lado, as Congregações de 2 Escolas da
Universidade do Rio reclama a reintegração dos professores comunistas.
Se toda a gente que ora se procura inocentar é
realmente isenta de culpa, o que faziam os professores de Direito e de Medicina
do Rio, e os Srs. Protogenes, Rabello,
Barcellos, que não levantaram um único protesto em
seu favor?
Onde está hoje toda aquela imprensa aguerrida que
ainda ontem denunciava com uma veemência sagrada toda a “clique” que hoje caminha para a reabilitação?
Nossos partidos
políticos estão cheios de católicos. Qual deles se levanta para denunciar este
triste jogo?
Quem terá coragem de desobedecer a essa “meia
volta, volver”?