Nosso programa para 1937 deve ser a paz. Pode
parecer estranha esta afirmação em um órgão como o “Legionário” que tem sido
uma espécie de “cadet
de Gascogne” do Catolicismo, um defensor duelista e briguento, que respira
com delícias a atmosfera de combate de que nossa época está cheia.
E, no entanto, nosso programa é este: paz.
Categoricamente, peremptoriamente, queremos paz.
Expliquemo-nos.
É preciso “recatolicisar”
o Brasil. A este respeito não há dúvidas para nós. E nem há dúvidas sobre um
outro ponto importantíssimo: a “recatolicisação” do Brasil não é simplesmente um dos
meios de salvação de que o Brasil pode lançar mão. Nem mesmo é o mais eficaz.
Pura e simplesmente é o único.
Em outras palavras, significa isto
que sem a ação do Catolicismo sobre os caracteres, profundamente deprimidos
pela corrupção contemporânea, não é possível a reedificação
do Brasil em ruínas. Sem a aplicação cabal dos princípios católicos em nossa
vida econômica e social não é possível a reorganização de nossa fisiologia
política e social, profundamente perturbada. Em tudo e por tudo, a salvação só
pode vir com Catolicismo, e pelo Catolicismo.
Isto posto, pergunta-se: quanto tempo durará esta “recatolicisação”?
A pergunta, que é muito freqüentemente formulada, é
ao mesmo tempo ingênua e angustiosa. Ingênua porque supõe que a reforma
fundamental da estrutura moral, política, social e econômica de um povo pode
ser feita de modo tão mecânico e tão regular que possa ser previsto o tempo que
ela durará. Angustiosa porque reflete o
receio profundamente razoável de que, antes
de ser levada a cabo a obra da reforma religiosa, um cataclismo fatal
possa destruir o Brasil.
Voltemos, porém, ao que afirmamos: só há para o
Brasil uma salvação que está na Igreja. Se só há esta, é inútil apelar para
outras. É preciso, de qualquer maneira, que venha da Igreja a atividade
providencial que impedirá o desabamento definitivo de nossa Pátria. Não adianta
apelar para outros meios. O caminho é só este.
Se o caminho é só este, a política dos católicos se
define com simplicidade e clareza. É preciso, em primeiro lugar, evitar a todo
o custo o cataclismo comunista. Assim, as hostes católicas encontrarão um
ambiente em que possam livremente tratar da reconstrução do Brasil sobre a
pedra angular de toda a verdadeira civilização, que é CRISTO. E, dias mais ou dias menos, anos mais
ou anos menos, o Brasil estará definitivamente reintegrado no seio amantíssimo
da Igreja.
A grande obra dos católicos pode, pois, ser
considerada sob dois aspectos diversos. O primeiro consiste na repressão ao
comunismo. A segunda na obra positiva do reerguimento
nacional sobre as bases católicas.
A primeira obra, os católicos podem e devem levá-la
a cabo eficazmente organizando-se de forma moderna, ativa, vigorosa, à margem
de preocupações partidárias.
O segundo, podem realizá-la por meio de uma atividade intensa, metódica, racional e,
quase diria, científica.
No entanto, uma e outra tarefa estão ameaçadas de
um colapso funestíssimo: a deflagração de alguma
revolução burguesa.
Realmente não é difícil imaginar o transtorno que
uma revolução burguesa traria à obra dos católicos.
Em primeiro
lugar, as agitações, as discórdias, as perturbações decorrentes da guerra civil
preparariam um ambiente ideal para a propaganda comunista. Consta-nos até que a
palavra de ordem da III Internacional para a América é favorecer a preparação
de revoluções burguesas que prenunciem a grande revolução social.
Em segundo lugar, o regime constitucional seria
provavelmente suspenso por tempo indeterminado. Com isto, a Igreja ficaria
colocada sob o poder discricionário de algum Cesarete,
isto é, sob uma nova e perigosa espada de Dâmocles. A atividade apostólica
perderia sua liberdade. E, com isto, perderia muito de sua eficiência.
Em terceiro lugar, a inevitável desorganização da
vida social, trazida por qualquer revolução, se refletiria na ação católica.
Digam os Diretores de Congregação os transtornos que lhes trouxe a revolução de
32. Pode-se facilmente avaliar por aí os inconvenientes indiretos de uma
revolução.
Não espanta, pois, que nosso programa seja de paz.
Os maiores riscos e sacrifícios nos parecerão
pequenos, se necessários para sua realização.
Concordam com nosso programa os leitores do “Legionário”?
Pensamos que sim. Mas gostaríamos
de ouvi-los.