A última forma de propaganda inventada pelo
“governo” comunista de Valência é a de passar como
católico. Nesse sentido são muito instrutivos dois telegramas da Agência Havas, ambos procedentes de Paris e publicados nesta
Capital a 24 de dezembro último. Referiam declarações de dois espanhóis,
partidários de Valência, chegados então a Paris. O primeiro é o “escritor de
vanguarda José Bergamim... conhecidamente católico...”
(sic); eis os pontos principais de suas declarações:
a) “Acabam de
entrar para a Frente da Juventude Espanhola as Juventudes Católicas...”
b) “No
futuro, todas essas tendências se ajustarão ao ideal do socialismo federativo,
em que se baseará a Espanha do porvir...”
O segundo é o “Sr.
José Maria Izaurieta, delegado do Sr. Irujo, Ministro basco do governo de Valência, o qual, em
entrevista à Agência Havas, explicou as razões porque
os nacionalistas bascos lutam ao lado do governo republicano...” Vejamos o que de mais
importante declarou o Sr. Izaurieta:
a) Os
militares e seus aliados, levantaram-se em armas para destruir a vida própria
dos bascos...”
b) “Pretendiam
destruir as nossas organizações como a Solidariedade dos Trabalhadores Bascos e
a Associação dos Lavradores Bascos, organizações cristãs que contam 65.000
membros...”
c) “Em sua
loucura de destruição, chegaram a considerar o desterro do clero basco...”
d) “Por outro
lado, como cristão, não podíamos vacilar entre a violência das armas e os meios
legais... Nas mãos dos chamados defensores da religião pereceram centenas de
jovens, pais de família... Sem julgamento, sem declarações, foram executados
pelas autoridades que pretendem defender a religião e a ordem. Em Guipuzcoa houve muitos
povoados em que, enquanto mandaram os chamados “vermelhos”, não ocorreu uma só
prisão. Desde que os partidários de Franco impuseram o seu
domínio, tombaram às dezenas, camponeses profundamente católicos e sacerdotes
que não exerciam nenhuma atividade política”.
e) “O
movimento de Franco nada tem de católico e seus partidários quiseram fazer do
catolicismo uma etiqueta para disfarçar a mercadoria avariada. Como basco e
crente, protesto contra os crimes, sacrilégios e as atrocidades cometidas pelos
dois partidos: ‘rebelde e governista’”.
Até aí as declarações dos Srs. Bergamim
e Izaurieta, ambos dizendo-se católicos e ambos
partidários de Valência e portanto do comunismo. No interesse geral, pois é
necessário que os católicos conheçam sua doutrina, vamos tomar as teses
expostas pelos dois enviados de Largo Caballero e diante delas
erguer o pensamento católico, único que é nítido e claro na época confusionista que é a presente.
1) A tese dominante na argumentação do Sr. Bergamim é a de que pode haver união entre católicos e
socialistas, entre católicos e comunistas; por isso o Sr. Bergamim
refere “a entrada das Juventudes
Católicas (!) para a Frente da Juventude Espanhola” e afirma que “no futuro todas as tendências se ajustarão
ao ideal do socialismo federativo”.
Há aí uma afirmação falsa; é a do apoio das “Juventudes Católicas” aos comunistas
espanhóis. Essas “Juventudes” não são
“católicas”, embora o diga o Sr. Bergamim que se diz “conhecidamente católico” (!). Já lá está no Evangelho o
aviso de Nosso Senhor Jesus Cristo aos cristãos dos últimos tempos, e os de
agora a devem tomá-lo como se o fossem: “Então se alguém vos disser: Aqui está o
Cristo ou ali; não lhe deis crédito. Porque se levantarão falsos cristãos e
falsos profetas... Se pois vos disserem: Ei-lo, está
no deserto: não saiais. Ei-lo, aqui, no recôndito da
casa; não deis crédito”.
E é Pio XI, com quem está o verdadeiro Cristo, quem responde na
Encíclica “Quadragesimo Anno” as afirmações de todos os que pretendem unir,
numa ação comum, o Catolicismo e o socialismo, de todos os que dizendo-se
católicos também se dizem socialistas. Eis as palavras de S. Santidade
afirmando que “catolicismo e socialismo
são termos contraditórios”.
“E se o
socialismo estiver realmente tão moderado no tocante à luta de classes ou à
propriedade particular, que já não mereça nisto a mínima censura? Terá
renunciado por isto à sua natureza essencialmente anticristã? Eis uma dúvida,
que a muitos trás suspensos. Muitíssimos católicos convencidos de que os
princípios cristãos não podem jamais abandonar-se nem obliterar-se, volvem os
olhos para esta Santa Sé e suplicam instantemente que definamos se este
socialismo repudiou de tal maneira as suas falsas doutrinas, que já se possa
abraçar ou quase batizar, sem prejuízo de nenhum princípio cristão. Para lhes
respondermos, como pede a Nossa paterna solicitude, declaramos:
“O
socialismo quer se considere
como doutrina, quer como fato histórico, ou como “ação”, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da
verdade e da justiça nos pontos sobreditos, não pode conciliar-se com a
doutrina católica; pois concebe a sociedade de modo completamente avesso à
verdade cristã.
“Com
efeito, segundo a doutrina cristã, o homem sociável por natureza é colocado
nesta terra, para que, vivendo em sociedade e sob a autoridade ordenada por
Deus, cultive e desenvolva plenamente todas as suas faculdades, para louvor e
glória do Criador, e pelo fiel cumprimento dos deveres da sua profissão ou
vocação, qualquer que ela seja, granjeie a felicidade temporal e eterna. Ora o socialismo,
ignorando por completo ou desprezando este fim sublime dos indivíduos e da
sociedade, opina que o consórcio humano foi instituído só pela vantagem
material que oferece. E na verdade do fato que o trabalho convenientemente
organizado é mais produtivo que os esforços isolados, os socialistas concluem
que a atividade econômica deve necessariamente revestir uma forma social. Desta
necessidade segue-se, segundo eles, que os homens por amor da produção são
obrigados a entregar-se e sujeitar-se completamente à sociedade. Mais: estimam
tanto os bens materiais que servem à comodidade da vida, que afirmam deverem
pospor-se e mesmo sacrificar-se quaisquer outros bens superiores e em
particular a liberdade às exigências de uma produção ativíssima. Esta perda da
dignidade humana, inevitável no sistema da produção “socializada”, julgam-na bem compensada com a abundância dos bens
que, produzidos socialmente, serão distribuídos pelos indivíduos, e estes
poderão livremente aplicar a uma vida mais cômoda e faustosa. Em conseqüência a
sociedade sonhada pelo socialismo não pode existir nem conceber-se sem
violências manifestas; por outra parte goza de uma liberdade não menos falsa,
pois carece de verdadeira autoridade social; esta não pode fundar-se nos
cômodos materiais, mas provém somente de Deus Criador e fim último de todas as
coisas”.
E se este
erro, como todos os mais, encerra algo de verdade, o que os Sumos Pontífices
nunca negaram, funda-se contudo numa própria concepção da sociedade humana,
diametralmente oposta à verdadeira doutrina católica. Socialismo religioso,
socialismo católico, são termos contraditórios: “ninguém pode ser ao mesmo tempo bom
católico e verdadeiro socialista”.
2) A tese do Sr. Izaurieta,
toma a questão sob o ponto de vista regional, sob o prisma mesquinho da
política de campanário e pretende justificar união dos bascos que se dizem
católicos, aos comunistas ateus, tendo em vista os altos interesses (!) da
defesa e da independência da coletividade basca. É o primado do temporal, é a
colocação do “separatismo basco”, do
político, portanto, acima da ordem espiritual. E qual é a doutrina católica
sobre a matéria?
A Igreja quer que os católicos, como católicos, fiquem fora e acima de
qualquer partido político; como cidadãos,
porém, podem aderir ao partido que entenderem, “desde que nele a Igreja não tenha denunciado erros doutrinários, ou
que o mesmo constitua um perigo de desvio espiritual”; é o que diz Maritain. Ora, o Sr. Izaurieta declara-se
católico, mas como cidadão basco, enganado pela isca de “separatismo”, está unido ao Partido Comunista de Valência; e haverá partido ou doutrina política mais condenada do
que esta? É, aliás, o que já disseram os Bispos de Vitória e de Pamplona, precisamente os da região Basco-Navarreza,
condenando a atitude dos correligionários do Sr. Izaurieta:
“O que é
absolutamente ilícito
“Menos
lícito é, melhor, absolutamente ilícito é, depois de dividir, unir-se ao inimigo
para combater o irmão, confundindo o ideal de Cristo com o de Belial, entre os quais não há acordo possível; e o ideal,
prescindindo de outros que quiçá queiram conservar-se incontaminados, é o
extermínio do inimigo, do irmão neste caso, já que a intenção primeira de toda
a guerra é a derrota do adversário.
“Chega a iliceidade à monstruosidade quando o inimigo é este monstro
moderno, o marxismo ou comunismo, hidra de sete cabeças, síntese de toda
heresia, oposto diametralmente ao cristianismo em sua doutrina religiosa,
política, social e econômica. E quando o Sumo Pontífice, em documentos recentíssimos, lança anátema ao comunismo, e previne contra
ele todos os poderes, ainda não cristãos, ele assinala como aríete destruidor
de toda civilização digna de tal nome, dar a mão ao comunismo no campo de
batalha; e isto na Espanha, e ainda mais neste cristianíssimo país vasco-navarrez é aberração que só se concebe nos iludidos,
que cerraram os olhos à luz da verdade, que falou por seu Oráculo na terra”.
E quanto às acusações de atrocidades, o Sr. Izaurieta é muito amável para o governo de Valência; parece
ignorar tudo o que se fez antes e depois da Revolução em todos os lugares onde
os comunistas dominaram. E evidentemente todas as violências inúteis que os
nacionalistas tenham cometido ou venham a cometer são condenadas pela Igreja;
mas até agora não temos nenhuma notícia oficial quanto aos fuzilamentos de
sacerdotes católicos da região basca, ao passo que temos notícia de milhares em
toda a Espanha comunista. Isto os católicos (!) senhores Bergamim
e Izaurieta não vêem!...
Aproveitamos assim as declarações dos “católicos-comunistas”
espanhóis para expor a doutrina católica relativa a esses dois pontos
importantíssimos da vida social. E agora que o confucionismo domina, e que
todos pretendem estar ao mesmo tempo com a verdade, é preciso que se saiba onde
ela realmente está. A voz de Roma, a voz do Sumo Pontífice é a única infalível;
não há outro Cristo, nem no deserto, nem no mais recôndito das casas. Só do
Vaticano descem palavras da vida eterna.