O “Legionário” não é um órgão
político. Por esta razão, ainda não lhe parece oportuno emitir conceitos sobre
as diversas candidaturas que se vão delineando claramente na tela da política
nacional. Por enquanto, nenhuma destas candidaturas se definiu de modo preciso,
no que toca os princípios básicos da civilização católica no Brasil. Quando
muito temos ouvido, uma ou outra vez, vagas afirmações cristãs, que
absolutamente não nos bastam. Quando encaixada no vocabulário
político a palavra “cristão”, é como os remédios de homeopatia, que
admitem diversas dinamizações. Ora, nós católicos não admitimos um cristianismo
dinamizado ou diluído. Só nos contentamos com o cristianismo total, isto é, só
nos damos satisfeitos quando nos falam positiva e claramente de catolicismo, e,
enquanto não aparecer uma candidatura que nos fale em alto e bom tom dos
direitos da Igreja Católica, Apostólica e Romana, prometendo respeitá-los e
apresentando garantias morais suficientes para nos persuadir que essas
promessas não serão vãs, não descruzaremos os braços.
Como cidadãos é certo, poderemos sentir nossas
preferências por um ou por outro lado, mas como católicos só há um preço
mediante o qual se possa obter nossa simpatia: é o respeito a nosso direito de
consciência. É, pois, com um olhar de inteira neutralidade, que assistimos por
hora às manobras tendentes a consolidar as diversas candidaturas que vão
surgindo.
Desde já, porém, devemos declarar, que, acima dos
interesses pessoais e mesquinhos ligados à questão da sucessão presidencial,
todos os brasileiros devem colocar três questões fundamentais, cuja solução não
poderá e não deverá ser prejudicada pelas lutas políticas, por mais violentas
que venham a ser. Passemos a examinar essas três questões:
Em primeiro lugar, é necessário que os dirigentes
de todas as forças políticas anticomunistas não se esqueçam de que a Pátria
espera delas um combate sem tréguas aos inimigos da Civilização.
Não somos da opinião de que as forças
anticomunistas se devam fundir em uma agremiação única, para dar combate à
hidra vermelha. Um partido que abrangesse simultaneamente católicos e
protestantes, liberais e integralistas, monarquistas e republicanos, seria
politicamente um monstro. Só cérebros primários
poderiam conceber a possibilidade de se constituir um tal agrupamento.
No entretanto, convém que
liberais, integralistas, monarquistas, republicanos, etc., não se esqueçam de
que a Pátria espera de todos eles uma irredutível hostilidade perante os
comunistas.
A opinião pública deverá fulminar com um violento
anátema a corrente que, para granjear adeptos, se atreve a “flirtar” com a esquerda, no
momento entre todos grave, em que o Tribunal Especial vai condenar os inimigos
da Nação.
A uma tal corrente, aos seus parlamentares, seus “leaders”, seu
candidato, os católicos não deveriam dar um minuto de trégua ou de quartel: em
tempo de guerra, os soldados fiéis atiram sem vacilação contra os desertores
que se passam para as linhas inimigas.
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Outra coisa que deverá ser poupada na luta política
é a unidade nacional. Consideramos simplesmente vergonhoso que certos jornais
procurem transformar a luta pela sucessão presidencial em uma vil corrida dos
Estados mais fortes, para a conquista do poder. A eventual luta entre algum
candidato mineiro, com algum gaúcho ou algum paulista não pode ser transformada em luta de Minas contra São Paulo ou o Rio
Grande porque se, de quatro em quatro anos, Minas, São Paulo e o Rio Grande
lutarem entre si, como lutariam pequenas nações independentes, dentro de
cinqüenta anos não haverá mais Brasil.
E é preciso que os
sonhadores e os tolos não se iludam a respeito do seguinte: no dia em que o
Brasil se fracionasse em duas ou três repúblicas Independentes, uma delas
cairia na mão dos ingleses, outra na dos americanos, e parte da outra na dos
alemães e japoneses. Independente, só ficaria na melhor das hipóteses, São
Paulo, a quem restaria o destino inglório de viver trêmulo e humilhado entre
povos escravos, em vez de viver altivo e tranqüilo em um povo de irmãos.
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Finalmente a terceira coisa que é preciso
salvaguardar é a paz.
Os telegramas do sul nos falam em certos rumores de
que alguém estaria armando tropas, para resolver a seu modo a questão da
sucessão presidencial.
Ora, saiba-o algum caudilho que esteja às ocultas
afiando a sua faca, o recurso às armas é no momento atual um destes crimes que
não tem absolvição no Tribunal do patriotismo.
Não queremos entrar, aqui, em discussões
doutrinárias sobre o direito de revolução. Basta-nos afirmar que, na dura
quadra em que vivemos, deflagrar a guerra civil é um crime de que só algum
Calabar não se envergonhará.
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Se os brasileiros souberem manter incólumes estes
três grandes princípios que devem nortear sua atividade política, o Brasil
poderá enfrentar a tormenta.
Mas se a ambição de politiqueiros vulgares arrastar
nos conflitos a paz nacional, a unidade da pátria ou a estabilidade da
propriedade e da família, o Brasil só terá um destino diante de si: o da China.