Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Sete Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

O Legionário, Nº 209, 13 de setembro de 1936

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O ingênuo Sr. Leon Blum, que, movido de sentimentos humanitários, quer fazer cessar a guerra civil na Espanha, não tem poupado esforços para estabelecer um cordão de isolamento entre os beligerantes. Esse cordão é o famoso pacto de "não intervenção" projetado pelo eminente governador (...) da França.

No entanto, S. Ex.a esqueceu-se de incluir, entre as potências signatárias do pacto de não-intervenção, as nações ibero-americanas.

Conseqüência: os jornais nos informam que, em declaração prestada à Câmara mexicana, o presidente Cardeñas afirmou que "o governo do México colocara à disposição dos dirigentes de Madri, em Vera Cruz 20.000 fuzis de 7 milímetros e 20 milhões de cartuchos. Fora igualmente autorizada a venda de 5 mil fuzis da fábrica nacional da Colômbia".

Assim, enquanto o pacto de não intervenção paralisa os esforços ítalo-germânicos em prol dos rebeldes, a Rússia fica com as mãos livres para exportar para Madri, via América Latina, todo o armamento de que dispõe.

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Enquanto as nações soviético-latinas auxiliam com todas as suas forças os seus amigos de Madri, o que fazem as nações católico-latinas por seus irmãos de Burgos?

Discutem filosofia do Direito, para provar que não são obrigadas a intervir.

O Brasil, a Argentina, o Chile, assim procedem. E, no entanto, são países católicos. Será possível que os católicos se desinteressem dos destinos da civilização? Não. É que, tanto no Brasil quanto na Argentina ou no Chile eles "não pesam na balança".

Até quando durará isto? Nós, os filhos da luz, resignar-nos-emos a obedecer cegamente os filhos das trevas e da dubiedade?

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"O Estado de S. Paulo" publicou uma correspondência de Paris, em que se afirma que o governo do Sr. Leon Blum está praticando, em relação aos católicos, a política da "mão estendida". Quer isto dizer que o governo bolchevizante do Sr. Blum quer obter as simpatias dos católicos.

É preciso, nessa hora grave de confusão e de perigo, que fique bem esclarecido o verdadeiro sentido da mencionada correspondência.

Entre os católicos europeus, e especialmente os da França, não têm faltado espíritos transviados, que têm julgado possível uma cooperação com as forças da extrema esquerda. Mas o Santo Padre, em muitos e enérgicos documentos, já estigmatizou como imoral e errônea essa política, toda feita de ingenuidade e de flexibilidade doutrinárias.

Não têm faltado, ultimamente, declarações solenes e peremptórias de todas as autoridades eclesiásticas do mundo inteiro.

Fica, pois, bem claro que, da parte dos católicos, não há a menor simpatia ou conivência com os assalariados de Moscou. Não é possível qualquer acordo, quando estão frente a frente Cristo e Barrabás.

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Por uma pastoral do Episcopado polonês, verifica-se que também na Polônia os comunistas lançaram mão de seu conhecido manejo, consistente em formar "frentes populares" sovietizantes, que preparem o caminho ao comunismo. É a mesma manobra da França, Espanha, Chile, Inglaterra, etc.

E ainda há gente que, no Brasil, não quer reconhecer quais foram os verdadeiros móveis da Aliança Libertadora.

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Entre as grandiosas manifestações religiosas provocadas pelo Congresso Eucarístico de Belo Horizonte, destacamos com especial interesse e carinho a mensagem de 6 mil operários paulistas, entregue pelo Ex.mo Rev.mo Sr. Dom José Gaspar de Affonseca e Silva, ao virtuoso Arcebispo da capital mineira.

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Consta-nos que está sendo organizada em todo o País uma Liga de Defesa Nacional, que tem fundado centros de brasilidade em diversas cidades.

Qualquer atividade desenvolvida a favor de um nacionalismo prudente, mas positivo merece toda a nossa simpatia.

Não estamos muito bem informados sobre a verdadeira índole desse movimento, e de sua posição perante o Catolicismo. Mas o fato de entre os aderentes do movimento se encontrar o eminente professor Everardo Backheuser é auspicioso indício de sua boa orientação.

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Um telegrama da Espanha informa que os três delegados do governo de Madri junto a Sociedade das Nações representam as três mais importantes facções da opinião espanhola (da opinião governista, bem entendido). Essas facções seriam o "socialismo extremista" - melhor seria dizer de uma vez "comunismo" - o socialismo moderado, e um enigmático partido católico e monarquista de que nunca ouvimos falar, e que pleiteia a instauração de uma "monarquia sem monarca" (sic).

Não sabemos como se poderia realizar essa famosa "monarquia sem monarca". O que é certo é que, além da monarquia sem monarca, o tal partido católico também deverá pleitear um Catolicismo sem sacerdotes, pois que o governo de Madri mata quantos clérigos lhe caem nas garras.

Parece-nos que esse partido de monarquistas antimonárquicos e católicos anti-eclesiásticos não existe a não ser... na imaginação das agências telegráficas confusionistas.

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Há quem se fie em uma amenização das diretrizes anticatólicas do nazismo. Realmente, a linha de conduta de Hitler foi abrandada em virtude de uma intervenção das chancelarias de Viena e Roma, que impuseram, como condição de sua solidariedade internacional ao Reich, um recuo da ofensiva anti-religiosa do Führer.

No entanto, sob as cinzas, crepitam brasas ameaçadoras. O Sr. Rosenberg, um dos dirigentes da Educação no III Reich, fez há dias um discurso declarando que "as recompensas celestes" não movem mais os homens, de forma eficaz, à prática do bem.

Se a própria perspectiva de uma felicidade eterna não move mais os homens a observar os preceitos da moral, que recurso resta à humanidade? Estimular os homens por meio da perspectiva de recompensas terrenas? Na seção criminal da imprensa quotidiana, vemos sempre notícias de crimes praticados pelo desejo imoderado de fruir da felicidade terrena. Mas atos de virtude praticados em virtude desse desejo não se encontram.

Será possível que, sob o III Reich, a ganância não produza mais ladrões, mas homens honestos? Que o nudismo não produza a corrupção, mas a castidade?

Creia nisto quem puder...

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Terminamos nessas notas de hoje com esse "capolavoro" (obra-prima) das oposições coligadas na Câmara Federal.

Estavam reunidos representantes das oposições estaduais, para estudar a última das mil e uma propostas do Sr. Maurício Cardoso, para um congraçamento com a maioria.

Em linguagem austera e grave, os diários anunciaram que, entre os deputados da minoria, havia acordo unânime quanto à "elaboração de um programa de governo a ser executado pelo futuro presidente, mas era condição preliminar, para a elaboração desse programa, a escolha prévia do candidato à futura presidência".

Em outros termos, desde que se encontrasse um homem que satisfizesse todas as correntes, estaria tudo bem. O programa seria questão de detalhe. A tal ponto que, conforme os jornais noticiaram, o candidato escolhido seria convidado a colaborar na confecção do programa.

Mas, se os interesses nacionais estivessem em primeira plana, como seria possível escolher um candidato, sem se conhecer previamente seu programa? Como afirmar que A ou B governará bem, se não se sabe sequer como A ou B pensam em dirigir os negócios públicos?

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Telegrama da Espanha transmite as efusões sentimentais do Visconde de Hastings, chefe de um serviço de saúde inglês posto à disposição das forças marxistas.

À vista do derramamento de sangue, o impressionável Lord telegrafou a todos os países do mundo, denunciando o padecimento de mulheres e crianças que ele tem presenciado.

Não é normal a complacência com que esse visconde serve os marxistas em lugar de servir os rebeldes, o que estaria mais de acordo com seu título nobiliárquico.

Nenhuma estranheza pode, porém, provocar tal fato. Lord Hastings é marido da famosa Lady Hastings que, com Lady Cameron, veio ao Brasil socorrer Luiz Carlos Prestes.

São singularidades de inglês rico: em lugar de se compadecer das famílias cujos chefes os prestistas assassinaram, Lady Hastings se condói do autor dos morticínios de novembro.

E seu marido cuida dos marxistas, em lugar de se condoer com o destino dos que tombam em defesa da civilização.

Mas, quando os Prestes e Ardañas acabarem com todos os milhardários e todos os viscondes, o que pensarão Lord e Lady Hastings?


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