Integralismo e Comunismo

 

"O Legionário" Nº 209, 13 de setembro de 1936

 

Na Câmara Federal, propõe-se o fechamento da Ação Integralista Brasileira, sob a alegação de que essa agremiação conspira contra as instituições vigentes, aliciando homens e reunindo armas, para conquistar o poder.

Daremos nossa mais entusiástica adesão ao decreto de fechamento da Ação Integralista, se forem verdadeiras as acusações de que é ela alvo. Na quadra que atravessamos, é um crime conspirar contra as autoridades constituídas. Católicos que somos, não podemos, em princípio, pactuar com revoluções. São raríssimos os casos como o da Espanha, em que elas se tornam legítimas. No Brasil, a divisão entre os integralistas e os burgueses dos partidos liberais abriria uma deplorável brecha na frente anticomunista. E, portanto, seria gravemente antipatriótico qualquer investida integralista contra o atual governo.

Mas é necessário, é até indispensável, que o governo baiano e os deputados, que pleiteiam o fechamento da Ação Integralista, provem que, realmente, os "camisas verdes" estão conspirando. E, para isto, é preciso que exibam pela imprensa, para que todos os brasileiros a vejam, a documentação de que dispõem.

Nenhum motivo exime as autoridades de dar esta satisfação à opinião pública.

Não é exato que a dignidade do Poder Público seja obstáculo a que os governantes se dirijam francamente ao povo, para lhes dar contas de seus atos. Se é em uma democracia que vivemos, pratiquemo-la lealmente. E não tenhamos receio de, pelas colunas dos jornais ou pela tribuna parlamentar, dizer sempre ao povo as verdades necessárias para manter intacta a credibilidade da palavra oficial.

Estamos certos de que, se o Integralismo é um perigo para as instituições, ele ficará destruído pela simples publicação das provas de sua atividade subversiva. Acreditamos que até nas próprias fileiras integralistas haverá uma deserção em massa, desde que se prove que uma organização que se proclama o único anteparo da Nação contra o comunismo, está fazendo jogo de Moscou, e semeando a desordem exatamente no momento em que o Tribunal Especial vai julgar os delinqüentes de novembro passado.

Mas admitamos que as provas relativas às conspirações integralistas não sejam produzidas pelas autoridades. O que acontecerá?

Não é preciso ser profeta, para prevê-lo. O povo não confia no Sr. Juracy Magalhães. S. Ex.a, que, em 1933 foi tão correto para com os Prelados que visitaram S. Salvador, em 1936 deixou transparecer uma simpatia imprudente para com seus irmãos comunistas. A opinião, já de sobreaviso com quase todos os militares egressos do "tenentismo", colocou no índex o jovem governador da Bahia. E parece que não está de todo enganada.

Portanto, o espírito público se vê diante da seguinte dúvida: será realmente o Integralismo, que está conspirando? Ou é o governador baiano que está desarmando o Integralismo, para facilitar o jogo de Moscou?

É possível que esta última conjetura seja injusta. Mas como não reconhecer que ela não é absurda, e que, nos dias em que vivemos, é preciso usar de cautela, não apenas com a propaganda comunista das ruas, mas com seus próceres palacianos?

Está, pois, o Sr. Juracy Magalhães na grave obrigação de documentar suas acusações. E o Sr. Amaral Peixoto também.

Se não o fizerem, se deixarem pairar no ar uma dúvida muitíssimo séria a respeito dos móveis da caçada anti-integralista que empreenderam, seremos nós os primeiros a endossar a suspeita que eles não tentaram dissipar. É a lógica popular que o diz: quem cala consente.