Sete Dias em Revista
"O Legionário" Nº 208, 6 de setembro de 1936
Nossas primeiras palavras sejam de louvor ao Sr. Ministro da Guerra, pela energia vibrante da recente proclamação que S. Ex.a dirigiu às forças armadas. O Brasil tomou nota das promessas que lhe fez. E tudo indica que, na hora do perigo, a coragem do general João Gomes não lhe faltará.
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A Câmara baiana discute, agora, a regulamentação do ensino religioso naquele Estado. E os telegramas nos informam que os partidários situacionistas e oposicionistas se subdividiram, cada qual, em dois grupos, um favorável e outro contrário ao ensino religioso.
A se examinarem as coisas com rigor, constituiu uma exorbitância, a oposição de um grupo de deputados, ao ensino religioso. A Câmara da Bahia como qualquer outra Câmara estadual, não tem poderes para rejeitar o ensino religioso, que foi concedido a todos os brasileiros pela Constituição Federal. O que incumbe aos legislativos estaduais é apenas a regulamentação do assunto nos estabelecimentos de ensino estadual. E essa regulamentação, a Câmara não pode recusá-la.
Mas os anticlericais, sempre tão ciosos das leis quando elas lhes são favoráveis, mostram-se sempre agitadores irredutíveis, quando se trata de leis inspiradas em princípios religiosos.
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Mas há outro aspecto desse fato, que é muito mais interessante. Por que razão bifurcaram-se ambos os partidos que têm representantes na Câmara baiana? Por que os partidos não são formados em torno de idéias, mas em torno de pessoas. E quando - por acaso - se discutem idéias, vemos imediatamente que os partidos não têm a menor homogeneidade, querendo cada um de seus membros imprimir ao rumo dos acontecimentos diretrizes inteiramente diversas.
Mas sejamos francos. As idéias pouco interessam. Rota por instantes a unidade partidária, ela se recomporá logo que a questão do ensino religioso esteja resolvida. Enquanto não estiver em jogo política com "p" pequeno, a agitação nunca será grande.
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A Câmara estadual de São Paulo foi teatro de idêntica cena. O espírita Sr. Campos Vergal leu o manifesto da União Cívica Evangélica, e aderiu aos seus princípios. Até aí, nada de mais. Espíritas, protestantes, maçons, maometanos, ateus etc., todos eles se ligam facilmente, quando se trata de atacar a Igreja.
A nota curiosa, porém, está em que, imediatamente, levantou-se um deputado na bancada governista, e outro na oposicionista, para exprimir sua adesão ao programa da União Cívica Evangélica.
Tanto o programa do P.R.P. quanto o do P.C. tem a garantia expressa de que as reivindicações católicas de 1934 receberão sempre o apoio de seus representantes.
O programa da União Evangélica é contrário a tais reivindicações. Logo, o perrepista e o peceísta que aderiram ao manifesto protestante são contrários aos programas dos respectivos partidos.
Estão, pois, na obrigação moral de se desligar das correntes a que pertenciam, e de renunciar às respectivas cadeiras. E o P.R.P. e o P.C. estão na obrigação de, se tal renúncia não se der, expulsar os dois deputados faltosos.
O que acontecerá? Nenhuma coisa, nem outra. Comodismo está na ordem do dia.
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O mais curioso é que, enquanto as "Notas e Informações" de "O Estado de S. Paulo" ressoam constantemente com palavras simpáticas à Igreja de tempos a esta parte, o redator da seção parlamentar do "Estado", naquela linguagem pomposa e circunspecta que lhe conhecemos, encheu-se de simpatias pelo documento da União Evangélica.
É sempre o ecletismo. Dirão que exageramos na insistência com que denunciamos este mal. Tal não se dá. O ecletismo está tão generalizado, que nunca será suficiente denunciá-lo aos católicos. "Clama, ne cesses", diz a Escritura.