Perigo irreal?

 

“O Legionário” Nº 195 - 12 de abril de 1936

 

Os oposicionistas empedernidos afirmam que o furor anticomunista, de que se acha acometido o Governo Federal, não é senão um pretexto para permitir ao Presidente da República a decretação do estado de guerra.

Evidentemente, é necessário que os católicos possam ver claro através de tais manejos. E ver claro nem sempre é fácil.

No entanto, procuremos raciocinar, e raciocinar logicamente, construindo sobre fatos conhecidos para conclusões seguras.

Os jornais nos contam a prisão de numerosos líderes comunistas, um senador, deputados, o Prefeito do Distrito Federal, professores universitários, etc., etc. E, no entanto, nada nos dizem sobre prisões de elementos proletários. Tal silêncio, à primeira vista, parece confirmar a opinião dos que negam a realidade do perigo comunista entre nós. Ao menos a julgar pelas listas publicadas, entre os conspiradores só se têm encontrado figurões burgueses. O comunismo, no Brasil, não seria, portanto, assunto para revoltas proletárias, mas para pequenos e inofensivos golpes de burgueses spleenéticos, facilmente evitáveis.

Qualquer pessoa sensata, entretanto, pode imaginar que, à polícia, não conviria publicar senão as prisões de que o público, mais cedo ou mais tarde, teria conhecimento dada a importância política ou social das pessoas aprisionadas. Quanto aos demais, o silêncio é o que há de mais recomendável.

Tudo nos leva a supor que as prisões também devam ter sido numerosas no seio das classes populares. Mas como se trata aí somente de uma suposição, ponhamo-la de parte: queremos argumentar tão somente com fatos verídicos e seguros.

A polícia apurou - e os tribunais serão forçados a se pronunciar sobre isto dentro em breve - que um Senador Federal, mais de um deputado, o Prefeito do Distrito Federal, professores de Escolas Superiores, pessoas de grande projeção na alta sociedade, etc., etc., estavam conspirando para implantar no Brasil o comunismo. Simples passatempo de burgueses mal humorados? Não. Passando dos planos à ação, os conspiradores procuraram pelos mais irredutíveis adversários da ordem social, e puseram-se com eles em íntimo contato. Foram trocadas muitas cartas, muitos bilhetes, muitas correspondências. E isto tudo está nos arquivos da polícia. As conversações e a correspondência não ficaram, aliás, simples idílio de comunistas ricos com comunistas pobres. Tramou-se, cabalou-se, conspirou-se até que o dia esteve próximo, em que uma segunda bernarda ameaçava enlutar novamente o País. Interveio então a polícia, conduzida pela Providência até o reduto em que se ocultava “corajosamente” Luiz Carlos Prestes. Pôs-se ao corrente de toda a trama. Veio o estado de guerra. E as prisões, cada vez mais numerosas e mais escandalosas, vêm mostrar como o caruncho tinha penetrado fundo, nas vigas mais importantes do edifício social.

Se o corpo de delito fosse só este, ainda se compreende que a dúvida persistisse entre alguns brasileiros cegados pelo ceticismo ou pela má fé. Mas os “leaders” comunistas burgueses nunca se pejaram em mostrar suas preferências pelo credo marxista, e em se aproveitar das posições de mando que o Estado burguês lhes havia confiado, para levar a efeito uma tenaz campanha a favor do comunismo. E a maior prova de que não era preciso ter os olhos de lince da Polícia, para perceber o perigo, está em que os católicos, que são inteiramente neutros em matéria partidária já vinham denunciando de longa data a tendência educacional comunista de certos elementos, principalmente dos que trabalhavam à sombra do Sr. Pedro Ernesto. Leia-se o que escreveram sobre isto Tristão de Ataíde, Alexandre Correia, Leonardo Van Acker, e “O Legionário”, e ter-se-á disto uma prova cabal.

Ora pergunta-se: provado que, realmente, todo o elemento encarcerado em virtude da lei de segurança e do estado de guerra é comunista, como duvidar da realidade do perigo comunista, ainda que não sejam muitos os proletários detidos pela Polícia?

Aliás, cumpre notar que, entre os prisioneiros políticos, figuram diversas pessoas intimamente ligadas ao situacionismo dominante, a quem davam diariamente o beijo de Judas. Se o móvel das medidas repressivas fosse de dizimar as fileiras da oposição, que necessidade teria o Governo de fulminar alguns dos elementos que lhe eram mais estreitamente ligados e que em circunstâncias delicadas, lhe deram um apoio decisivo?

Parece-nos, pois, que nenhum católico bem intencionado pode negar às autoridades o apoio de que necessitam para levar a cabo sua obra saneadora.

Defendendo assim o que ainda resta de católico nas nossas instituições, teremos cumprido nosso dever.

Mas é preciso também que este dever não se exerça apenas no seu aspecto repressivo, mas no seu aspecto construtivo. Nesse terreno, qual o dever dos católicos? Vê-lo-emos em nosso próximo número.