Os oposicionistas empedernidos afirmam que o furor
anticomunista, de que se acha acometido o Governo Federal, não é senão um pretexto
para permitir ao Presidente da República a decretação do estado de guerra.
Evidentemente, é necessário que os católicos possam ver
claro através de tais manejos. E ver claro nem sempre é fácil.
No entanto, procuremos raciocinar, e raciocinar logicamente,
construindo sobre fatos conhecidos para conclusões seguras.
Os jornais nos contam a prisão de numerosos líderes
comunistas, um senador, deputados, o Prefeito do Distrito Federal, professores
universitários, etc., etc. E, no entanto, nada nos dizem sobre prisões de
elementos proletários. Tal silêncio, à primeira vista, parece confirmar a
opinião dos que negam a realidade do perigo comunista entre nós. Ao menos a
julgar pelas listas publicadas, entre os conspiradores só se têm encontrado
figurões burgueses. O comunismo, no Brasil, não seria, portanto, assunto para
revoltas proletárias, mas para pequenos e inofensivos golpes de burgueses spleenéticos, facilmente evitáveis.
Qualquer pessoa sensata, entretanto, pode imaginar que, à
polícia, não conviria publicar senão as prisões de que o público, mais cedo ou
mais tarde, teria conhecimento dada a importância
política ou social das pessoas aprisionadas. Quanto aos demais, o silêncio é o
que há de mais recomendável.
Tudo nos leva a supor que as prisões também devam ter sido
numerosas no seio das classes populares. Mas como se trata aí somente de uma
suposição, ponhamo-la de parte: queremos argumentar tão somente com fatos
verídicos e seguros.
A polícia apurou - e os tribunais serão forçados a se
pronunciar sobre isto dentro em breve - que um Senador Federal, mais de um
deputado, o Prefeito do Distrito Federal, professores de Escolas Superiores,
pessoas de grande projeção na alta sociedade, etc., etc., estavam conspirando
para implantar no Brasil o comunismo. Simples passatempo de burgueses mal
humorados? Não. Passando dos planos à ação, os conspiradores procuraram pelos
mais irredutíveis adversários da ordem social, e puseram-se com eles em íntimo
contato. Foram trocadas muitas cartas, muitos bilhetes, muitas correspondências.
E isto tudo está nos arquivos da polícia. As conversações e a correspondência
não ficaram, aliás, simples idílio de comunistas ricos com comunistas pobres.
Tramou-se, cabalou-se, conspirou-se até que o dia esteve próximo, em que uma
segunda bernarda ameaçava enlutar novamente o País.
Interveio então a polícia, conduzida pela Providência até o reduto em que se
ocultava “corajosamente” Luiz Carlos Prestes. Pôs-se ao corrente de toda a
trama. Veio o estado de guerra. E as prisões, cada vez mais numerosas e mais
escandalosas, vêm mostrar como o caruncho tinha penetrado fundo, nas vigas mais
importantes do edifício social.
Se o corpo de delito fosse só este, ainda se compreende
que a dúvida persistisse entre alguns brasileiros cegados pelo ceticismo ou
pela má fé. Mas os “leaders”
comunistas burgueses nunca se pejaram em mostrar suas preferências pelo credo
marxista, e em se aproveitar das posições de mando que o Estado burguês lhes
havia confiado, para levar a efeito uma tenaz campanha a favor do comunismo. E
a maior prova de que não era preciso ter os olhos de lince da Polícia, para
perceber o perigo, está em que os católicos, que são inteiramente neutros em
matéria partidária já vinham denunciando de longa data a tendência educacional
comunista de certos elementos, principalmente dos que trabalhavam à sombra do
Sr. Pedro Ernesto. Leia-se o que escreveram sobre isto Tristão de Ataíde,
Alexandre Correia, Leonardo Van Acker,
e “O Legionário”, e ter-se-á disto uma prova cabal.
Ora pergunta-se: provado que, realmente, todo o elemento
encarcerado em virtude da lei de segurança e do estado de guerra é comunista,
como duvidar da realidade do perigo comunista, ainda que não sejam muitos os
proletários detidos pela Polícia?
Aliás, cumpre notar que, entre os
prisioneiros políticos, figuram diversas pessoas intimamente ligadas ao
situacionismo dominante, a quem davam diariamente o beijo de Judas. Se o móvel
das medidas repressivas fosse de dizimar as fileiras da oposição, que
necessidade teria o Governo de fulminar alguns dos elementos que lhe eram mais
estreitamente ligados e que em circunstâncias delicadas, lhe deram um apoio decisivo?
Parece-nos, pois, que nenhum católico bem intencionado
pode negar às autoridades o apoio de que necessitam para levar a cabo sua obra
saneadora.
Defendendo assim o que ainda resta de católico nas nossas
instituições, teremos cumprido nosso dever.
Mas é preciso também que este dever não se exerça apenas
no seu aspecto repressivo, mas no seu aspecto construtivo. Nesse terreno, qual
o dever dos católicos? Vê-lo-emos em nosso próximo número.