Legionário, N.º 188, 5 de janeiro de 1936

 

1936, ANO DE LUTA

 

O Sr. Getúlio Vargas é o homem de Estado mais frio e impassível que o Brasil conheceu. Todos nós já o vimos ladeando precipícios com o sorriso de quem desliza sobre estrada de rosas, e atacar feras com a displicência de quem brinca com lulus da Pomerânia.

Exatamente por isso, não podemos atribuir à paixão, mas exclusivamente a uma fria e lúcida visão de nossa situação política, o discurso com que o Sr. Getúlio Vargas saudou seus patrícios nos primeiros minutos de 1936.

Nesse discurso, o Chefe da Nação delimitou os campos, o que não é conforme a sua tática de despistamento. De um lado colocou o comunismo, e do outro as tradições cristãs do Brasil, principalmente palpitantes na vida doméstica e na piedade profunda do povo.

Portanto, para o Sr. Getúlio Vargas - que tem ilustres tradições anticlericais, documentadas no nome de Lutero, dado a seu filho - há no Brasil uma grande luta, e ela se desenvolve entre o catolicismo e o comunismo. Resolutamente, com uma firmeza que lhe faz honra, o Presidente se coloca no lado de nossas tradições cristãs. E, em um trecho que passará para a História, repudia desde já os parentes ou amigos que, servindo-se de relações pessoais, esperarem tolerância para seus empreendimentos hostis à ordem.

Se o Brasil quiser continuar cristão, deverá mobilizar todas as suas forças vivas contra o inimigo que audazmente tentou os seus golpes em Natal e Recife. Se o Brasil quiser afastar-se do Cristianismo, chegará inevitavelmente ao sovietismo, que é o polo para onde convergem todos os caminhos que se afastam de Roma.

Neste momento, julgamos indefensável que um brasileiro cônscio de suas responsabilidades procure ainda discutir a pessoa do Presidente da República, para lhe dar o apoio indispensável à cruzada preservadora a que se propôs. Não nos interessa se o Sr. Getúlio Vargas é ou não é sincero nos elogios que tece ao Cristianismo. O que nos interessa é que, no momento atual, ele é o detentor da suprema autoridade no Brasil, é o homem em cujas mãos a Constituinte depôs todos os elementos necessários para jugular a rebelião e o homem que se oferece para, com nossa colaboração, cumprir o seu dever de guardião da nacionalidade. E portanto só vemos, para todos os verdadeiros patriotas, um caminho: o de prestigiar a autoridade constituída, contra o bando de malfeitores cujo braço foi armado por Moscou contra o Brasil.

Isto posto, lembremos, porém, que para preservar as instituições cristãs não basta a ação policial de que o Estado é capaz. O comunismo é um mal profundo, decorrente da corrupção de todas as células e tecidos sociais. Se, portanto, quisermos enfrentar o mal, deveremos fazê-lo pelo combate às suas causas mais remotas e perigosas.

E a “causa causarum do mal não é outra coisa senão a irreligião.

Assim, pois, é um dever imperioso para todos os católicos ler com toda atenção a Encíclica do Santo Padre Pio XI ao Episcopado Brasileiro, relativamente à Ação Católica.

A Ação Católica é o exército leigo cuja formação o Vigário de Cristo reclama, para a recristianização do Brasil. E todo o leigo que se conservar alheio ao exército quando o Pastor Supremo o chama às armas é um desertor.

É a Ação Católica que vai empreender contra o comunismo o verdadeiro combate. Nesta luta, porém, é necessário que a solidariedade de todos os crentes conforte as autoridades civis e religiosas.

No limiar de 1936, não é outra a nossa palavra aos nossos leitores. O ano de 1936 será um ano de luta. Nesta luta, ou seremos soldados, ou desertores, ou heróis ou covardes.

Que, ao terminar o ano, cada um de nós possa dizer como o grande Patrono de nosso Estado bonum certamen certavi”, combati o bom combate.