O Sr. Getúlio Vargas é o homem de Estado
mais frio e impassível que o Brasil conheceu. Todos nós já o vimos ladeando
precipícios com o sorriso de quem desliza sobre estrada de rosas, e atacar
feras com a displicência de quem brinca com lulus da Pomerânia.
Exatamente por isso, não podemos atribuir à paixão,
mas exclusivamente a uma fria e lúcida visão de nossa situação política, o
discurso com que o Sr. Getúlio Vargas saudou seus patrícios nos primeiros
minutos de 1936.
Nesse discurso, o Chefe da Nação delimitou os
campos, o que não é conforme a sua tática de despistamento.
De um lado colocou o comunismo, e do outro as tradições cristãs do Brasil,
principalmente palpitantes na vida doméstica e na piedade profunda do povo.
Portanto, para o Sr. Getúlio Vargas - que tem
ilustres tradições anticlericais, documentadas no
nome de Lutero, dado a seu filho - há no Brasil uma grande luta, e ela se
desenvolve entre o catolicismo e o comunismo. Resolutamente, com uma firmeza
que lhe faz honra, o Presidente se coloca no lado de nossas tradições cristãs.
E, em um trecho que passará para a História, repudia desde já os parentes ou
amigos que, servindo-se de relações pessoais, esperarem tolerância para seus
empreendimentos hostis à ordem.
Se o Brasil quiser continuar cristão, deverá mobilizar
todas as suas forças vivas contra o inimigo que audazmente
tentou os seus golpes em Natal e Recife. Se o Brasil quiser afastar-se do
Cristianismo, chegará inevitavelmente ao sovietismo,
que é o polo para onde convergem todos os caminhos que se afastam de Roma.
Neste momento, julgamos
indefensável que um brasileiro cônscio de suas responsabilidades procure ainda
discutir a pessoa do Presidente da República, para lhe dar o apoio
indispensável à cruzada preservadora a que se propôs. Não nos interessa se o
Sr. Getúlio Vargas é ou não é sincero nos elogios que tece ao Cristianismo. O
que nos interessa é que, no momento atual, ele é o detentor da suprema autoridade
no Brasil, é o homem em cujas mãos a Constituinte depôs todos os elementos
necessários para jugular a rebelião e o homem que se oferece para, com nossa
colaboração, cumprir o seu dever de guardião da nacionalidade. E portanto só
vemos, para todos os verdadeiros patriotas, um caminho: o de prestigiar a
autoridade constituída, contra o bando de malfeitores cujo braço foi armado por
Moscou contra o Brasil.
Isto posto, lembremos, porém, que para preservar as
instituições cristãs não basta a ação policial de que o Estado é capaz. O
comunismo é um mal profundo,
decorrente da corrupção de todas as células e tecidos sociais. Se, portanto,
quisermos enfrentar o mal, deveremos fazê-lo pelo combate às suas causas mais
remotas e perigosas.
E a “causa causarum” do mal não é outra coisa senão a irreligião.
Assim, pois, é um dever imperioso para todos os
católicos ler com toda atenção a Encíclica do Santo Padre Pio XI ao Episcopado
Brasileiro, relativamente à Ação Católica.
A Ação Católica é o exército leigo
cuja formação o Vigário de Cristo reclama, para a recristianização do Brasil. E todo o leigo que se conservar alheio ao exército
quando o Pastor Supremo o chama às armas é um desertor.
É a Ação Católica que vai empreender contra o
comunismo o verdadeiro combate. Nesta luta, porém, é necessário que a
solidariedade de todos os crentes conforte as autoridades civis e religiosas.
No limiar de 1936, não é outra a nossa palavra aos
nossos leitores. O ano de 1936 será um ano de luta. Nesta luta, ou seremos soldados,
ou desertores, ou heróis ou covardes.
Que, ao terminar o ano, cada um de nós possa dizer
como o grande Patrono de nosso Estado “bonum certamen certavi”, combati o bom combate.