O comunismo no Rio de Janeiro

 

O "Legionário" n.º 71, 28 de dezembro de 1930

 

Não encontramos palavras suficientemente significativas para exprimir a satisfação de que nos sentimos possuídos, ao ter notícia das medidas enérgicas que as autoridades estão pondo em prática contra o comunismo, no Rio de Janeiro.

Compreenderam perfeitamente os detentores do poder, no Rio de Janeiro, que esta Revolução, cujo fim era abrir diante de nós a perspectiva de dias tranqüilos, em que os cidadãos laboriosos pudessem colaborar com as autoridades probas em prol do engrandecimento da Pátria, não poderia inaugurar em nosso País uma era de liberalismo romântico que nos viesse tirar a tranqüilidade e a estabilidade das instituições, acarretando a desconfiança nos mercados estrangeiros e dificultando a solução dos árduos problemas que temos diante de nós.

De fato, se, em nome do liberalismo, tivessem as autoridades do Rio a insensatez espantosa, ou a criminosa má-fé, de dar aos comunistas uma liberdade de pensamento que lhes serviria apenas de arma para atentar contra nossas tradições mais santas, contra nossos direitos mais caros, contra nossos anseios os mais justos, não encarnariam o espírito da maioria dos revolucionários, mas sim o espírito de demagogismo, autor das tragédias sanguinolentas, dos crimes em massa que a História catalogou com os títulos de "Revolução Francesa" e "Revolução Russa".

Impondo medidas sábias contra o comunismo, estabelecendo uma profilaxia cuidadosa para salvaguardar da morte o Brasil, as autoridades do Rio acabam de dar uma prova de seu patriotismo sincero, e ao mesmo tempo acabam de afastar de si uma das mais negras responsabilidades que suas consciências poderiam trazer, diante do Brasil futuro: o de, por má-fé ou por utopismo absurdo, haver plantado em nosso país a pior das sementes, a da luta de classes.

Só poderia desprestigiar tristemente a obra da Revolução o fato de ser ela, não o movimento moralizador por que a opinião pública ansiava, mas sim o movimento maldito, mil vezes maldito, que nos traria o liberalismo perigoso, causa futura da ruína de nossos lares, da dissolução de nossas famílias, da profanação de nossos tabernáculos, da destruição de nossos patrimônios, acumulados à custa de um trabalho honrado e sagrado.

Em um de meus últimos artigos, afirmei que os católicos estariam incondicionalmente ao lado das autoridades legítimas, desde que seus atos visassem alcançar para o Brasil a grandeza que merece, DENTRO DAS NORMAS DE NOSSOS SAGRADOS PRINCÍPIOS, DENTRO DO RESPEITO ÀS NOSSAS INTANGÍVEIS TRADIÇÕES. Fora desses princípios, fora dessas tradições, não contariam as autoridades somente com a absoluta falta de apoio dos católicos, mas sim com sua invencível, irredutível e heróica oposição. Oposição esta que todos os governos opressores, desde o cesarismo romano até o comunismo de Calles, não souberam nem puderam vencer.

O Sr. Chefe de Polícia do Rio de Janeiro agiu dentro de nossos princípios, respeitando nossas tradições. Não quis arremessar contra a opinião católica brasileira o mais grave dos insultos, que consiste em dar aos comunistas a liberdade de tramar contra a Igreja, contra a propriedade, contra a Pátria, as urdiduras negras de suas conspirações vis. Não teve a fraqueza criminosa de nos entregar, indefesos, aos agentes de Moscou. Não quis ser um Calabar. Arrostou com todas as antipatias surdas que sua atitude lhe haveria de trazer. Enfrentou as dificuldades imensas que uma repressão séria ao comunismo sempre traz. Arriscou sua própria vida, pois que a história recente do rapto do General Koutiepov bem demonstra o risco que correm aqueles que se opõem ao sovietismo (embora os partidários deste reclamem para si o direito de liberdade, que lhes facilita a perpetração de atentados contra a vida alheia). Agiu como um bravo, como um forte, como um brasileiro. A ele, pois, ao Dr. Getúlio Vargas e aos elementos que não querem que a Revolução seja deturpada por um liberalismo venenoso, nosso entusiástico apoio e nossas calorosas felicitações.

 

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