Monsenhor Pedrosa

 

Discurso pronunciado pelo Congregado PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA no salão de atos da Congregação de Santa Cecília, em 16 de junho de 1930, por ocasião do 23º aniversário de paroquiato de Monsenhor Pedrosa.

 

O "Legionário" n.º 60, 29 de junho de 1930

 

Monsenhor:

 

Ao receber a incumbência de interpretar os sentimentos da Pia União das Filhas de Maria e da Congregação Mariana de Santa Cecília, na data que hoje se comemora, não senti revolver-se em mim o natural temor de quem vê diante de si uma tarefa muito superior às próprias forças.

Compreendi, imediatamente, que muito feliz fora a indicação do meu nome, para vos exprimir os sentimentos dos marianos, em uma solenidade como esta, em que procuramos apenas dar largas ao afeto que vos tributamos por vossa bondade, à admiração que nos merece vosso saber.

De fato, se o orador da presente solenidade fosse eloqüente, o calor de suas frases, o ardor de suas expressões, poderiam ser considerados como recursos de sua eloqüência, chispas de sua inteligência.

Pelo contrário, se um orador destituído de recursos intelectuais abundantes - e é este meu caso -, se eu souber imprimir à minha pobre linguagem a intensidade de minha gratidão, se eu conseguir comunicar às minhas frases um pouco de minha amizade, a que atribuir este fato se não à força de minha sinceridade?

Verifiquei, pois, que a razão de minha escolha foi minha própria insignificância, mas verifiquei, também, que minha tarefa era fácil, pois que consistia em falar com o coração - com meu coração tão cheio de gratidão pelo muito que recebi de Monsenhor, tão cheio de confiança no muito que ainda receberei dele, em exemplos, em carinhos, em exortações, em bens de toda a sorte...

Minhas Senhoras, meus Senhores

É a vós que me dirijo agora, com o intuito de vos dizer o que sentem a Pia União e a Congregação, no dia em que se festeja o vigésimo terceiro aniversário da designação de Monsenhor Marcondes Pedrosa para o cargo tão cheio de duras responsabilidades, de Vigário de Santa Cecília.

Vós, meus Senhores, acabais de homenagear o Vigário incomparável que vela com constante dedicação pelas almas de que é extremoso pastor. Vós mesmos, por intermédio do Reverendíssimo Padre João Pavesio, homenageastes eloqüentemente os numerosos dotes intelectuais e morais de que é tão rica a personalidade do Vigário de Santa Cecília, viestes ofertar o tributo de vosso respeito por seu caráter adamantino, esmaltado pelas mais belas virtudes.

Agora somos nós, os marianos, que completaremos o quadro que vosso eloqüente intérprete traçou de Monsenhor, com o pincel justiceiro de sua admiração, fazendo-vos ver outro aspecto de sua atividade, onde descobrireis novas belezas de seu caráter, novas cintilações de seu zelo apostólico.

Falar-vos-ei do Pároco como Diretor de Congregação.

Somente nós, católicos, habituados com o mourejar constante de guerra contra os íntimos inimigos que sempre trazemos em nós, somente nós é que podemos avaliar de longe as grandes responsabilidades, os tesouros de paciência e de dedicação, de virtudes e de amor, que requer o manejo das almas.

A Igreja Católica, na linguagem de seus símbolos incomparáveis, é representada, às vezes, como um pelicano, ferindo o próprio peito para, com seu sangue, nutrir os filhos pequeninos; ora, não é só à Igreja que o símbolo se poderia aplicar. Também convém aos Diretores de almas, os pastores, que, constantemente, arrancam de si mesmos o bem que proporcionam às almas. De fato, quando vemos coroado de êxito suas predicações, quando vemos produzirem frutos suas exortações, quando admiramos a florescência inesperada das obras que fundam, nem sempre nos lembramos das vigílias, dos jejuns, das penitências, dos sacrifícios, com que conseguiram atrair sobre um pecador, um tíbio, um fraco, as chamas purificadoras da graça divina.

E, Senhores, quando vemos uma Paróquia progredir e prosperar, quando vemos nossas próprias associações marianas em pleno desenvolvimento, sob o olhar complacente da Virgem Santíssima, como não atribuir grande parte deste sucesso aos tesouros de graça, de que, por seus sacrifícios, penitências e mortificações, soube se tornar depositário nosso Pároco e Diretor?

E quando se trata de manejar as almas em uma associação religiosa com o caráter das associações marianas, que diversidade de cuidados, que complexidade de atenções não requer o pastoreio das ovelhas que se votam ao serviço da Santa Mãe de Deus!!

E estes cuidados, estes desvelos paternais, esta atenção constante, Monsenhor no-las dá com todo o seu coração.

É admirável o que freqüentemente se presencia entre nós. Batem, muitas vezes, às portas da Congregação, almas doentes, à procura de um hospital. São mentalidades já contaminadas pelas piores moléstias que a proteção da Virgem Santa trouxe ao grêmio da Congregação.

Mas é admirável ver-se o ressurgimento daquela alma. Aos poucos germina, desenvolve-se e desabrocha finalmente, nela, a flor da graça. Os defeitos, combatidos em luta intensa, rareiam. As virtudes aparecem. Tem-se a impressão de que a alma está em franca primavera, num reverdejar admirável de todas as suas belezas. Ao cabo de certo tempo, está tornada a árvore robusta de uma alma solidíssima, radicada firmemente nos princípios cristãos.

Outras vezes, são bons católicos que, atraídos pelo desejo de melhor servir a Deus e à sua Santa Mãe, ingressam em nossas fileiras. Então, correndo com passo veloz no caminho das virtudes, obtêm em pouco tempo tal chuva de bênçãos, que seu crescimento espiritual, a princípio lento e quase sempre imperceptível, se torna intenso e admirável.

E no reforçamento de todos [os dotes] da alma, temos, para a causa de Deus, não mais um combatente de pouca coragem e pequena destreza, mas sim um guerreiro audaz, pronto a se empenhar nas mais árduas lutas em prol dos ideais a que se dedicou.

E, Senhores, se a simples descrição destas transformações encanta, empolga, edifica, encoraja, a quem devemos tantos benefícios? A Monsenhor.

É Monsenhor que aceita, com indulgência admirável, as mais fracas, as mais doentes das ovelhas. É ele que as reanima nas ingentes dificuldades de seus primeiros passos. É ele o médico atento, o observador perspicaz que, com um carinho inesgotável, as ampara nas moléstias espirituais que dificilmente se vencem.

É ele nosso conforto nas horas negras. Ele, enfim, é que, instrumento da graça, aumenta em nossos corações o amor de Deus, e de Maria, nossa Mãe.

E não mencionei, ainda, os esforços ingentes e contínuos de Monsenhor em prol do bom andamento das iniciativas de nossa Congregação.

Quantas vezes, ao chegar à noite à sede da Congregação, encontro Monsenhor, depois da refrega intensa de um dia inteiro passado no árduo serviço de Deus, trabalhando ainda em difíceis tarefas da Congregação?

E este fato, que eu tantas vezes tenho presenciado, quase todas as noites se repete, sem que o incansável Monsenhor se sinta vencido pela fadiga.

Quantas vezes, ainda, o tenho visto a orientar com suas luzes, em seu cargo de Diretor, com todo o desvelo, os destinos da Congregação!!!

E isto, meus Senhores, sempre com um semblante sorridente, sempre com um sorriso afável e acolhedor para cada um de nós, sempre com a mesma paciência, sempre com o mesmo carinho.

Limito-me, pois, a prestar homenagem à sua modéstia.

E quanta desgraça evitada, quanta derrocada impedida, quanto lar poupado às mais furiosas tempestades, quanto coração de Mãe subtraído às mais negras angústias, graças ao esforço constante de Monsenhor, no defender a moralidade, e sobretudo a Fé de seus marianos.

Por isso, meus Senhores, vos pedimos, a vós, que também sois pais de atuais ou de futuros marianos, nós vos pedimos que vos unais à Pia União e à Congregação, num sincero, num cordial, num afetuoso

Muito obrigado

Mas eu não quereria terminar este agradecimento sem completar a exposição dos sentimentos dos marianos.

Pretendemos, Monsenhor, entrar, mais resolutamente ainda, na vereda que nos traçam vossos conselhos, sob a bênção da Imaculada. E como sabemos que nos amais tanto, que quereis como mais preciosa recompensa nosso próprio bem, nós, Monsenhor, neste momento, vos prometemos que procuraremos nossa salvação e nosso aperfeiçoamento com diligência maior. Prometemos, Monsenhor, que, com o auxílio da divina Misericórdia e com a proteção de Maria, nos tornaremos ainda, para vós, uma fonte de consolações.

E vós, Senhores, também ajudai, prestigiai, defendei as associações marianas, concorrendo com vossas preces, com vossos auxílios e, principalmente, com a pessoa de vossos filhos, para a Congregação ou a Pia União. Se os vossos filhos não são ainda marianos, mandai-os para cá sem tardança, dando, assim, a Monsenhor, a maior prova de vossa tão justa amizade.

E assim, meus Senhores, vós e nós, depois de termos agradecido a Monsenhor, no presente momento, com nossas palavras, lhe diremos, com o auxílio de Deus, para o futuro, com nossas obras, mais um afetuoso, carinhoso e, sobretudo, merecidíssimo

Muito obrigado.

 

*   *  *