(Vide
Catolicismo, N.° 501, Setembro de 1992 - www.catolicismo.com.br -
Eco
'92: Aparência e Realidade profunda, por Plinio Corrêa de Oliveira)
ABERTURA DA "ECO/92-VOZES
ALTERNATIVAS"
Rio
de Janeiro, 3 de junho de 1992
Plinio
Vidigal Xavier da Silveira
A conferência das Nações Unidas para o meio ambiente e
o desenvolvimento, mais conhecida como ECO'92, é – pense-se sobre ela o que se
pensar – um grande cenáculo onde se fazem presentes todos os países do mundo
contemporâneo, representados até muitos deles por seus próprios Chefes de
Estado ou de Governo. Em torno dela, e a propósito dela, se promovem fóruns,
eventos e manifestos dos quatro cantos do planeta envolvendo personalidades da
vida religiosa, política, científica, empresarial, bem como das mais variadas
correntes de pensamento. O cenário em que tudo isto se realiza, mundialmente
reconhecido como deslumbrante, é a famosa e acolhedora Baía da Guanabara.
No contexto deste acontecimento de tão grande vulto e importância,
é que resulta especialmente digno de nossa atenção o alcance do trabalho que
está sendo feito pelo grupo que aqui se encontra reunido. Trata-se de um grupo
extra-oficial que coliga, para este efeito, forças de diferentes naturezas, de
diversos países, representados em geral por personalidades eminentes que nesta
ocasião, de certo modo histórica, querem reunir-se com responsabilidade própria
e observar e analisar por si mesmas o debate mundial que se está desenvolvendo
aqui no Rio. Querem contribuir com suas experiências e com suas observações
para este debate internacional, e levarem de volta para os respectivos países
as observações acerca do que no Rio aconteceu.
Formular observações e levar informações que vão além
dos comentários da mídia, os quais apresentam em geral uma orientação uníssona
e de timbre universal. As senhoras e os senhores que aqui vieram, levarão para
casa, pelo contrário, opiniões individuais, pessoais, com a originalidade, a
fecundidade de tudo quanto é definidamente pessoal e individual.
É preciso notar em tal sentido que apenas dois pontos
constituem o denominador comum dos que estão aqui reunidos: é o desvelo pela
manutenção integral da propriedade privada e pela defesa da iniciativa
individual no mundo contemporâneo.
Alguns são levados a participar pela preocupação que,
como cientistas, têm ante certos mitos catastrofistas divulgados por
determinadas correntes ecologistas, cujo efeito próprio seria a distorção dos
debates sobre o meio-ambiente e o desenvolvimento, acarretando em conseqüência
medidas capazes precisamente de cercear a propriedade privada e a iniciativa
individual.
Outros são levados a contribuir nesta iniciativa comum
pela vasta experiência que têm na direção de negócios e em assuntos da economia
mundial.
Outros participam nesta iniciativa movidos por altas
preocupações de caráter ideológico.
Outros, ainda, encontram-se neste esforço conjunto por
sentirem-se muito intrigados com as incógnitas que oferecem os temas deste
grande debate internacional, e portanto também com as tomadas de posição
perante eles.
Muitas pessoas gostariam de saber, de perto, o que é
que representam dentro do conjunto dos acontecimentos atuais as opiniões que se
estão fazendo e se farão ouvir neste Rio da ECO-92.
O que, por exemplo, pensar do que se fala, com
intensidade crescente, sobre eventuais rivalidades entre o Norte e Sul? O que
há de real nisso? O que há de inflado pela imaginação, favorecida pela própria
originalidade do tema, nas questões ecológicas e nos assuntos que lhe são
conexos?
São coisas estas que muitos querem conhecer com mais
clareza, querem ver com seus próprios olhos, tocar, por assim dizer, com suas
próprias mãos, para saber o que é isso tudo.
De outro lado, o momento histórico em que todos estes
assuntos vêm à tona está por sua vez carregado de originalidade, de novidades e
de surpresas, o que aumenta o despertar das atenções sobre o debate a que se
está assistindo.
Em primeiro lugar, é preciso considerar que, para a
história dos homens, todos os milênios corresponderam a momentos de suspense e
de interrogação. Estamos neste momento virtualmente a dois mil anos do
Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo e, em números redondos, também da
Redenção do gênero humano e do começo da difusão da Civilização Cristã no
mundo. Nas portas, pois, do terceiro milênio da era cristã acumulam-se as
interrogações.
Acabou o drama soviético e, entretanto, muitos se
perguntam: terá acabado mesmo? Terminou o comunismo internacional, mas muitos
se perguntam: terá terminado mesmo?
Quando se compara a situação do mundo colonial no fim
da II Guerra Mundial, com os passos enormes que se deram desde então rumo à
libertação, parece que os problemas coloniais, tão complexos, tão delicados,
têm tido um começo de encaminhamento. Mas estes passos foram mesmo tão grandes?
O que representaram eles?
Há certas questões do cenário internacional que
crescem cada vez mais em importância. Por exemplo, o que vai sair da Rússia?
Ela é para o mundo da livre empresa e da propriedade privada um mercado enorme
que está para se abrir e desvendar horizontes colossais? Ou ela é, pelo contrário,
um barril de pólvora que poderá explodir de um momento para outro?
E o que dizer da possibilidade, de que tanto se falou
há um ou dois anos, de a Europa Ocidental ser invadida por hordas de eslavos e
de outros povos famintos vindos do Oriente, junto com refugiados procedentes do
Magreb? Até há pouco estas possibilidades ameaçavam comprimir, sob as pinças de
uma tenaz terrível, a Europa Ocidental e a Europa Central, parecendo reeditar
até, contemporaneamente, o drama de Carlos Magno em luta ao mesmo tempo com os
bárbaros e com a invasão maometana.
Tais invasões tinham como pressuposto povos desejosos
de se atirar sobre as riquezas do Ocidente para fruir delas? Ou para saber pelo
menos como produzi-las?
Seja como for, estas perspectivas que se aproximavam,
em um momento dado param, se detêm, mas não desaparecem... São perigos que, sem
deixar de existir em toda a sua realidade, ficam como atores enigmaticamente
imóveis do lado de dentro do palco, à espera, quiçá, do momento de entrar em
cena. E, no palco mesmo, os fatos vão se sucedendo e o momento dos atores não
chega.
Todas estas realidades são outros tantos aspectos do
mundo contemporâneo, cheios de originalidade; de uma originalidade tal que nela
muitos querem ver o começo de um caos fecundo. Mas há muitos também que,
reconhecendo o nascimento desse caos, vêem ou julgam ver nele, pelo contrário,
um começo de catástrofe universal.
Tudo isto junto cria um quadro geral cheio de
perspectivas, de sugestões, de interrogações fecundas e também de perigos, é
certo! Mas, também, de possibilidades de êxitos brilhantes.
E é nessa atmosfera que este grupo de iniciativa
particular aqui se encontra reunido, pelos ofícios da Sociedade Brasileira de
Defesa da Tradição, Família e Propriedade, como anfitriã.
Nascida no Brasil, mais precisamente em São Paulo, sob
a liderança esclarecida do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, ela deu lugar ao
surgimento de outras tantas TFPs em 22 países do Ocidente e hoje – depois de
ter sido durante muito tempo tachada de radical demais – pode dizer que o
quadro que a Rússia apresenta, já sem cortinas de ferro, foi além do que jamais
ela indicou ou denunciou como sendo os efeitos normais do sistema comunista.
A TFP, pois, em
nome de seu Presidente Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, a quem aqui eu
represento, e em nome das demais entidades patrocinadoras desta ECO-92–Vozes Alternativas – Free Congress Foundation,
dos Estados Unidos; Competitive Enterprise Institute, do mesmo país; The Institute of Economic Affairs, da
Inglaterra; Câmara Nacional de Productores de Madera, de
Costa Rica –, tem a alegria de declarar aberta a sessão, convidando a todos
para ouvir a palavra de ilustres autoridades mundiais em assuntos ligados à ecologia,
dos Estados Unidos, da América Central e do Brasil; e para as perguntas e
debates que serão abertas ao auditório no fim das quatro palestras.
Peço ao Dr. Mario Navarro da
Costa, diretor do Bureau
das TFPs em Washington, que faça a apresentação dos oradores à medida em que
eles se sucedam ao microfone.