Catolicismo, N° 461, Maio de 1989, págs. 13 e 14 (www.catolicismo.com.br)
NO URUGUAI
Atuação brilhante da TFP
NO BRASIL
Patrulhamento da imprensa
REALIZOU-SE no Uruguai,
no dia 16 de abril último, um plebiscito que manteve a chamada "Lei de
Caducidade", mediante a qual se concedeu anistia aos militares. Dos
eleitores, 52,57% (votos amarelos) manifestaram-se a favor da manutenção da
referida lei e 40,13% (votos verdes) pleitearam a revogação dela. Compareceram
às urnas 1.890.200 uruguaios (82% do eleitorado).
O tema era de
atualidade candente.
Favorecido por
uma anistia ampla e irrestrita concedida pelo Parlamento uruguaio em 1985, o
terrorismo tupamaro pretendia, caso fosse revogada
aquela lei, submeter a julgamento os militares que atuaram na resistência às
suas investidas, nas últimas décadas.
O Parlamento
posteriormente estendeu a anistia também aos militares, mediante a chamada
"Lei de Caducidade". A esquerda, porém, conseguiu reunir o número
necessário de assinaturas para convocar o mencionado plebiscito.
Em manifesto
lançado a 2 de março último e difundido amplamente em todo o país, no período
que antecedeu ao plebiscito a Sociedade Uruguaia de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade defendeu a manutenção da "Lei de Caducidade"
como imperativo de justiça, dado que, em 1985, o Parlamento uruguaio aprovara
ampla e "generosa" lei de anistia para os terroristas tupamaros.
O aspecto mais
profundo da questão, e que foi realçado no documento da TFP uruguaia, pode ser
enunciado da seguinte forma:
1) O povo estava
de acordo com os terroristas tupamaros, que desejavam
ascender ao poder e transformar o Uruguai numa Cuba não insular, no sul do
Continente?
2) Ou os
uruguaios aprovavam a defesa que as Forças Armadas do país empreenderam, das
instituições e da civilização ocidental, com vestígios de cristã, existente no
Uruguai como em toda a América do Sul?
Vigorosa
campanha de âmbito nacional
Duas caravanas de
sócios e cooperadores da TFP uruguaia efetuaram brilhante campanha pública nas
principais cidades do interior — a qual depois também atingiu a capital do
país — difundindo milhares de volantes contendo o texto do referido manifesto.
Faixas com incisivos
dizeres foram afixadas em logradouros públicos, enquanto sócios e cooperadores
da entidade proclamavam slogans, entremeados por toques de trompete. Eis alguns deles:
— "Uruguaio,
a TFP te pergunta: será justo punir os que empregaram a violência para te
defender do comunismo, e absolver os que a exerceram para te subjugar a ele?
Não cometas essa injustiça, confirma com o teu voto a 'Lei de
Caducidade'!"
— "Processar
os militares depois de anistiar os tupamaros é uma
injustiça. Fazê-lo quando a guerrilha renasce no Continente, é suicídio".
Através da
difusão do manifesto e pelo próprio valor simbólico de sua presença e atuação
na rua, atuação e presença que são sempre ideológicas, a TFP uruguaia ajudou a
opinião pública a discernir o verdadeiro conteúdo ideológico da pergunta
plebiscitária.
Nessas condições,
aquela entidade, como foi reconhecido por todos os uruguaios, constituiu um
fator preponderante da vitória no plebiscito, o qual manteve a anistia dos
militares.
A prova do realce
obtido pela atuação da TFP do país vizinho patenteia-se, com evidência solar,
mediante o empenho com que grandes órgãos de comunicação social do Uruguai e
dos mais variados países solicitaram aos dirigentes daquela associação
entrevistas e declarações sobre o plebiscito, a respeito da atuação da TFP,
por ocasião da consulta plebiscitária.
A campanha empreendida
pela entidade foi noticiada por nove canais de televisão, dez diários ou
semanários e quarenta e dois rádios uruguaios.
Foram concedidas entrevistas
a cinco cadeias de TV, duas cadeias de rádio, todas de porte, e cinco grandes
diários do Exterior. Dentre esses órgãos destacam-se a cadeia norte-americana
de TV, a NBC, e os diários "New York Times"
e "Washington Post".
Tudo isso não
obstante, os órgãos de comunicação social brasileiros primaram também desta
vez pela omissão e aparente desinteresse em noticiar essa atuação. Nenhum
desses órgãos, com a exceção de um quotidiano gaúcho, procurou a TFP uruguaia
para pedir qualquer declaração. E, que saibamos, nenhum órgão nacional,
excetuado o mencionado diário sul-riograndense, em
seus noticiários, fez a menor referência à campanha da TFP uruguaia, embora
grandes diários brasileiros tenham publicado sobre o tema extensas matérias e
mesmo entrevistas. Quotidianos de grande tiragem de São Paulo e Rio chegaram ao
ponto de estampar fotos de faixas afixadas nas ruas de Montevidéu, em algumas
das quais figuravam, de modo bem visível, as letras TFP. Entretanto, as
legendas dessas fotos e o restante da matéria jornalística silenciavam
inexplicavelmente a campanha promovida pela entidade, cuja importância e porte
atraíam a atenção de grandes cadeias de rádio e TV, bem como de prestigiosos
diários da América do Norte e de várias nações européias...
Convém notar que
o tema TFP não deixa de causar interesse a tais órgãos de imprensa. Tanto isso
é verdade que uma rusga insignificante entre entusiastas e detratores da TFP,
à saída de uma Missa na Catedral Melquita, em São Paulo, meses atrás, deu
origem a noticiário espalhafatoso em quotidianos de grande tiragem dessa
capital. Embora a rusga tenha durado tão-só um minuto, segundo reconheceu um
dos referidos jornais, não tendo ela produzido outros inconvenientes senão
desarranjar algumas gravatas...
O
incisivo manifesto da TFP uruguaia
Parece-nos
oportuno destacar ainda alguns tópicos mais significativos do mencionado
documento, que certamente constituiu dos fatores mais relevantes para a vitória
de cunho antiterrorista e anti-esquerdista
do plebiscito de 16 de abril.
"Alguém
poderia imaginar o que teria sucedido ao Uruguai se os tupamaros
tivessem triunfado?" — indaga o documento.
"Talvez os
cérebros do Terror tivessem experimentado aqui a sanha genocida
e tribal do Khmer Rouge cambodgeano, que transformou o infeliz país asiático num
grande campo de concentração.
"Para
livrar-nos desse terrorismo, militares e policiais tiveram o dever de vigiar,
reprimir e derrotar a subversão tupamaro-comunista,
tiveram que assumir o poder e instaurar um regime de exceção, entregando em
seguida o poder aos civis.
"Sobre os
presumíveis excessos repressivos foi aprovada a Lei de Caducidade. Tal atitude
tem numerosos precedentes históricos. Depois da II Guerra Mundial, por exemplo,
os Aliados — aos quais devemos o haver libertado todo o Ocidente da ditadura
brutal e anticristã do nazismo — não sofreram nenhum processo pelos excessos
que por certo cometeram. Ainda hoje, passados mais de quarenta anos, quando
as paixões estão praticamente extintas e os principais protagonistas mortos,
as potências Aliadas não dão publicidade à documentação oficial
comprometedora
"Houve um
enfrentamento armado entre duas forças opostas. Uma — a subversão dos tupamaros — quis impor-nos a sangue e fogo um regime
intrinsecamente perverso, o comunismo. A outra, cumprindo o seu dever, a ela
se opôs, assim defendendo da tirania marxista o país, suas instituições e seus
habitantes. Ambas cometeram violência. Só que a subversiva é, em si mesma e
em seus fins, intrinsecamente perversa. A outra é condenável em seus
excessos, mas de si natural e elogiável.
"Ante tal
situação, a pergunta sobre a derrogação da Lei de Caducidade se coloca assim:
poderemos os uruguaios exigir a punição dos militares e policiais, depois de
haver consentido que se anistie seus inimigos, os sediciosos, contra os quais
eles nos defenderam? Evidentemente não".