Catolicismo, N° 456, Dezembro de 1988, pág. 18 (www.catolicismo.com.br)

 

Em face da atual investida consensual

 

SANTIAGO — A TFP chilena fez publicar nos principais jornais do país um esclarecedor manifesto a respeito do modo como vem sendo interpretada por muitos a democratização do Chile. Ou seja, as decisões deveriam ser toma­das, de agora em diante, de modo con­sensual. Diz o manifesto:

"Alguns concebem este consenso como sendo um razoável e necessário en­tendimento entre as diversas correntes políticas, exigido pelas circunstâncias de momento e destinado a aquietar ex­cessos de paixão". Mas outros "enten­dem por consenso um 'ecumenismo' po­lítico radical, que tende a fazer desapare­cer definitivamente as diferenças de opi­nião, ao menos no campo das doutrinas. Para estes, a base da vida pública esta­ria constituída por uma espécie de vazio de pensamento .... De fato, um consen­so a partir do princípio ideológico da primazia da praxis, do desprezo quan­do não da negação das doutrinas. Ou se­ja, um consenso materialista em torno do marxismo".

Porém, os mais perigosos, prosse­gue o documento da TFP, são os que jo­gam com uma linguagem ambígua, "que sem tomar uma posição muito definida sobre o consenso, empregam, entretan­to, uma linguagem cujo sentido mais provável é o do 'ecumenismo' político radical". Estes atraem os ingênuos.

Como exemplo de linguagem ambí­gua, a TFP transcreve declarações do Comitê Permanente do Episcopado Chi­leno, as quais deixam "aberto o cami­nho para que os setores de doutrinas marxistas, que constituem a parte mais dinâmica da oposição, também partici­pem do diálogo consensual". Os Bispos, ao não estabelecer critérios morais para a busca da verdade, nem advertir contra os erros, silenciam aspectos fundamen­tais de sua missão, "permitindo que o lo­bo vermelho penetre em meio às ove­lhas" e ajudam a criar "a ditadura psi­cológica daqueles que se erigem como in­térpretes do consenso".

O manifesto lembra ainda que, pa­ra alcançar a vitória da Religião católi­ca, "Nosso Senhor Jesus Cristo não re­comendou a seus Apóstolos que buscassem o consenso com as outras religiões, mas o contrário".

É marcante a comparação — fei­ta pelo documento — entre a "democra­cia consensualizada que se nos quer im­por" e a atual "democracia anestesia­da" da Espanha, a qual, em nome do consenso, "promoveu a contracepção, despenalizou o aborto, instaurou o di­vórcio, 'legalizou' a união homossexual e favoreceu uma onda de blasfêmias".

E denuncia: "Uma democracia que se estabelece sobre a base de um conchavo ideológico, não é um sistema político: é uma negociata. E com essa negociata nada de digno se pode cons­truir".

A TFP levanta sua voz e "o faz com valentia e convicção para declarar publicamente que a entidade entra nes­ta nova fase da vida do País com um propósito totalmente diverso daquele dos partidários da democracia consen­sual. E propõe uma democracia racioci­nada .... A verdade não tem medo de apontar os erros dos outros".