Catolicismo, N° 455, Novembro de 1988, pág. 19 (www.catolicismo.com.br)

 

Mais protestos contra filme blasfemo

 

SAN SEBASTIAN, Espanha – O fil­me blasfemo "A última tentação de Cristo", cujo lançamento nos Estados Uni­dos motivou vigoroso protesto da TFP norte-americana em agosto último, foi incluído à última hora e com grande alarde publicitário, no Festival Internacional de Cinema realizado nesta cidade.

O caráter difamatório do filme, que apresenta Nosso Senhor Jesus Cristo co­mo devasso, envolvido com prostituição e inseguro quanto à sua própria missão, não pode deixar de receber dos católicos a mais viva repulsa. Entretanto, Willen Dafoe, um dos protagonistas do filme, em entrevistas concedidas durante o Fes­tival, objetivando responder às críticas, empenhou-se em minimalizar o teor das blasfêmias. Alegou ele que o enredo não se baseia nos Evangelhos; é uma “obra de ficção, que procura tornar Cristo mais acessível ao público”. Para ele, ainda, tratar-se-ia de uma obra “reverente e cristã”.

Enquanto isso, a Sociedade Espanhola de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, TFP-Covadonga, entrou de cheio no debate, publicando nas páginas do “Diário Vasco”, de San Sebastian, um comunicado sob o título "A propósito do filme de Scorcese Não cremos que a Espanha católica tenha caído tão baixo”.

O documento ressalta a repulsa que mereceria o filme se apresentasse os Reis Católicos com perfis de depravados, que eles jamais tiveram. Esta difamação quanto à memória dos mortos — os quais também têm direitos – comprometeria o próprio renome internacional da Espanha, sendo por isso compreensível que a grande maioria do público espanhol solicitasse às autoridades governamentais a suspensão de sua projeção.

"Com a figura de Nosso Senhor Je­sus Cristo – prossegue o comunicado da TFP – o filme de Scorcese faz algo de análogo, só que de um modo incompa­ravelmente mais grave. No Divino Salva­dor, na dualidade de naturezas humana e divina, existe uma unidade de Pessoa. E esta Pessoa –  nós o sabemos pela Revelação — ressuscitou gloriosamente den­tre os mortos ao terceiro dia, e está sentada à direita de Deus Pai até que venha a julgar os vivos e os mortos. E tem o direito de ser reverenciada pelos homens e não ser caluniada, ainda mais de um modo tão atroz.

"Quererão nossas autoridades, em cujas mãos está o poder de impedir a divulgação desse filme, assumir uma tão terrível negação, opondo-se assim ao sentir nacional?

"Fazemos votos, conclui o documen­to, que a Espanha católica possa consta­tar — em virtude de uma feliz decisão das autoridades constituídas — que o divór­cio entre as convicções de nossos governantes e as do povo espanhol ainda não chegou a proporções tão extremas".

O pronunciamento da TFP, que foi também distribuído sob forma de separata em portas de igrejas, contou com manifestações de apoio de personalidades locais, sendo também comentado em noticiários de órgãos da grande imprensa espanhola e de rádios.