Plinio Corrêa de Oliveira

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

 

22 de fevereiro de 1984  Bookmark and Share

Festa socialista em louvor de São Tomás de Aquino

Um amigo brasileiro, admirador, aliás, dos mais ardorosos da Espanha, de lá me enviou algumas notícias do que se vai passando sob o atual governo socialista.

Para quem conhece a mentalidade, a doutrina e o programa do majoritário PSOE (Partido Socialista Obrero Espanhol), não espanta. Pois, o socialismo hispânico (como o seu congênere francês) se empenha de todos os modos em destruir a família. O divórcio, a despenalização da homossexualidade e de numerosos casos de aborto, a propaganda da contracepção são pontos-chave da atuação do PSOE.

Escreve-me este amigo:

A imoralidade na Espanha cresceu muito nestes últimos tempos. Neste inverno, os cartazes todos são profundamente imorais. Os programas de televisão são de não se fazer uma ideia. O ambiente nos colégios também atingiu o clímax da imoralidade. O que se vê pelas ruas são cenas de uma imoralidade desbragada. Em suma, a imoralidade recebeu sinal verde, e está em um desbragamento total.

Dou-lhe como exemplo concreto uma orgia com que, sob o signo do socialismo aboletado no poder, foi celebrada a festa de... São Tomás de Aquino. Sim, do inigualado Doutor da Igreja, do Doutor Angélico. Realizou-se ela das 12 horas do dia 28 até às 12 horas do dia 29 de janeiro p.p.

Na noite do dia 28, centenas de jovens, frustrados em sua esperança de presenciar diretamente o 3º Festival do Estudante e do Rádio, que se realizava no Palácio dos Esportes, extravasaram sua indignação investindo contra os estabelecimentos comerciais da região. Dentro do Palácio dos Esportes, a situação não era melhor, após a intervenção do prefeito Tierno Galván, o qual literalmente induziu os presentes ao consumo de drogas, dizendo: "Rockeros, si no es que colocaos, que se coloquen y al loro", expressões que significam mais ou menos: fumem a erva e não percam nada do que se passa em sua volta.

Extraio estas informações do sisudo cotidiano madrilenho "ABC" (29-1-84). A mesma notícia foi publicada pelo conhecido "El Alcazar", que escolheu para análoga matéria o seguinte título: "O rock de uma noite selvagem passou por Madrid". E como subtítulo: "Vidraças quebradas, vitrines despedaçadas, lojas comerciais saqueadas".

E a notícia especifica:

"Um grupo de baderneiros destruiu uma loja de bebidas na Rua José Juarez. A droga foi largamente consumida entre os assistentes do Palácio dos Esportes. Estes corriam e gritavam, atiravam pedras: era uma batalha de loucos. Assim que conseguiam entrar no local, alguns assistentes montavam seu próprio negócio para venda de bebidas. A droga, o álcool e as notas estridentes de um rock geralmente (sic) mau, logo fazem brotar o sangue. Depois vêm as consequências: cadeiras quebradas, extintores vazios rolando pelo chão, pias tiradas do seu lugar ou quebradas, e lixo, muito lixo: lixo composto de desperdício e (intraduzível), por todo lugar (novamente intraduzível). Se dentro do recinto, a iniciativa de 24 horas de música ao vivo, organizada pela Rádio Nacional da Espanha, ia ficando mal, embora resguardados contra o pânico da ameaça de bomba característico dessas ocasiões, do lado de fora, na rua – onde mais de cinco mil pessoas gesticulavam, berravam e empurravam para conseguir entrada a qualquer preço – o panorama ia adquirindo cores de tragédia. O clima na rua foi-se expandindo paulatinamente, até que estourou, concretizando-se numa série de vandalismos de difícil (sic) justificação. Enquanto uns despedaçavam as vidraças do Palácio dos Esportes, outros começavam a quebrar os vidros das vitrines das lojas comerciais da região, sem diferenciação nenhuma. Sapatarias, joalherias, bancos, lojas de comestíveis e de presentes, todas tinham pela manhã as marcas de uma noite desenfreada de rock e de droga. Cumpre ressaltar que esta festa foi organizada pela Rádio Nacional da Espanha, emissora oficial, e patrocinada pelo Ministério de Educação e Ciências, pela Universidade de Madrid e a Comunidade Autônoma e Municipalidade da Capital, para comemorar a festa de São Tomás de Aquino, que é no dia 29 de janeiro". – Até aqui "El Alcazar".

Lapso, lapso terrível, mas lapso único das autoridades socialistas? Não. Considere o leitor esta outra notícia.

No dia 26 de janeiro, em um programa das 20 horas, na TV Espanhola, foram apresentados todos os meios de contracepção conhecidos até o momento, descritos com toda espécie de detalhes. Este é um programa normalmente assistido pelas crianças que terminaram suas aulas algumas horas antes.

No sábado dia 28 de janeiro, ao meio dia, foi exibido na televisão um filme com matéria totalmente pornográfica. Esse filme foi passado num programa que é habitualmente educativo, para crianças. Ao terminar o filme, várias destas foram entrevistadas, perguntando-se-lhes o que achavam. Um rapaz de 14 anos respondeu que era normal, que o que ele vira no filme era praticado normalmente nos acampamentos de que participava.

Tudo isso suscita censuras óbvias em todos os ambientes brasileiros ainda não conformados de todo com a imoralidade sempre crescente neste nosso país, também ele tão e tão socializado.

Encerro, entretanto, com uma reflexão menos óbvia. Aos socialistas da primeira metade do século, parecia-lhes que a vitória da depravação, da boçalidade e do caos, condição para que subissem ao poder, só se poderia conseguir derrubando os anteparos sobrenaturais, naturais ou históricos da Espanha tradicional e cristã.

Hoje eles convivem com esses anteparos. A Espanha tem um rei. Nela as coisas da Igreja dir-se-iam intactas. E as várias classes da hierarquia social parecem comer, beber e dormir despreocupadas. Em lugar de demolir, igrejas e imagens, o socialismo aclama o rei e festeja santos. São Tomás de Aquino, por exemplo...

É que esses anteparos de tal maneira estão adelgaçados, e tendentes a se adelgaçar ainda mais, para que, então, perderão tempo os socialistas em derrubá-los?

Entende-se que melhor é para o socialismo soltar desenfreada a orgia de forma a dar ao povo a ilusão de que nem a corrupção é adversária irreconciliável de São Tomás, nem São Tomás é dela. Tentando, pois, incorporar o Doutor Angélico no inumerável cortejo dos cúmplices da socialização vermelha.

Como joga bem o socialismo festejando São Tomás!


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