Plinio Corrêa de Oliveira

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

 

 

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Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

18 de junho de 1980 

O estado precário que termina mal

"Quais os hábitos que se alteraram? Quais os que causaram maior escândalo e discussão? (...)

"As revistas masculinas e as pornochanchadas nacionais cresceram em número com produções cada vez mais ousadas e menos preconceituosas. A nudez total, pela primeira vez publicada numa revista, esgotou, na semana passada, num dia, a revista "Ele e Ela".

"Programas de rádio onde a vida sexual é discutida livremente com participação de psicólogos e médicos, além de consultas telefônicas gratuitas para orientação sexual, são hoje comuns, principalmente no centro do país.

"A virgindade, como valor prezado na educação familiar e pré-requisito feminino para casamento, perdeu substância. Igualmente o enlace religioso, e símbolos como anel de casamento e vestido de noiva.

"Os tóxicos (...) são utilizados por grandes camadas da sociedade. (...)

"A mulher ascendeu socialmente e exige igualdade de direitos. (...)

"É comum a união pré-marital descompromissada.

"Temas polêmicos, encarados como tabu, são hoje livremente discutidos e abordados em programas de televisão.

"Os homossexuais advogam no mundo inteiro a legalização do terceiro sexo.

"O bebê de proveta possibilita a inseminação artificial da mulher.

"O adultério não é mais passível de punição criminal (...).

"A família é dissolúvel através do divórcio."

Como bem se vê pelas aspas, o autor desta síntese não sou eu. Um amigo encontrou-a em recorte intitulado "Quinze hábitos que mudaram", publicado pelo "Correio do Povo" de Porto Alegre (6/4/80). Aqui o transcrevo quase integralmente.

É possível que, disto, nem tudo haja igualmente adquirido o caráter instalado e definido, em todo o imenso território brasileiro. Mas o hábito que ainda não entrou, está entrando. E o que ainda não se instalou, está em vias de instalar-se.

O elenco reflete de maneira bastante fiel a realidade global brasileira, com o que ela tem de dinâmico.

Brasileira tão-só? De modo nenhum. Sabe-se que esses hábitos já estão inviscerados em centros urbanos maiores do que os nossos, não só americanos como europeus. E que até o catálogo de "hábitos que mudaram" aqui, o qual o jornalista gaúcho apresentou em atitude neutra, teria vários de seus itens considerados como envelhecidos ou "superados", em análoga enumeração referente a outras cidades.

Habitualmente, tal transformação não se faz aos saltos. É processiva, passa por estágios em que o soerguimento só é possível mediante uma operação da graça divina efetuada de modo inteiramente superior às regras da economia geral que a esta presidem. O apóstolo São Paulo no caminho de Damasco, por exemplo.

Daí ocorrerão, ao espírito de algum leitor, duas perguntas: será verdade que caímos de tão alto? Será também verdade que já caímos tão baixo?

Do ponto de vista católico – que aceito como inteiramente meu – não pode haver a menor dúvida. Os vários "hábitos que mudaram" manifestam a derrocada moral de um povo cristão. Os Mandamentos da Lei de Deus ensinam ao homem o procedimento perfeito. Tempo houve em que era hábito observá-los. Nesse tempo o nível moral era muito elevado, pois a perfeição é, por definição, um estado muito alto. Depois as coisas foram caindo. A nota do "Correio do Povo" não constitui senão um instantâneo, em uma queda que vai tendendo ao vertiginoso. Etapas anteriores já foram fixadas em outros instantâneos. E etapas posteriores o serão por outros analistas.

Confrontando com a Moral tradicional da Igreja todos esses "hábitos que mudaram", constata-se com facilidade pouco faltar para que outros hábitos novos sobrevenham, acabando por eliminar os vagos vestígios cristãos que ainda sobrevivem no mundo contemporâneo.

Ora, uma constatação dificilmente poderia ser mais grave. Pois é análoga à de um pastor, o qual se dê conta no luzir da aurora, que quase todas as suas ovelhas fugiram, deixando apenas, cá e lá, uns flocos de lã espalhados sobre a relva.

A tal propósito, ainda uma outra pergunta ocorre: qual a reação normal de um pastor ante tal fato?

Encurtemos o caminho, e vamos diretamente ao ponto. Dentro da grande zoeira nacional, ouvem-se vozes de toda ordem. E, entre elas, também vozes sacerdotais. Destas, algumas não falam, mas bradam, contestam, invectivam, ameaçam... Eu quase diria que uivam. Procedem dos bem conhecidos arraiais da "esquerda católica", da Teologia da Libertação etc. O que exigem? Bens materiais para atender às necessidades (que em geral exageram) dos pobres (cujo número inflam). Na medida em que não exagerassem, nem inflassem, nem uivassem, mas se mantivessem na objetividade digna e límpida dos filhos de Deus, só mereceriam respeito e apoio. Estariam a pedir pão para quem tem fome.

Porém, ainda assim restaria uma pergunta a lhes ser feita. Vive o homem só do pão? Diz o Evangelho: "Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (MT. 4,4).

Se o pão material não é o bem supremo, nem o bem único, por que só dele falam os teólogos da libertação? Não vêem que multidões inteiras sofrem de um mal de alma ainda mais agudo, corroídas que estão por uma sensualidade galopante.

Em suma, se esses teólogos acreditam na existência da alma, na palavra de Deus, que é para os homens o verdadeiro pão, e na eternidade do prêmio ou do castigo que estes receberão depois da morte, como se mantêm mudos, e se põem a uivar tão-só para que se lhes proporcione um bem – o pão terreno – que a todos nós nos mantém uma vida física que perecerá?

Um escritor francês – não me lembro mais qual – definiu a saúde como "um estado precário que termina mal". Por que só e unicamente em favor desse pobre estado precário se esforça a "esquerda católica", esquecida da felicidade perfeita que jamais terminará, e a qual o homem pode obter pela prática da virtude?


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