Plinio Corrêa de Oliveira
Artigos na "Folha de S. Paulo"
|
|
28 de novembro de 1979 É óbvio que... Sobre o óbvio não se fala, nem se escreve. Ele salta aos olhos, impõe-se como fato bruto. Dispensa descrições ou comentários. O observador arguto discerne a realidade (uma pessoa, uma situação, uma coisa) no momento preciso em que ela desponta nas distâncias do horizonte. O observador banal nota essa realidade quando ela já vem a meio caminho. O subobservador dela só se dá conta quando se torna óbvia: é precisamente um pateta. Pateta, sim. À medida que o número de patetas aumenta, este qualificativo vai saindo de circulação: não se fala de corda em casa de enforcado. Contudo, é só com essa palavra de vogais sonoras, e sobretudo de consoantes fortes, que se pode qualificar tal estado de insuficiência mental. Tudo isto dito, ó leitor, entretanto é sobre o óbvio que passo a escrever. Pois a conclusão final a que chegarei – isto é, a mais óbvia das afirmações que farei – é de importância incalculável. E passo ao tema. 1. É óbvio que os Estados Unidos são uma nação soberana, com o direito inteiro e recursos superpotentes para fazer em seu território o que bem entenda; 2. É óbvio que a atuação de uma nação visando interferir em outra constitui uma insolência, uma agressão, ou até um "casus belli"; 3. Ora, é óbvio que o Irã configura inteiramente a nação agressora assim descrita. Ele pretendeu impor aos Estados Unidos que lhe entregassem o xá deposto e destronado, o qual, atingido por moléstia incurável, batera às portas da superpotência do Oeste pedindo por socorro médico e tranquilidade; 4. É óbvio que Carter agiu de modo totalmente submisso, ao exibir as radiografias de Pahlevi aos embaixadores do aiatolá, para provar que este sofre efetivamente de câncer. Como é óbvio também que o aiatolá mostrou ferocidade rara na História, obstinando-se em que os Estados Unidos lhe entreguem – ou a uma corte internacional – o hóspede enfermo, para ser "julgado" e, naturalmente, enforcado; 5. É óbvio que, assim, a pendência extrapola do direito internacional e da diplomacia, para degenerar em briga absurda: o arrogante e pequeno Irã, a tratar a superpotência máxima como um gato trata um rato; 6. É óbvio que essa situação afundou até o vórtice do inqualificável, com a invasão, por estudantes fanáticos – expressamente elogiados por Komeini – da embaixada norte-americana em Teerã, e a redução a reféns dos funcionários desta; 7. Ainda é obviamente inqualificável que manifestantes iranianos se venham revezando frente ao hospital em que está Pahlevi, pedindo a Alá que o mate; 8. É óbvio ainda que a reação de Carter, cancelando a insignificante compra de petróleo do Irã pelos Estados Unidos, congelando os créditos iranianos e fazendo uma demonstração naval no Mar arábico, tem dimensões microbianas, se comparada aos ultrajes de Khomeini. Até o momento em que escrevo, foi só o que Carter fez; 9. É óbvio ainda que nada disto teria sido assim se Khomeini não estivesse seguro de que Carter ante tudo se curvaria para evitar uma guerra mundial. Como é óbvio ainda que qualquer gesto proporcionado de protesto de Carter poderá ocasionar a guerra, porque, por trás do Irã, está o Leviatã soviético; 10. Obviamente isto significa que a Rússia é quem instiga as agressões iranianas, mostrando ao mundo inteiro que ela pode impunemente empurrar à parede ou atirar ao chão a superpotência rival. O Kremlin visa exibir-se assim como senhor dos povos e dominador da Terra. O que deveria determinar, não só nos Estados Unidos como em todo o mundo, passeatas indignadas de multidões briosas que protestassem jamais entregar-se ao dominador. Tais passeatas, pela retração da influência soviética que provocariam, trariam para a Rússia prejuízo muito maior do que a vantagem que desta possa ter com sua atual jogada iraniana. Mas a Rússia sabe que não é grande o perigo das passeatas, ela que consegue fazer no Camboja o que todos vêem, apesar do que, entretanto, quase ninguém se indigna seriamente. As multidões, com imensa vantagem para a Rússia, estão misteriosamente anestesiadas. Apatetadas. Pelo contrário, os Estados Unidos mantêm o regime soviético, fornecendo-lhe anualmente 25 milhões de toneladas de cereais; 11. De óbvio em óbvio chegamos, ó leitor, a um quadro apocalíptico. Não vemos cumprido em parte o universal castigo anunciado por Nossa Senhora em Fátima: a expansão mundial dos erros da Rússia? A outra parte, que fica por cumprir, caso, ainda assim, os homens não se convertam, são perseguições e guerras que se desencadeiam, e nações que desaparecem... Nossa Senhora jamais falhou em suas ameaças, como em suas promessas. Também isto é óbvio. Óbvio em supremo grau.
|