Plinio Corrêa de Oliveira

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

 

 

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

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12 de maio de 1974 

Mais um Cardeal em resistência 

 

Cardeal Paul Yu Pin, Arcebispo de Nanquim, reitor da Universidade Católica de Taipé (1901–1978) 

Era meu propósito comentar hoje os aspectos morais da queda do primeiro-ministro socialista Willy Brandt. Entretanto, chegou-me às mãos um documento de tal importância sobre a resistência dos católicos à política de aproximação do Santo Padre Paulo VI com os regimes comunistas, que não posso deixar de o levar ao conhecimento dos leitores. Trata-se de declarações do Emmo. Cardeal Yu Pin, Arcebispo de Nanquim, ora reitor da Universidade Católica de Taipé (Formosa). Publicou-as o boletim norte-americano "The Herald of Freedom", de 15 de fevereiro passado, em despacho da "Religious News Service".

Declarou o Purpurado àquela agência não tomar a sério os rumores de que estariam em curso negociações entre o Vaticano e o regime comunista de Pequim. Acrescentou que "os católicos da China certamente não são simpáticos a esse tipo de atitude" e que o Vaticano não deve esperar que a China comunista modifique sua política anti-religiosa, "nem mesmo por razões de propaganda".

"Não nos agrada a sermos pacificados por outros" — aduziu Mons. Yu Pin. "Isso se chama oportunismo. Queremos permanecer fiéis aos valores perenes da justiça internacional. (...) O Vaticano pode agir de modo diverso, porém não nos comoveríamos muito com isso. Penso que é ilusória a esperança de que um diálogo com Pequim ajudaria os cristãos do continente (chinês). (...) O Vaticano nada está obtendo para os cristãos da Europa Oriental. (...) Se o Vaticano não pode proteger a religião, ele não tem muita razão para continuar no assunto. (...) Queremos permanecer fiéis ao nosso mandato, mas somos vítimas da repressão comunista. Sob tal aproximação (do Vaticano com a China comunista), nós perderíamos a nossa liberdade. Como chineses, temos que lutar por nossa liberdade."

A essas lúcidas e vigorosas observações, que lembram a "resistência em face" de São Paulo ante São Pedro (Galatas II, 11), o Prelado acrescentou a seguinte observação emocionante: "Há uma Igreja subterrânea na China. A Igreja na China sobreviverá, como os primeiros cristãos sobreviveram nas catacumbas. E isso poderia significar um verdadeiro renascimento cristão para os chineses."

O Cardeal defendeu também o direito de "lutar com armas" contra "a opressão", e conclui com esta frase empolgante: "Eu organizaria um verdadeiro exército, se pudesse, para proteger a Igreja."

* * *

Cito estas palavras do Purpurado chinês, não só pela autoridade de quem a pronunciou, como também para ressaltar uma coincidência digna de nota.

Mons. Yu Pin tem diante de si um panorama fundamentalmente diverso daquele que está habitualmente ante nossos olhos. O Arcebispo de Nanquim tem sua atenção concentrada especialmente na China, enclausurada por uma "cortina", a de bambu. Entretanto, o modo pelo qual o Purpurado chinês considera a atual política do Vaticano em relação aos regimes comunistas coincide com a análise feita pelo Cardeal-mártir, Mons. Mindszenty, sobre a mesma política em relação aos regimes detrás da cortina de ferro. E — permita-se-nos acrescentar — com a apreciação que, em sua recente declaração "A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas / Para a TFP: omitir-se? ou resistir?" a TFP fez sobre a linha de conduta do Vaticano em relação ao Chile de Allende, à Cuba de Fidel Castro, etc. São as mais diversas partes do globo, em que a política do Vaticano suscita, em pessoas da mais indiscutível fidelidade à Santa Sé, idênticos reparos.


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