Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

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3 de fevereiro de 1974

O que é a modernidade

O que é ser moderno? Gostaria que alguém me definisse, pois a confusão a respeito vai crescendo, à medida que a "modernidade" vai engendrando, com frenesi também crescente, paradoxos e contradições.

Por exemplo, adotar a filosofia estruturalista é, sob alguns pontos de vista, pôr-se na crista da onda da modernidade. Ora, o estruturalismo – com o celebérrimo Levi-Strauss à frente – preconiza, com toda a seriedade, como solução para os problemas de hoje, a volta a formas culturais e sociais do período pré-neolítico.

Mas se isto é ser moderno, então o conceito mais recente – e portanto mais "moderno" – de modernidade consiste em retroceder e não em avançar. E é moderno o homem que volta as costas ao progresso e caminha com passo resoluto para a pré-história.

Neste caso, é incompreensível porque um "sapo", contente com todas as extravagâncias engendradas pelo mundo de hoje, se julgue obrigado a declamar contra a tradição, e mais especialmente com a que nos vem da Idade Média, para sentir-se genuinamente moderno.

Pois se o rumo da modernidade é a volta ao mais remoto passado, o amor à tradição e ao passado seriam índices de modernidade. E esse retrocesso à Idade da pedra lascada teria de passar evolutivamente pela Idade Média.

Peço a algum leitor "moderno", que vitupera a TFP por seu pretenso caráter "medievalista", que me diga no que está errado este raciocínio.

Por certo, nós da TFP admiramos os valores perenes que – mais do que em qualquer outra época histórica – floresceram na civilização medieval. O que não importa em pleitear a restauração do que ela teve de contingente e passageiro.

Que um leitor "moderno" de uns cinco anos atrás nos censurasse por isto, era compreensível: também o erro tem sua lógica.

O que, porém, não é compreensível, é que o "homem moderno" de hoje aclame como super-modernos os restauradores da pré-história, e acuse de antiquados os que desejam conservar e desenvolver as tradições perenes que herdamos do passado e especialmente da Idade Média.

* * *

Essas reflexões me ocorreram a propósito de um recorte do "Jornal do Brasil", já um pouco velho (mas o que é "velho", dentro destas perspectivas desnorteantes?). Data ele de 9 de outubro passado. Transcrevo-o: "Aceitam o culto do Rei com entusiasmo e fervor, mesmo em suas vidas cotidianas. O respeito das pessoas pelas instituições é absoluto. São como garotos, capazes de realizar qualquer coisa que o governo ordene (...). Cantam e dançam em homenagem ao monarca"...

Pergunto se a sociedade assim descrita segue um figurino antigo ou moderno. Os leitores mais ciosos de sua modernidade darão uma gargalhada. – É claro – exclamarão – que se trata de um figurino arcaico. Perfeitamente medieval.

De minha parte, acho que só com restrições essa descrição poderia ser encaixada num panorama geral da Idade Média.

Mas esse leitor, que por certo reputará moderno o comunismo, o que me responderá se eu lhe disser que esse figurino é precisamente o do comunismo? E logo da variante comunista que muitos reputam mais moderna, isto é, a chinesa?

* * *

Entretanto, é esta a realidade. Substitua o leitor o nome "Mao" à palavra "Rei", que ali introduzi para efeito de testagem, e terá diante de si uma descrição entusiasmada da sociedade chinesa atual, feita num filme de Antonioni – "A China" – projetado nos cinemas de Paris.

Então, leitor moderno, o que entende por "homem moderno"? No que consiste a "modernidade"?

Nota: Os negritos são deste site.