Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

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1º de dezembro de 1974

Resistência, Tarancón e Casaroli

A Resistência levantada pela TFP à "Ostpolitik" vaticana se vai estendendo com êxito, das duas Américas para a Europa.

Assim, a Sociedade Cultural Covadonga, da Espanha, já distribuiu pelas ruas de Madrid e de outras cidades mais de cem mil exemplares da Declaração de Resistência das TFPs deste continente. Ao mesmo tempo, a "Hoja del Lunes", da capital espanhola, publicou no dia 11 de novembro p.p. o texto integral desse documento. Dado que este é o único periódico a ser publicado em Madrid às segundas-feiras, pode-se facilmente avaliar a larga difusão que assim teve a Declaração.

Como seria de prever, o resultado dessa difusão é duplo: aplausos e críticas. Estas últimas, furibundas e muito raras. Os aplausos, numerosos e não menos fogosos. Os telefonemas se multiplicaram surpreendentemente ao longo destes dias de campanha, na sede da Sociedade Cultural Covadonga. As cartas vêm afluindo em número impressionante. Sobretudo é animador o número de sacerdotes do Clero secular e regular que exprimem sua adesão. Um catedrático de conhecida Universidade mandou espontaneamente um extenso parecer justificando a Declaração do ponto de vista teológico e moral.

* * *

À vista desse quadro, a Democracia Cristã não poderia ficar calada. Controla ela o diário madrilenho "Ya", o qual se saiu – à maneira de revide – com uma nota cheia de acidez e evasivas. Não espanta, pois este é o conteúdo inevitável das réplicas publicadas por quem não tem como defender-se, e ao mesmo tempo não se resigna a ficar num desairoso silêncio.

A Sociedade Cultural Covadonga, baseada na lei de imprensa, pediu a "Ya" a publicação da adequada tréplica.

Em princípio, "Ya" é favorável ao diálogo. Esperavam, pois, os valorosos jovens de "Covadonga", que o diário pedecista lhes atendesse a fundada solicitação. Não se lembraram de que o diálogo democrata-cristão tem mão, e não contramão. Como é mundialmente sabido, ele é todo voltado para a esquerda. Para a direita, a Democracia Cristã só tem acidez e brutalidade. Os círculos anticomunistas da Espanha estão na expectativa, aguardando como a SCC agirá em face da situação criada pela recusa de "Ya".

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Tudo leva a crer que o Emmo. Cardeal Tarancón, Arcebispo de Madrid, sentiu a ineficácia da furibunda réplica de "Ya". Pois, cerca de dez dias depois de haver-se manifestado esse jornal, o Purpurado entrou em liça publicando um pronunciamento contra a Declaração de Resistência. Ao que nos consta, em seu documento o ilustre Prelado reconhece expressamente assistir a um bom católico o direito de discordar da política de Paulo VI. Porém considera que o exercício desse direito importa em deslealdade para com a Santa Sé. O direito de ser desleal... Tem graça!

Como o relato sobre a atitude de Mons. Tarancón só me chegou verbalmente, fico na esperança de que a informação não seja bem certa, e S. Emcia. tenha encontrado algo de mais substancioso a alegar. Oportunamente darei conhecimento dos dizeres de S. Emcia. aos leitores.

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Bem mais solerte é Mons. Casaroli, secretário do Conselho para os Assuntos Públicos do Vaticano. S. Excia. só fez uma superficial e fugidia refutação da Declaração de Resistência. E depois calou-se por largo tempo.

O desenvolvimento internacional da Resistência induziu, por fim, o ilustre Prelado – tão merecidamente intitulado o Kissinger vaticano – a romper, mais uma vez, o silêncio. Por isto declarou, há pouco, à agência "Europa Press": "A Santa Sé coopera com todos os homens que tenham opções úteis para a paz (...). Embora alguns acusem a Santa Sé de desequilíbrio nesta busca, o Vaticano jamais esqueceu o sentido da justiça social ou internacional. Por isto, a Santa Sé não se limita ao ensino, mas também se empenha em ações concretas, em casos de injustiça, ainda que em alguns momentos, esses tenham sido esquecidos". Como vê o leitor, trata-se de um confuso amálgama de subentendidos e evasivas.

A "Europa Press" prossegue: "Pelo que se refere à Ostpolitik vaticana, Mons. Casaroli fez ver que este ponto de vista não é seu, mas de Paulo VI". – O "ponto de vista" é o texto brumoso que acabamos de citar. Continua o despacho da "Europa Press": Mons. Casaroli "disse que é doloroso para o Santo Padre ser atacado e não poder defender-se publicamente, ao ver algumas de suas ações criticadas por uma parte ou por outra".

De São Pedro até nossos dias, os Papas habitualmente timbraram em defender-se. – Razões superconfidenciais? Por que, então, ao imolar o Cardeal Mindszenty, Paulo VI deixa a grande e gloriosa vítima numa completa ignorância dos altíssimos motivos que o teriam levado a desfechar esse golpe? Será que nem o Cardeal-Mártir merece confiança para conhecer o segredo partilhado entre Sua Santidade, Mons. Casaroli e o governo comunista de Budapeste?

São perplexidades a que, por certo. Mons. Casaroli não responderá, nem mesmo nesta época de diálogo pós-conciliar.

Nota: Os negritos são deste site.