Plinio Corrêa de Oliveira

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

 

 

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30 de dezembro de 1973

Inútil e contraproducente

A inutilidade da ONU era coisa conhecida por quantos acompanham com atenção a política internacional. Acaba ela, entretanto, de se tornar notória até aos menos enfronhados no assunto, pois o papel meramente decorativo – e oficialmente declarado tal – do sr. Kurt Waldheim, secretário-geral das Nações Unidas, na conferência de Genebra, equivale à proclamação, aos olhos de todos, da inutilidade do aparatoso organismo supranacional. Com efeito, a ONU existe para manter a paz. Declarado o conflito arabe-israelense, ninguém lhe solicitou os bons ofícios para por em entendimento as partes desavindas. E é fora dos quadros dela que as negociações de Genebra se desenvolvem. – Para que, então, a ONU?

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Ser ineficiente para a consecução de seu fim específico já é de si coisa muito triste para qualquer organização.

Mas a ineficácia não é o pior, para uma organização. Mais triste ainda é que ela se volte contra seu próprio fim. É o que acontece com a atuação da ONU no continente africano. Afirmo-o a propósito de recente resolução, na qual ela declara já não aceitar o governo de Lisboa como representante das províncias lusas de Ultramar, isto é, Angola, Moçambique e Guiné.

A ONU pratica, assim um ato de violência jurídica, pelo qual pretende conferir a independência àquelas três autênticas parcelas do território português. Ou seja, ela faz sua a causa dos guerrilheiros comunistóides que "proclamaram" recentemente a independência da Guiné portuguesa, e sopra a revolta nos sertões de Angola e Moçambique, onde bandos de comunistas procuram levantar as populações nativas contra os brancos. Assim, a ONU atiça a sedição, em benefício da Rússia.

Esse golpe, ela o desfere contra Portugal aproveitando com solércia o momento em que a nação lusa – por ter franqueado seus aeroportos aos aviões norte-americanos durante a guerra árabe-israelense – sofre, em alguma medida, as conseqüências da chantagem petrolífera movida pelos xeques do Golfo Pérsico, também eles movidos pelo Kremlin.

Em outros termos, encontramos a Rússia agressiva e imperialista, no fundo de todo o assunto. Tentando desvincular de Portugal os territórios de Ultramar, além de estimular a luta armada na África, a ONU serve de instrumento no grande ataque imperialista de Moscou contra o Ocidente.

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Mas, dirá algum leitor, não terão os negros das colônias portuguesas direito de separar-se de Portugal? A resposta salta aos lábios sob a forma de outra pergunta. Quem disse ao leitor que eles querem essa independência? Qual a prova de que os bandos insurgentes da África lusa representam a totalidade – ou pelos menos a maioria – dos portugueses de cor negra? Até agora, tal prova jamais foi exibida por ninguém. O que demonstra que ela não existe. Pois se existisse quanto teria sido trombeteada pela propaganda comunista, em todo o mundo!

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A nós brasileiros, o assunto interessa altamente. O atentado praticado pela ONU contra a unidade de Portugal fere todos os povos da comunidade lusa. E, ameaçando atirar as províncias portuguesas de Ultramar no mesmo regime de velado protetorado soviético em que se encontram os demais povos "descolonizados" da África, a ONU dá mostras de que vai passando de inútil a nociva. E o será cada vez mais, à medida que for deixando de ser manobrada em conjunto pelos EUA e pela Rússia, para se transformar em joguete manejado tão somente por Moscou.


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