Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

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28 de outubro de 1973

Vozes e sinos que emudecem

Outros assuntos de premente atualidade impediram-me, até o momento, de registrar com o devido encômio o discurso pronunciado na Câmara dos Deputados pelo sr. João Alves (Arena – BA), contra o controle da natalidade.

Depois de enérgica e merecida censura ao governo norte-americano pelo fomento que dá ao birth control, o parlamentar apontou as raízes materialistas e anticristãs da campanha contra o livre desenvolvimento da espécie humana, e concluiu muito acertadamente que, em determinadas circunstâncias, esta pode levar a "incruento e refinado genocídio".

Concluiu o sr. João Alves sustentando que a solução para o problema da fome não consiste em restringir a natalidade mas em ampliar a produção e a renda per capita, bem como adotar medidas "em favor do casamento e da família, que são a base da sociedade".

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Numa peregrinação a Telgte, na Renania-Westfalia, oito mil religiosas, médicos e enfermeiros protestaram contra um projeto de lei que visa a introdução do aborto na Alemanha Ocidental.

De uma edificante energia foi a afirmação do sr. Bispo de Munster, Mons. Tenhumberg: "Preferimos cerrar nossos hospitais, a tolerar uma lei contraria à ética".

Escreveu Camões que "um fraco rei faz fraca a forte gente". A contrario sensu, um forte Bispo pode incutir, pela palavra e pelo exemplo, notável valentia em seus diocesanos. Os peregrinos cercaram comunistas que distribuíam panfletos a favor do aborto, e destruíram esse ignóbil material de propaganda, aos brados: "Aborto é assassinato".

Magnífico!

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Pelo contrário, só temos a lamentar o fato noticiado há algumas semanas pelo "Jornal do Comercio", do Rio: o governo do Estado do Rio Grande do Norte continua distribuindo gratuitamente anticoncepcionais, como parte de sua política de planejamento familiar.

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Deliciosa e estimulante foi a cena ocorrida há dias na pequena cidade italiana de Calcata (no Lácio), na Província de Roma, ainda imbuída dos princípios tradicionais da Civilização Cristã.

Dois artistas de cinema – um homem e uma mulher – ali se apresentaram em estado de nudez completa, para serem filmados por um grupo de técnicos. A reação do pudor popular não tardou. Sentido-se justamente agredidos em sua moralidade, os habitantes da cidade se puseram ao encalço dos desavergonhados, pondo em fuga a atriz impudica e dando uma merecida surra, não só no homem nu, como aos técnicos incumbidos da filmagem.

Enquanto isso, por iniciativa do zeloso Pároco, o sino da igrejinha de Calcata soava em sinal de protesto.

Ah! se soassem todos os sinos das igrejas fronteiras a todas as praias, quando nestas se apresentam moças ou velhas de monoquini e biquíni, quantas consciências se alertariam, quantas pessoas seriam retidas nos bordos do precipício!...

Oh! a tragédia dos sinos que emudeceram, nas ocasiões em que deveriam soar, a tragédia das vozes que se calam, quando deveriam falar! E quanto pior ainda é a tragédia das vozes que dizem o que não deveriam dizer! Que negras e dolorosas páginas escreverão, a este respeito, daqui a cinqüenta ou cem anos, os historiadores da Igreja!

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Um exemplo concreto, sobre uma voz que diz o contrário do que deveria dizer:

Chegou-me recentemente às mãos um número do "The Herald of Freedom" de 17 de agosto. Narra a revista norte-americana que em fins de abril D. Helder pregou um retiro em Tucson, no Arizona, para sessenta sacerdotes. Das assertivas então feitas pelo Arcebispo vermelho, destaco esta: "Tanto o catolicismo quanto o marxismo estão progredindo na América Latina. Ambos têm muito que aprender um do outro (...). Nós deveríamos procurar em Marx as sementes da verdade, e os marxistas deveriam não apenas repetir o que Marx disse há cem anos atrás, mas o que ele diria se estivesse aqui, hoje".

Sem comentários.

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Com o devido respeito, não podemos deixar de apontar como voz que diz o contrário da verdade, a Rádio Vaticano, que em sua emissão de 27 de setembro p.p., comentou, com largo e irrestrito elogio, a morte do sociólogo brasileiro Josué de Castro.

Como todos sabem, era este uma das figuras mais destacadas da subversão no Brasil. Sua atitude facciosa no apreciar a realidade nacional tornou mesmo indispensável exilá-lo do País. Não se vê, pois, como possa a emissora vaticana ter elogiado os livros de Josué de Castro "nos quais a paixão e escrupulosa análise científica resultaram numa denuncia das condições de vida de milhões e milhões de homens nos países em desenvolvimento" (cf. "Jornal do Brasil", de 28-7-73).

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Ao escrever este comentário, pressinto o mal estar de certos leitores, aos quais parecerá irreverente. É que julgam com dois pesos e duas medidas.

Eles mesmos terão lido, provavelmente, o comentário do Cardeal Silva Henriquez, Arcebispo de Santiago, a recentes declarações de Paulo VI sobre a situação chilena.

Afirmou o pontífice que no Chile estão sendo feitas execuções "irracionais e desumanas", e a este propósito censurou a "cegueira e crueldade das armas homicidas empunhadas supostamente para restabelecer a lei e a ordem".

A tal respeito, o Arcebispo de Santiago não duvidou em dizer que Paulo VI estava mal informado por religiosos e religiosas que tiveram que sair do Chile (cf. "Folha de São Paulo" de 11-10-73 e 21-10-73).

Essa declaração do purpurado chileno nenhuma estranheza há de ter causado aos mesmíssimos leitores desagradados ante nosso comentário sobre o elogio irrestrito da Rádio Vaticana a Josué de Castro. É que estão habituados a achar bom tudo quanto o Cardeal Silva Henrique diz ou faz.

A verdade, entretanto, é que se Paulo VI pode estar errado no apreciar a situação concreta existente no Chile, a fortiori a Rádio Vaticana pode estar mal informada quanto à obra e a ação de um sociólogo brasileiro.