Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

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1º de outubro de 1972 

Pesadelo: dois eixos 

O resultado essencial da viagem de Nixon a Moscou só se consubstanciou com as recentes negociações do conselheiro presidencial Kissinger, na capital soviética. Trata-se da formação do eixo Washington-Moscou em torno do qual deverão girar todas as nações do Ocidente.

Quanto ao Oriente, está fora da órbita do novo eixo. De fato, a liquidação do império britânico e a retração do poderio naval yankee transformou a Ásia numa terra de ninguém. A Rússia estaria ávida de preencher o vácuo assim deixado. Porém, a China constitui para isto um obstáculo difícil de superar. Nessas condições realmente, a Ásia ficou sem dono.

- Não poderia a China aspirar ao controle da Ásia? Extensão territorial, população superabundante, apetite de conquista não lhe faltam. Mas, ser-lhe-á necessário ainda, para tão grande cometimento, um potencial industrial e bélico considerável. E o regime comunista não lhe deu nem uma nem outra coisa.

Assim, voltamos à mesma afirmação: a Ásia está sem dono.

Feliz Ásia!

* * *

A exemplo do que acontece com a Rússia soviética e os Estados Unidos, a China comunista só poderá desenvolver-se e alçar-se à condição de superpotência imperialista, com o concurso de uma nação capitalista de grande importância.

- Com efeito, sem o apoio de Washington, o que seriam hoje os donos do Kremlin, senão comandantes de um navio em franco inicio de naufrágio?

Ora, a única possibilidade de a China receber tal apoio de uma nação capitalista consistiria numa completa reformulação de suas relações com o Japão.

Segundo a ordem natural das coisas, nada seria mais impraticável. As violentas rivalidades entre os dois povos amarelos, agravadas pela implantação do comunismo na China tornaram intransponível a distância política entre os dois países. Pois o Japão se manifestou sempre cioso de evitar o contágio da lepra vermelha, Assim, beneficiado pelos EUA, reconstituiu ele seu poderio industrial, e se transformou na peça-mestra da política anticomunista de Washington, no Pacífico.

Tudo isto era natural, lógico e claro. Uma aproximação nipo-chinesa estava completamente fora das cogitações do Império do Sol nascente, firmemente fiel ao Micado, e dirigida por um governo conservador claramente majoritário.

Bem entendido, se a política interna do Japão resvalasse para a esquerda, haveria risco de uma mudança da situação, e de uma aproximação com Pequim. Mas nenhum sintoma havia de tal perigo.

Nixon, que se elegeu - e agora vai reeleger-se - como líder anticomunista, com um piparote inverteu, em favor do comunismo, essa magnífica situação. Por artes dele, o céu azul sobre o Extremo Oriente, se transformou num horizonte de catástrofe.

Com efeito, quando de sua estadia em Pequim, entregou resolutamente ao tigre chinês a ilha de Formosa, deixando assim bem claro que os EUA se desinteressavam de manter seu poderio no Extremo Oriente. O fato causou no Japão um trauma enorme. - Se as duas grandes potências do Pacífico se reconciliavam por cima dele, o que restava ao Japão fazer? Desistir dos recursos americanos para evitar a ira da China pobretona, mas ameaçadoramente próxima? Ou apoiar-se na China, renunciando resolutamente à rendosa preferência por Washington? - A alternativa cruel se punha, ao mesmo tempo, em termos comerciais e militares. Digo militares porque, com a defecção americana e o apoio de uma minoria esquerdista ponderável do Japão, a China estaria em condições de tentar no arquipélago nipônico uma guerrilha revolucionária capaz de transformar, pouco a pouco, o Japão num Vietnã... sem os americanos.

Na cruel alternativa, a balança talvez ainda pendesse para Washington. Mas Nixon - deliberado a desmantelar inexoravelmente o sistema anticomunista do Extremo Oriente - ainda desta vez favoreceu o jogo chinês. Em entendimentos diretos com Tóquio, fez saber que o Japão não perderia o apoio dos EUA no plano comercial, se se aproximasse resolutamente da China.

E, como era natural, no Japão, o derrapamento para a esquerda começou...

Como todos sabem, o gabinete conservador foi substituído por outro, de matiz esquerdista. O novo governo tratou, desde logo, de aproximar da China. E daí resultou a visita que o “premier” nipônico Tanaka está fazendo a Pequim.

Segundo os jornais desta semana, o programa da estada de Tanaka, comparando com o de Nixon, comporta diversos pormenores, que deixam ver, de modo ao mesmo tempo sutil e insolente, que a China atribuiu muito mais importância a Tanaka do que a Nixon. Tanaka, por sua vez, não cessa de manifestar sua humildade ante os anfitriões chineses. Em sua visita a Mao, reconheceu a "culpa" do Japão pela agressão à China, elogiou rasgadamente Chu, a hospitalidade chinesa e até a comida chinesa. E ainda compôs um poema sobre o reatamento com Pequim.

Tudo leva a crer que a visita redundará na formação de mais um eixo. O eixo Pequim-Tóquio.

- Nesse eixo qual o polo mole e qual o duro? - Não há dúvida de que a China e o Japão precisam um do outro. E por isso cada qual poderia disputar longamente a supremacia para si.

Mas há um dado que afetará forçosamente as regras dessa disputa. Tanaka é esquerdista. E a História ainda não viu o exemplo de um só governo esquerdista que, abandonado às suas próprias forças, tivesse deliberação, perspicácia e firmeza para resistir ao comunismo.

Tudo leva a recear que o polo mole seja - pelo menos "à la longue" - o Japão. Este se verá, em tal caso, compelido a industrializar a China, e isto feito, passará a ser peça acessória do sistema chinês.

* * *

Viu longe, assim, o jornal "Mainich" - conservador, note-se bem - quando, a propósito da visita de Tanaka, predisse a formação de um colosso amarelo coeso capaz de reivindicar a hegemonia da Ásia, sob o lema "a Ásia para os asiáticos"... Neo-monroísmo próprio a beneficiar o eixo Pequim-Tóquio como, a seu tempo, a doutrina de Monroe beneficiou principalmente os EUA.

* * *

Já a esta altura do comentário, os horizontes se dilatam.

- A Índia e o bloco maometano deixar-se-ão dominar pelo bloco amarelo? Até que ponto o eixo Tóquio-Pequim conseguirá explorar o apoio de Israel para comprimir entre dois fogos os árabes?

A pergunta comporta incertezas de toda ordem. Fixemos, entretanto, um ponto: não há a menor garantia de que, se a China souber jogar com habilidade, não possa tornar extremamente difícil, para os maometanos, a resistência aos seus desígnios imperialistas. E quanto à Índia, isolada, pouco valerá.

Não seria de surpreender que o eixo Washington-Moscou, entregue à tarefa de absorver o Ocidente, deixasse ao eixo Pequim-Tóquio mãos livres no Oriente.

* * *

Eis, assim, a política mundial, concebida em termos de "eixo". Depois da II Guerra, o mundo geme sob a ameaça, não só de um eixo, mas de dois. - Não parece um pesadelo?

- Dentro desse pesadelo, quais os interesses da Civilização Cristã? Quais os da família de povos ibero-americanos, em que a Providência colocou nosso Brasil?

Isto fica para outro artigo.


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