Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

26 de março de 1972

"Não, não e não"

Para o público brasileiro, os católicos ucranianos de rito bizantino estão longe de ser desconhecidos. Em nosso país, formam eles aglomerações simpáticas e trabalhadoras, particularmente numerosas em São Paulo e no Paraná.

Ademais, o Brasil recebeu, em 1968, a visita da figura máxima do rito ucraniano, isto é o Cardeal Slipyj. Detido durante dezoito anos nas masmorras da União Soviética, delas saiu em 1963, com a saúde abalada. Sua constância durante a terrível prova valeu-lhe, a justo título, uma como que antecipação da glória dos mártires. Logo depois de libertado, dirigiu-se ele a Roma, onde recebeu de Paulo VI o título de Arcebispo-Mor da Ucrânia, e posteriormente a púrpura cardinalícia. Mons. Slipyj empreendeu, em seguida, extensas viagens para tomar contato com os católicos de seu rito, esparsos por todo o mundo. Nessa ocasião, esteve em São Paulo, tendo recebido uma merecida homenagem na sede central da TFP.

Também visitou nosso país, embora há mais tempo, outro prelado ucraniano, Mons. Ivan Bucko, posteriormente elevado pela Santa Sé à dignidade de Visitador Apostólico dos ucranianos da Europa ocidental. Tive ocasião de o conhecer em Roma, em 1962, medindo então todo o calor de sua simpatia por nosso país.

Como é natural, a principal atenção desses pastores se volta para a porção mais perseguida de sua nação, isto é, a que permanece sob o jugo vermelho em território soviético. Assim, o Cardeal Slipyj tomou uma atitude admiravelmente enérgica contra o comunismo, no Sínodo dos Bispos, reunido em Roma, em 1971. A essa atitude fez eco favorável, pouco depois, o Sínodo dos Bispos Ucranianos.

Para o leitor brasileiro, é do mais alto interesse conhecer a posição de prelados tão bem informados, quer face ao "mito" de que o comunismo estaria atenuando suas posições quer face à "Ostpolitik" de Paulo VI, ou a de Willy Brandt.

A tal respeito, o arcebispo Mons. Bucko concedeu uma entrevista notavelmente lúcida e corajosa a "Deutsche National Zeitung" (24-12-71. Ano XXI, n.º 52), da qual transcrevo aqui os tópicos mais importantes.

Ouçamos, pois Mons. Bucko:

Deutsche National Zeitung — Os Bispos ucranianos rejeitam o comunismo e a política de aproximação com ele?

Mons. Bucko — Nós conhecemos em sua realidade todo o horror do bolchevismo, e por isto estamos livres de ilusões a respeito.

DNZ - Alguns crêem que o comunismo se tornou mais humano.

MB - No meu juízo, o comunismo em nada pode melhorar. Ele está se tornando cada vez pior. Odeia a Deus e quer aniquilar todas as religiões. Nada nele se tornou — como se afirma — mais liberal. O que Pio XII disse em sua Encíclica contra o comunismo é acertado: o comunismo é mau em sua essência e só existe para destruir (...).

DNZ - Excelência, como avalia a atual "Ostpolitik" da Santa Sé?

MB - Peço dispensar-me de responder a essa pergunta. Como o Sr. sabe, a Igreja é uma instituição divina. O Espírito Santo impede todos os erros de doutrina, pois a Igreja tem a garantia (da infalibilidade) prometida.

DNZ - Como julga a "Ostpolitik" de Willy Brandt?

MB - A "Ostpolitik" não é realista, pois toma como pressuposto um quadro totalmente errôneo do imperialismo soviético.

DNZ - V. Excia. acredita que o comunismo pode ser abrandado por transigências?

MB - Não, não e não. O comunismo deve ser combatido com as armas espirituais e com a Fé.

DNZ - Em que V. Excia. vê a força da União Soviética?

MB - Creio que na nossa fraqueza. Somos moles demais, o Sr. compreende? Precisamos nos estimular mais entre nós.

DNZ - Por que V. Excia não está mais na Ucrânia?

MB - Pio XII me enviou, em certa ocasião, para a América do Sul, para visitar a imigração ucraniana. Quando quis voltar, desta viagem, para a Ucrânia, o embaixador soviético disse: — "Jamais, jamais voltará para a Ucrânia".

Assim, fui exercer meu ministério de Bispo, por certo tempo, na América do Norte. Tinha sede em Nova York. Aí pude observar bem a propaganda comunista. (...) Mais tarde fui Visitador Apostólico na Itália, e depois na Europa ocidental. Em 15 anos de trabalho pude fundar Exarcados (assim se designam as Dioceses ucranianas) na Alemanha, Inglaterra, França, etc. Apenas não fundei um em Viena, pois os americanos disseram que "por causa de Bucko não travaremos guerra com os soviéticos".

DNZ - Na sua opinião, pode-se ainda fazer parar o desmoronamento da Igreja Católica ?

MB - O Espírito Santo não permitirá que as árvores cresçam céu adentro.

DNZ - V. Excia. dará algum dia o seu apoio à dominação soviética na Ucrânia?

MB - Nunca, nunca, jamais, pois o imperialismo soviético é um poder satânico, o qual não se pode apoiar.

DNZ - Quais são os Bispos que se opõem ao abrandamento do Catolicismo em favor do comunismo?

MB - Com certeza, a maioria. Mas muitos estão em caminhos errados, como D. Helder Câmara. Ele pensa que se pode colaborar com o comunismo, e isto não vai.

DNZ - Estamos hoje tão longe, que os comunistas e seus cúmplices afirmam que Cristo foi o primeiro comunista. Segundo sua concepção, pode-se chamar o Filho de Deus realmente de pai do bolchevismo?

MB - Evidentemente, não. Isto é uma blasfêmia monstruosa; uma tentativa de torcer as coisas e levar os fiéis ao erro.

DNZ - Nossos desejos mais sinceros e cordiais pertencem a V. Excia. Estamos satisfeitos de que personalidades como as de V. Excia. atuem na Igreja Católica.


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