16 de janeiro de 1972
Prece no sesquicentenário
Ó
Senhora Aparecida.
Ao
aproximar-se a data em que completamos um século e meio de existência
independente, nossas almas se elevam até Vós, Rainha e Mãe do Brasil.
Cento
e cinqüenta anos de vida são, para um povo, o mesmo que quinze para uma
pessoa: isto é, a transição da adolescência, com sua vitalidade, suas
incertezas e suas esperanças, para a juventude, com seu idealismo, seu
arrojo e sua capacidade de realizar.
Neste
limiar entre duas eras históricas, vamos transpondo também outro marco.
Pois estamos entrando no rol das nações que, por sua importância,
determinam o rumo dos acontecimentos presentes, e têm em suas mãos os
fios com que se tece o futuro dos povos.
AGRADECIMENTO
Neste
momento rico em esperanças e glória, ó Senhora, vimos agradecer-Vos os
benefícios que, Medianeira sempre ouvida, nos obtivestes de Deus
onipotente.
Agradecemo-Vos o território de dimensões continentais, e as riquezas que
nele pusestes.
Agradecemo-Vos a unidade do povo, cuja variegada composição racial tão
bem se fundiu neste grande caudal étnico de origem lusa — e cujo
ambiente cultural, inspirado pelo gênio latino, tão bem assimilou as
contribuições trazidas por habitantes de todas as latitudes.
Agradecemo-Vos a Fé católica, com a qual fomos galardoados desde o
momento bendito da Primeira Missa.
Agradecemo-Vos nossa História, serena e harmoniosa, tão mais cheia de
cultura, de preces e de trabalho, do que desavenças e de guerras.
Agradecemo-Vos nossas guerras justas, iluminadas sempre pela auréola da
vitória.
Agradecemo-Vos nosso presente, tão cheio de realizações e de esperanças
de grandeza.
Agradecemo-Vos as nações deste Continente, que nos destes por vizinhas,
e que, irmanadas conosco na Fé e na raça, na tradição e nas esperanças
do porvir, percorrem ao nosso lado, numa convivência sempre mais íntima,
o mesmo caminho de ascensão e de êxito.
Agradecemo-Vos nossa índole pacífica e desinteressada, que nos inclina a
compreender que a primeira missão dos grandes é servir, e que nossa
grandeza, que desponta, nos foi dada não só para nosso bem, mas para o
de todos.
Agradecemo-Vos o nos terdes feito chegar a este estágio de nossa
História, no momento em que pelo mundo sopram tempestades, se acumulam
problemas, terríveis opções espreitam, a cada passo, os indivíduos e os
povos. Pois esta é, para nós, a hora de servir ao mundo, realizando a
missão cristã das nações jovens deste hemisfério, chamadas a fazer
brilhar, aos olhos do mundo, a verdadeira luz que as trevas jamais
conseguirão apagar.
PRECE
Nossa
oração, Senhora, não é, entretanto, a do fariseu orgulhoso e desleal,
lembrado de suas qualidades, mas esquecido de suas faltas.
Pecamos. Em muitos aspectos, nosso Brasil de hoje não é o País
profundamente cristão com que sonharam Nóbrega e Anchieta. Na vida
pública como na dos indivíduos, terríveis germes de deterioração se
fazem notar que mantêm em sobressalto todos os espíritos lúcidos e
vigilantes.
Por
tudo isto, Senhora, pedimo-Vos perdão.
E,
além do perdão, Vos pedimos forças. Pois sem o auxílio vindo de Vós, nem
os fracos conseguem vencer suas fraquezas, nem os bons alcançam conter a
violência e as tramas dos maus.
Com o
perdão, ó Mãe, pedimo-Vos também a bênção.
Quanto confiamos nela!
Sabemos que a bênção da Mãe é preciosa condição para que a prece do
filho seja ouvida, sua alma seja rija e generosa, seu trabalho seja
honesto e fecundo, seu lar seja puro e feliz, suas lutas sejam nobres e
meritórias, suas venturas honradas, e seus infortúnios dignificantes.
Quanto é rica destes, e de todos os outros dons imagináveis, a Vossa
bênção, ó Maria, que sois a Mãe das mães, a Mãe de todos os homens, a
Mãe Virginal do Homem-Deus!
Sim,
ó Maria, abençoai-nos, cumulai-nos de graças, e mais do que todas,
concedei-nos a graça das graças. Ó Mãe, uni intimamente a Vós este Vosso
Brasil.
Amai-o mais e mais.
Tornai sempre mais maternal o patrocínio tão generoso que nos
outorgastes.
Tornai sempre mais largo e mais misericordioso o perdão que sempre nos
concedestes.
Aumentai vossa largueza no que diz respeito aos bens da terra, mas,
sobretudo, elevai nossas almas no desejo dos bens do Céu.
Fazei-nos sempre mais amantes da paz, e sempre mais fortes na luta pelo
Príncipe da Paz, Jesus Cristo, Filho Vosso e Senhor nosso.
De
sorte que, dispostos sempre a abandonar tudo para lhe sermos fiéis, em
nós se cumpra a promessa divina, do cêntuplo nesta terra e da
bem-aventurança eterna.
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* *
Ó
Senhora Aparecida, Rainha do Brasil! Com que palavras de louvor e de
afeto Vos saudar no fecho desta prece de ação de graças e súplica? Onde
encontrá-las, senão nos próprios Livros Sagrados, já que sois superior a
qualquer louvor humano?
De
Vós exclamava, profeticamente, o povo eleito, palavras que amorosamente
aqui repetimos:
— “Tu
gloria Jerusalem, tu laeticia Israel, tu honorificentia populi nostro”.
Sois
Vós a glória, Vós a alegria, Vós a honra deste povo que Vos ama.
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* *
A
perspectiva do sesquicentenário sugeriu esta prece a meu coração de
brasileiro. Resolvi não adiar sua publicação. Espero retomar na próxima
semana o assunto que começara a desenvolver no domingo passado.