Janeiro de 1979 - Almoço oferecido
pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e
Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do
diretor do jornal, Octávio Frias
29 de
agosto de 1971
Enquanto baixa a poeira, um alarido se levanta...
Depois do estrondo publicitário organizado em escala mundial para
prestigiar a viagem do presidente Nixon à China, a poeira vai baixando
lentamente. E assim se torna possível discernir uma série de
descontentamentos nos Estados Unidos.
Consigno aqui fatos que — creio — em sua grande maioria não chegaram ao
conhecimento de todo o público brasileiro.
As
principais personalidades e organizações direitistas saíram às ruas e
lançaram campanhas nacionais de protesto contra a viagem de Nixon. Uma
característica dessas campanhas é que ressaltam, explícita ou
discretamente, o fato de que essa viagem de Nixon não só constitui uma
capitulação dos Estados Unidos no Extremo Oriente, como abre um diálogo
bobamente pacifista com as superpotências, potências, e republiquetas
comunistas pelo mundo a fora.
Eis
alguns dos pronunciamentos ou campanhas mais importantes:
*
Wallace, governador da Geórgia, declarou numa concentração de cerca de
30 mil pessoas num estádio de Atlanta, que a América, saberá se defender
contra seu presidente, o qual a quer entregar aos chineses. Wallace foi
aplaudido de pé pela assistência (citado em Circular da John Birch
Society, agosto de 1971).
* O
governador da Califórnia, Ronald Reagan, republicano que vinha apoiando
Nixon, declarou, a propósito da política externa do atual governo, que
"agora os verdadeiros republicanos já não têm a quem apoiar" ("Review of
the News", Belmont, Massachussets, 18-8-71).
*
Goldwater e outros senadores e deputados considerados da direita
passaram a fazer violentíssimos discursos no Senado e na Câmara contra
Nixon e seu diálogo com a China ("Review of the News", 11-8-71).
* Uma
delegação de 16 senadores e deputados partiu para Taipé a fim de
hipotecar solidariedade a Chiang Kai-shek (boletim "China News", do
governo de Formosa, agosto de 1971).
* A
subcomissão de segurança interna do Senado norte-americano divulgou
dados sobre as vítimas do comunismo chinês. O relatório, que foi
preparado pelo Instituto de Estudos Internacionais da universidade de
Carolina do Sul e publicado logo após o anúncio da viagem do presidente
Nixon à Pequim, calcula que de 34 a 36 milhões de chineses foram mortos
diretamente em conseqüência da implantação do comunismo na China ("Folha
de S. Paulo", 13-8-71).
* O
jornal republicano "Manchester Union Leader", o maior de New Hampshire,
dirigido pelo amigo pessoal de Nixon, William Loeb, classificou a viagem
do presidente à China de "imoral, indecente e louca", e afirmou que ela
"representa um enorme perigo para a sobrevivência dos Estados Unidos"
(edição de 6-8-71).
* Os
jornais da cadeia Scripps-Howard declararam que a maioria das cartas por
eles recebidas sobre a viagem de Nixon à China eram contrárias à mesma
(artigo do Prof. Medford Evans em "Review of the News", 18-8-71).
* O
conhecido escritor católico, Pe. Stephen Dunker, C. M., que passou
vários anos preso na China, deu uma entrevista coletiva à imprensa em
Boston, dizendo que há vinte anos ele estuda a situação política
chinesa, pelo que pode afirmar que a política de Nixon é sumamente
perigosa, e provavelmente servirá para encorajar ainda mais a oligarquia
que oprime aquele país. "Nixon disse que não pode mais ignorar os 700
milhões de chineses. Muito bem. Mas quem foi que demonstrou ao
presidente que esses 700 milhões de chineses apoiam a ditadura
sanguinária de Mao Tsé-Tung? Eu posso demonstrar o contrário", concluiu
o sacerdote ("Press release" de julho de 1971 da Cardinal Mindzenty
Fundation).
*
Medford Evans, escritor especializado em temas comunistas, no referido
artigo da "Review of the News", resumiu sua oposição à viagem de Nixon
nos seguintes termos:
"Temos lutado na guerra do Vietnã todos estes anos (e cito a guerra só
para mencionar o exemplo mais óbvio) por nenhuma outra razão senão a de
resistir à agressão comunista no Sudeste Asiático. Lutamos na Coréia
exatamente pela mesma razão. Hoje, o governo de Mao Tsé-Tung e Chu
En-lai não é menos comunista, nem se mostrou menos agressivo do que
antes, e até muito pelo contrário: seus desafios são mais explícitos do
que nunca. E apesar disso, hoje, nosso presidente faz uma abertura na
qual suplica a nosso inimigo mais declarado — e não arrependido — que
aceite sua amizade".
* Um
grupo de personalidades conservadoras norte-americanas publicou nos
principais jornais do país um manifesto rompendo com o presidente por
sua "abertura à China comunista, feita na ausência de qualquer concessão
deste país à causa ocidental". O manifesto também se refere à
deterioração da força militar norte-americana e à falta de ação de Nixon
para responder à altura o desafio soviético no Mediterrâneo e no Oriente
Médio. Os signatários se declaram, ainda, contrários à aproximação dos
Estados Unidos com as nações comunistas da Europa. E, finalmente,
terminam informando que estão em contato com numerosas outras pessoas
que se opõem à política presidencial, e que "será iniciada uma série de
consultas para delinear os meios de fazer valer seus protestos de forma
efetiva".
Entre
outros signatários do manifesto figuram o Partido Conservador, o
Conselho Industrial do Sul dos Estados Unidos, William Buckley e o
"staff" da "National Review", o famoso escritor Frank Meyer, o distinto
e conhecido Pe. Daniel Lyons, SJ., diretor do jornal católico "Twin
Circle", e os diretores de dez jornais do interior do país ("Review of
the News", 11-8-71).
* A
organização universitária conservadora Young Americans for Freedom
iniciou uma "vigília cívica" em frente à Casa Branca, a durar até o dia
da viagem de Nixon à China. Grupos de jovens se revezam 24 horas por dia
em frente ao palácio do governo, carregando cartazes com dizeres como
"Nixon vá para casa (go home) e não para a China". A população dos
arredores do palácio tem enviado alimentos e bebidas para os jovens que
participam da vigília. A referida organização está distribuindo nas
universidades e escolas, um milhão de exemplares de um manifesto de
personalidades conservadoras contra a política exterior de Nixon ("Twin
Circle", Denver, Colorado, 25-7-71).
* A
John Birch Society iniciou duas campanhas simultâneas: 1) Um
abaixo-assinado monstro contra a viagem de Nixon à China e contra todo
comércio dos Estados Unidos com os países comunistas (essa organização
espera coletar pelo menos dois milhões de assinaturas em um mês); 2) Uma
pressão popular sobre a imprensa, senadores e deputados, e o próprio
presidente da nação, contrária à viagem. A John Birch Society pede que o
maior número de pessoas escreva ou telegrafe para o presidente Nixon e
para os senadores e deputados, bem como para jornais e revistas, pedindo
que a viagem não se realize (Circular de agosto de 1971).
* O
jornal "Human Events" de Washington está publicando uma série de artigos
relatando como Mao conquistou a China por meio de uma seqüência de
traições ("Review of the News", 18-8-71).
* A
revista "American Opinion" de Belmont, Massachussets (julho de 1971),
reproduziu do jornal "The Sidney Sun", da Austrália, interessante
relatório de um grupo de homens de negócio ingleses que visitaram a
China. Nesse relatório são narradas as violências e barbaridades
inimagináveis praticadas pelos comunistas contra a população chinesa.
* A
Liberty Lobby, organização política de direita, fez uma publicação no
estilo "livro branco" sobre as atrocidades cometidas pelo regime
comunista chinês. A revista "Liberty Lowndown", da mesma entidade,
dirigida por oficiais da reserva, publicou um editorial contra a viagem
(edição de julho de 1971).
* A
poderosa federação sindical norte-americana AFL-CIO, criticou Nixon por
sua viagem à China, considerando-a "um gesto publicitário que nada de
bom poderá produzir". Ataca o ingresso da China na ONU considerando-a
"uma ditadura que privou o povo de todas as liberdades" ("O Estado de S.
Paulo", 12-8-71).
*
Outras organizações ou publicações que se pronunciaram contra a viagem:
o Partido Conservador de Nova York, a American Conservative Union (com
influência no Sul), a revista "Battle Line" e a Free Asia Association.
Ao
mesmo tempo que fatos como estes se vão multiplicando de mar a mar, no
imenso território norte-americano, o número de manifestações de apoio à
viagem de Nixon vão caindo, fanando e envelhecendo. Baixa a poeira
propagandística dos primeiros dias. E enquanto isto, o alarido dos
protestos se levanta...