Mil
episódios históricos há que confirmam essa máxima. Napoleão, por
exemplo, obtinha vitórias militares tão espetaculares que extinguiam nos
adversários qualquer desejo de resistir.
Dois
povos houve, entretanto, aos quais nenhuma catástrofe militar conseguiu
alquebrar a determinação de levar a luta até o fim. Por isto,
desgastaram e aniquilaram o poder do Corso. Como todos sabem, esses
povos foram o espanhol e o russo.
Assim, não causa espanto que princípio tão fundamental já muito
anteriormente a Clausewitz tenha sido enunciado. Quinhentos anos antes
de Cristo o escritor chinês Sun Tse, discorrendo sobre as "Regras da
Arte Militar", asseverou que "um general competente sempre sabe a arte
de humilhar o inimigo sem travar combate, de capturar as cidadelas sem
desembainhar a espada; ele conhece a arte de conquistar territórios sem
neles penetrar".
* * *
Como
é natural, os militares e os políticos soviéticos, eles também, têm
presente esse princípio, e o aplicam largamente na guerra psicológica
que movem contra o Ocidente.
Sendo
um dos melhores métodos para tirar a um adversário a determinação da
luta, persuadi-lo da inutilidade da resistência, uma imensa propaganda
se desenvolve de polo a polo, nos países não comunistas, visando
inculcar-lhes que a vitória do marxismo é uma fatalidade histórica.
Essa
tese é sustentada de modo claro e radical por todos os doutrinadores
comunistas. Mas, assim enunciada categoricamente, não alcança ela senão
uma pequena penetração no espírito público. É que o comunismo assusta,
causa horror em numerosos setores da opinião pública.
Bem
sabem disto os ocupantes do Kremlin. E por isto usam em sua ofensiva
alguns outros meios — e bem mais sutis. Um deles, o mais generalizado,
consiste em difundir nos ambientes que chamaria de pré-comunistas —
demo-cristãos, progressistas, socialistas e congêneres — a convicção de
que as multidões contemporâneas, e especialmente os operários e
universitários, são arrojadamente e irreversivelmente esquerdistas. Nada
lhes pode resistir ao ímpeto vitorioso. E, em conseqüência, o mundo de
amanhã será totalmente esquerdista.
No
que esse vago esquerdismo se distingue do comunismo ou com ele se
identifica, não o diz a propaganda. Mas fica subentendido que o impulso
do proletariado e da mocidade para a esquerda só encontrará seu ponto
terminal quando desfechar na plenitude da esquerdização. Ora, falar em
plenitude da esquerdização importa em designar — um pouco veladamente —
o próprio comunismo. Protegida apenas por esse pequeno disfarce, a tese
derrotista penetra assim em jornais, rádios e televisão que temeriam
perder sua clientela se falassem claramente na inelutabilidade de uma
vitória do comunismo.
A
contrário senso, uma campanha anticomunista eficiente tem de destruir o
mito da inelutabilidade da esquerdização. Pois assim se preserva nos
anticomunistas a determinação de lutar. E a tarefa não é difícil, pois
essa inelutabilidade não passa de uma balela.
* * *
Três
fatos recentes o provam de sobejo. Certos noticiários internacionais
apontavam, há pouco, a situação italiana como das mais explosivas. O
crescimento impressionante das esquerdas e especialmente do comunismo,
estava a pique de impor um governo de coalizão com o PCI. Realizaram-se
as eleições provinciais: os resultados provaram que tudo não passava de
terrorismo publicitário, e a força das diversas correntes políticas
permanecia praticamente inalterada.
Muito
maior foi a zoeira derrotista espalhada na Inglaterra pela propaganda
trabalhista. O "bluff" chegou a tal ponto que mesmo na imprensa
conservadora transparecia uma profunda apreensão quanto ao resultado das
eleições que se aproximavam. As empresas de sondagem de opinião as mais
provectas e antigas, como o Gallup, previam uma folgada vitória do "Labour".
O resultado deixou o mundo inteiro atônito. Venceram, e folgadamente,
não os trabalhistas mas os conservadores...
Harold Wilson decidira pedir à Rainha a convocação do eleitorado,
receoso de que, de futuro, outras condições tão boas não se
apresentassem para que o trabalhismo enfrentasse as incertezas de uma
eleição. Para acrescer possibilidades de êxito de seu Partido, incluiu
ele no corpo eleitoral todos os jovens entre 18 e 21 anos que até aqui
não votavam. Pois, apesar de tudo, o resultado foi uma derrota
flagrante. Os votos dos jovens — supostos todos esquerdistas e
contestatários — não trouxeram ao "Labour" a vantagem esperada.
Tão
grande foi a surpresa geral ante o vigor do conservadorismo britânico,
que um colunista político do jornal londrino "Evening Standard" chegou a
afirmar, depois do pleito, que os institutos de sondagem de opinião
estavam desacreditados.
Fato
igualmente esclarecedor se passou na Alemanha. Como se sabe, o
primeiro-ministro de Bonn, Willy Brandt, está promovendo entendimentos
dos mais imprudentes e censuráveis com a Alemanha Oriental e a Rússia.
Em
recentes eleições que abrangeram três unidades federativas, com cerca de
50% do eleitorado, o povo infligiu uma derrota ao partido de Willy
Brandt, que importou numa clara repulsa à sua política pró-mundo
comunista. O SPD governista, perdeu votos nos três Estados, enquanto o
PDC (na Alemanha menos indigesto do que em todo o resto do mundo)
melhorou sua posição nos parlamentos provinciais.
Particularmente digna de nota é a circunstância de que os Estados em que
ocorreram as eleições são os mais industrializados. Pois as imensas
concentrações operárias que ali existem votaram contra a aproximação com
o comunismo.
* * *
Sirvam estas reflexões para mostrar que as multidões de nossos dias não
são os paióis de pólvora que a propaganda descreve. Muito pelo
contrário.
Isto
provado, no que fica o mito da inelutabilidade do comunismo? Em
frangalhos...
É o
que é necessário por bem claro aos olhos do Ocidente, que se vai
deixando morrer porque lhe persuadiram de que não consegue sobreviver!