Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

17 de agosto de 1968

 Das páginas da imprensa para as da História – I

 Depois de uma longa série de brilhantes vitórias, o progressismo sofreu dois reveses dos quais dificilmente se recuperará. Trouxe-os o mês de julho.

O abaixo-assinado da TFP, lançado no dia 17 de julho, foi alcançando desde logo totais robustos, que faziam prever o milhão atingido em 30 dias, e a soma ainda mais impressionante para a qual marchamos. Estava provado, à evidência, que incontáveis brasileiros não aceitam os rumos para os quais os quer atrair o progressismo.

A manifestação dessa atitude coletiva produz um inevitável esvaziamento de substância ideológica num movimento que, pelos imperativos de sua lógica interna, vê em sua sincronia com o homem moderno um dos mais preciosos títulos de sua autenticidade.

A este esvaziamento ideológico corresponde uma perda de elã em seu proselitismo. O movimento progressista se nutre de uma vasta periferia de pessoas de mentalidade otimista e entusiasmável, que não sabem resistir à atração daquilo que as grandes multidões unânimes aclamam como óbvio, moderno e indiscutível. De seu lado, os recrutadores do progressismo têm clara preferência para o uso de slogans e argumentos que só têm vida nesta atmosfera de modernidade triunfante. Desfeita a miragem da unanimidade compacta, inaugurada a polêmica com suas exigências de análise fria e de reflexão prolongada, a atenção das periferias do progressismo rapidamente se fadiga, seu entusiasmo se fana, e elas passam a pensar em outras coisas. Por sua vez, os slogans do progressismo – que têm algo de "ingênuo" e, por assim dizer, de primaveril – perdem sua força de contágio quando lançados na tempestade grandiosa das controvérsias. E os propagandistas do progressismo se vêem privados do ambiente favorável. Em suma, o surto do movimento se torna lento, emperrado, difícil.

Não quer isto dizer que o cerne do progressismo morra. O progressismo cria em seus adeptos incondicionais o hábito de ilusões agradáveis, às quais é penoso renunciar, mesmo à vista dos mais ponderáveis argumentos. Mas os cernes de movimentos ideológicos, privados de suas periferias, entram facilmente em regime de mal entendido com o público, o que produz neles azedume, desânimo e infecundidade de ação.

Estes efeitos em série, desencadeados no progressismo pelo abaixo-assinado da TFP, foram acentuados por outro evento, também ocorrido em julho. Foi a ostensiva verificação de que o progressismo não era o rebocador pequeno, dinâmico e prestigioso, a levar atrás de si, passivamente, a grande mole – que parecia inadvertida – do Episcopado e do Clero.

Ocorreu este segundo revés do progressismo na reunião da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizada no Rio entre os dias 15 e 20 de julho, e se desdobrou depois em publicações da imprensa e debates da televisão.

O panorama a que estava habituada a grande maioria dos brasileiros era o de uma Igreja com suas raízes deitadas no mais profundo na alma do povo, da qual cada vez mais o progressismo se ia tornando dono. E, assim, ia rapidamente conquistando o Brasil. Mais uma visão de otimismo e vitória para os progressistas a lhes tornar propício o ambiente para os slogans caracteristicamente ousados e "candidamente" juvenis.

Olhando as coisas de perto, é claro que essa visão não se justificava senão em parte. Nunca faltaram nas fileiras do Episcopado vozes como as de um d. Geraldo de Proença Sigaud, um d. Antônio de Castro Mayer ou um d. José Maurício da Rocha, a se levantarem prestigiosas e desassombradas contra a investida progressista. Mas, por falta de publicidade, estas vozes estavam longe de alcançar a ressonância merecida. Para a maior parte do grande público era como se não existissem.

Ao progressismo parecia dado tudo fazer e empreender – e por vezes até falar em nome de toda a Igreja – sem sofrer, da maioria, repulsa nem contradita que chegasse ao conhecimento do grande público.

A primeira centelha a pegar fogo nessa tela rutilante mas enganadora foi a carta em que o arcebispo de Diamantina e o bispo de Campos denunciaram ao cardeal Rossi, não só o escrito subversivo do pe. Comblin, mas ainda os múltiplos pronunciamentos eclodidos aqui e acolá em meios católicos, a provar que as idéias do professor do Instituto Teológico de Recife formavam a expressão sistemática e arquetípica de erros já bem difundidos em nosso meio.

A esse documento, publicado na imprensa no dia 7 de julho, sucedeu a bela carta em que 19 membros do Episcopado asseguravam ao marechal Costa e Silva o propósito de leal colaboração com os Poderes Públicos e expressavam seu repúdio à "multiplicidade dos pronunciamentos esquerdistas emanados de meios católicos" que pareciam dar a impressão de constituir "uma opinião generalizada entre bispos, sacerdotes e leigos".


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