18 de
abril de 1978
No
Brasil e na China
Este
será um artigo "sui generis": não uma dissertação sobre um só tema, em
moldes clássicos, mas um confete de informações sobre fatos diversos,
acompanhado cada qual de um "minimum" de comentário.
A
nota comum de toda a matéria consiste em que ou o fato ou o comentário
não foi divulgado entre nós. Desses fatos, quase todos se referem à
China comunista. Precedendo a essas notícias de tão longe, dois
comentários sobre notícias de casa. Bastante divulgadas, é certo. Mas
que estavam a pedir rápida glosa.
1. O
resultado inesperado das eleições francesas – tão discrepante do que
prognosticavam os institutos de sondagem da opinião pública – demonstrou
ao mundo inteiro que, em nossos dias, as verdadeiras aspirações
populares são em geral interpretadas de modo equivocado ou tendencioso.
Não
precisamos, aliás, olhar para tão longe, a fim de nos certificarmos
desse fato.
Junho
de 1977: está iminente a provação do divórcio pelo Congresso Nacional.
Nos meios católicos há quem fale em pedir um plebiscito, na esperança de
que o povo repudie essa catastrófica medida. Um zunzum circula logo:
sobretudo não se fale em plebiscito, pois a derrota da indissolubilidade
era provável, e redundaria em desprestígio ainda maior para a Igreja.
Quanto ao público, presencia apático os debates.
Por
fim, o divórcio é aprovado. Nas galerias da Câmara, superlotadas, uma
algazarra se faz. É para aplaudir o senador N. Carneiro, na superfície
dos fatos o responsável maior pelo acontecido. Comentário geral: o povo
queria mesmo o divórcio.
Promulga-se a lei. Por toda parte se preparam os cartórios a fim de
receber as massas de pedidos de divórcio que se prevê entrarão logo
depois.
Na
realidade, o número de pedidos é pequeníssimo. Desapontamento geral nos
arraiais divorcistas.
A
apatia popular era apenas... apatia. Essa apatia inexplicável com que os
povos "absorvem" hoje o que querem e o que não querem.
Mas o
pequeno número de divórcios prova que, de fato, o povo não desejava a
reforma pleiteada pelo senador baiano. O povo? Digo pouco. Até os casais
insatisfeitos, mal constituídos, atormentados (segundo muitos
imaginavam) pelo vínculo conjugal, em sua grande maioria, mesmo esses
não queriam o divórcio. Isto significa mais do que o plebiscito que
tantos temiam.
Estamos às vésperas de uma reunião do episcopado brasileiro em Itaici.
Já que os senadores e deputados divorcistas alegaram como principal
argumento para a supressão do vínculo conjugal a vontade popular, o
episcopado dispões agora de uma arma formidável para pedir ao Congresso
a revogação da medida: a grande razão dos divorcistas inexiste.
Fa-lo-á a CNBB?
Ou,
como nas reuniões anteriores, porá toda a tônica em promover a luta de
classes?
2.
Estou para comentar, já há tempo, a forte e saudável lição de bom senso
que nosso público ficou a dever a "Joãozinho Trinta", da Escola
Beija-Flor, tricampeã do carnaval carioca.
Acusada essa Escola de esbanjar dinheiro
no último certame carnavalesco, Joãozinho Trinta revidou com uma
frase lapidar. Li-a nas próprias colunas da "Folha de São Paulo":
"Povo gosta é de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual".
É bem
isto. O povo se regozija com todas as pompas. Tem o senso do
maravilhoso. É certa formação demagógica que leva muito intelectual a
declamar contra o luxo, na suposição de assim agradar o povo.
Por exemplo, quanto se engana a corrente "miserabilista" que, para
tornar a Igreja popular, minguou, depois do Concílio, e fez fanar as
pompas religiosas.
Se os
fautores dessa corrente tivessem pelo menos o bom senso de Joãozinho
Trinta...
3. E
passemos para a China que, segundo certa publicidade, é um modorrento
lago, a estagnar indolentemente sob a tirania comunista.
Como
é errada essa impressão. Uma notícia, que me chega um tanto atrasada (“Free
China Review", Taiwan, maio de 77) mas conserva para o Brasil o frescor
do inédito, dá conta de que, segundo o "premier" de Formosa, Chiang
Ching-Kuo, há 183 organizações anticomunistas de vários tipos operando
na China continental. Em 1976, haviam realizado 1866 levantes e atos de
sabotagem.
Trágicos estertores de uma grande nação inconformada. Convém que os
conheça a opinião nacional.
4. O
mesmo número do "Free China Review" cita uma informação dada pelo pe.
Angelo Lazzarotto ao jornal italiano "L’Avvenire": há seis bispos
católicos nas prisões da China vermelha, e três outros sob prisão
residencial.
Pensa
o leitor que o Vaticano ignora esse fato? Obviamente não. Por que então
silencia a respeito?
5.
Merece toda atenção a notícia publicada pelo semanário católico dos EUA
"The Wanderer" (1-9-77):
O
bispo chinês Joseph Cheng Tien-siang, de Kaoshiung, declarou em Memphis,
EUA, que "há muito menos direitos humanos para o povo hoje na China
comunista do que na Rússia e em outros países dominados pelo comunismo".
"No
continente chinês, hoje, a Igreja está total e radicalmente destruída". Segundo alguns padres e leigos que escaparam do país, "os sacerdotes
são mortos ou colocados em prisões ou campos de trabalho forçado". "Mas
muitos permanecem escondidos e celebram a Missa clandestinamente".
O
bispo não sabe avaliar quantos dos três milhões de chineses católicos
que havia antes da revolução comunista, praticam ainda hoje a sua Fé.
O
bispo chinês concluiu dizendo que "eles (os comunistas) deixaram uma
igreja aberta em Pequim... para enganar os turistas autorizados a irem
lá".
6.
Apesar da política das autoridades de Hong Kong, de enviar de volta os
fugitivos do continente chinês, continuam a chegar à colônia britânica
uma média de dez a quinze fugitivos do comunismo por dia. A informação é
do colunista Jay Matheus, do "Washington Post".