"Folha de S. Paulo", 28 de agosto de 1977
De Norte a Sul, todo o Brasil conhece — graças, em larga medida, à ação abnegada e destemida das caravanas da TFP — as atitudes assumidas por esta entidade e por mim, face à Ostpolitik vaticana e à aproximação entre esquerdistas e católicos no mundo inteiro.
Até aqui não houve quem, mesmo entre os que discordam dessas nossas atitudes, lhes negasse dois predicados, os quais são condições essenciais da dignidade especifica de quem escreve para o público: força na argumentação e respeito na linguagem.
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Tenho prazer em lembrá-lo nas páginas da "Folha" para cujos leitores há anos escrevo. Estão eles em condições especialmente propícias para atestar, no que me diz respeito, a procedência desta afirmação. Nas páginas da "Folha" também, porque nelas deparei ontem com um artigo vazio de lógica e transbordante de exacerbação, escrito contra a TFP e contra mim, pelo bispo auxiliar de São Paulo d. Benedito Ulhoa Vieira.
Pela veneração que tributo à dignidade episcopal, ter-me-ia alegrado que esse artigo — por mais contrário que fosse a posição da TFP e minha — reluzisse de lógica e de respeito ao contendor, prolongando assim em nossos torvos dias as magníficas tradições do Episcopado católico.
No artigo do Sr. d. B. Ulhoa Vieira nada disto notei. Sua acrimônia se manifestou tão extrema que deveria ser tida por exagerada, ainda quando fossem procedentes as infundadas acusações que nos atirava.
"Tudo que é exagerado é insignificante", sentenciou Talleyrand.
É porque me abstenho de maiores comentários sobre o artigo do prelado.
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Procedo assim com gosto, pois outro tema, mais atraente, me convida.
Imagino o leitor que percorre o presente artigo. Está ele tranqüilamente sentado em uma poltrona de sua casa ou de seu escritório. Ou então viaja apressadamente num ônibus, num automóvel ou num avião. Quer descanse na serenidade do lar, quer vá para o trabalho ou esteja a caminho do weekend, quer pertença ele à grande, média ou pequena burguesia, ou seja um operário amigo de ler e interessado nas coisas da religião e da pátria, vive ele, em via de regra, uma existência organizada, laboriosa mas tranqüila.
Que margem de tempo e de atenção consagrou ele nesses dias à leitura do noticiário sobre o Dia do Soldado? Qual a amplitude, em seu coração, do apreço e do reconhecimento que tem por nossas Forças Armadas?
Ocorre ao leitor que as condições em que vive, ele não as teria se, nos anos de 1960 até aqui, as Forcas Armadas não estivessem empenhadas em uma luta indômita contra a agressão à mão armada e a guerra revolucionária psicológica que Moscou move ao Brasil?
Dar-se-á conta o leitor do que seriam a injustiça, a opressão e a miséria, nas quais estaria imerso, se esses brasileiros valorosos não se tivessem exposto ao metralhar cruento dos vermelhos, como ao metralhar incruento — porém não menos cruel — de tantos meios de comunicação social infiltrados pelo comunismo.
No momento em que todos relembramos com emoção os feitos dos grandes soldados lendários do passado, manda a justiça que não esqueçamos a ação, mais meritória em certos aspectos, dos soldados do presente, a agressão contra a qual lutam não oferece talvez oportunidade para os lances de beleza clássica da guerra convencional. Os inimigos com que se defrontam, nem atuam às claras, nem são colegas com os quais, nos intervalos da guerra, se honrem de entrar em contato. Pelo contrário, são inimigos agindo na sombra, os quais é preciso descobrir e enfrentar nos antros e nos porões.
Mais ainda, são contendores que manejam a arma mais terrível da propaganda, perseguem o adversário com sarcasmos e calúnias, e exploram até o frenesi erros ou lapsos aos quais dificilmente escapa o humano agir.
Risos? Sarcasmos? Há heroísmo em enfrentá-los?
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Li não há muito as memórias do príncipe de Bullow, a um tempo o maior chanceler e quiçá o maior adversário de Guilherme II. Narrando a participação que tivera, quando jovem, na guerra de 1870 contra a França, referiu ele um episódio sintomático. Seu regimento galgava uma montanha defendida pelo fogo cerrado dos franceses. A fim de se resguardarem os alemães avançavam em ziguezague, e se dobravam com freqüência. Isto dava uma impressão grotesca, acentuada pelas aparentes reverências ao adversário. O oficial que os comandava ordenou-lhes então que avançassem como se estivessem em terreno plano e raso. E, receando que o instinto de conservação levasse seus homens à desobediência, encarregou-os de lançar chacotas em alta voz contra os companheiros que desobedecessem. Na alternativa entre a chacota dos compatriotas e o fogo dos adversários, os soldados optaram pelo fogo...
Agiu bem o oficial? Não sou eu mesmo oficial, e portanto deixo a resposta a cargo dos especialistas. E' certo, porém, que o chefe teuto mostrou ser um psicólogo sagaz. Mais bravura há, por vezes, em enfrentar a chacota do que o fogo. E, no caso concreto da ação anticomunista dos militares brasileiros, se pelo menos tivessem que enfrentar só a chacota...
Sobreleva notar que os heróis desta nobre luta — à qual a Igreja, quando liberta da "fumaça de satanás", saberá um dia fazer justiça — na sua grande maioria são homens que vivem em condições modestas, dando seus magníficos serviços por bem pagos com uma remuneração apenas suficiente, e sobretudo com a nobre alegria — que tão poucos compreendem — sim, a nobre alegria de servir. Servir o Brasil. Servir a civilização cristã, sem a qual o Brasil deixaria de ser brasileiro.
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"Dignum et justum est, aequum et salutare" — assim rezavam as palavras milenares da liturgia católica: é coisa digna e justa, eqüitativa e salutar, prestar honra a quem a merece.
Para isto convoco o prezado leitor, beneficiado por esses bravos que se dedicam a garantir, para cada brasileiro, um lugar ao sol.